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sábado, 24 de setembro de 2011

PARALAMAS DO SUCESSO - SELVAGEM 25 ANOS

Olha, poucas bandas nacionais fizeram com que eu prestasse atenção em alguns trabalhos, atenção quer dizer ouvir minuciosamente, composição, arranjos e etc. Tenho a dizer que poucas bandas de reggae me chamaram a atenção quando comecei a realmente a prestar atenção no reggae, as duas principais aqui do Brasil foram Jualê de Toninho Crespo e Nômade de Rica "Caveman" que mais se aproximavam da sonoridade do que eu estava ouvindo e adquirindo de música jamaicana. Falar a verdade achava um tanto descompromissadas - politicamente falando as músicas do Paralamas, e com o tempo até que gostei de algumas letras de Herbert Viana, mas o disco Selvagem tenho sim uma cópia e tenho sim um apreço pelos arranjos e da forma que foram feitas na época, e olha que eu não publico tantas resenhas de discos nacionais das antigas como esse. Bom, ouvindo o disco hoje realmente ainda o considero um tanto malemolente e daria uma acelerada no pitch e uma engordada no baixo, mas é bom pra gente ter parâmetro do que foi em 86 e do que é hoje o reggae no Brasil, considero esse disco o mais influente dentre tudo o que Brasil produziu de reggae. E fica a pergunta: mudou muito a sonoridade das bandas de reggae nos dias de hoje? Eu penso que não.

João Barone, baterista do Paralamas  escreveu sobre o disco para o encarte do show no Sesc, no ínicio do ano:

"No final de 1985, estávamos ensaiando no apartamento da saudosa Vovó Ondina, local emblemático do começo dos Paralamas. Num intervalo, Herbert resolveu mostrar o esboço de uma nova composição, quando fez um preâmbulo sobre a estranheza que poderia causar. Sua expectativa era explicável. Ao longo desse ano movimentado, que começou com o Rock in Rio e terminava com uma turnê com até dois shows por noite, Herbert chamava para si toda a responsabilidade pelo que seria o próximo passo da banda. O cara do óculos vermelho de bermuda em breve se defrontaria com o desafio de superar suas marcas anteriores, começou a aguçar sua inspiração e por as mãos a obra. Para ele, era preciso arriscar mais, fugir do óbvio. Para isso, até operou os olhos e se livrou dos óculos, sua marca registrada. No segundo LP, a banda criou e afirmou uma assinatura sonora. Mas e agora? Isso lhe tirava o sono... Tanto que no final de outubro de 85, quando tive um acidente de carro em Porto Alegre, Herbert sentiu-se culpado por desejar que algo extraordinário acontecesse para frear nossa agenda...

"Foi assim que durante um pequeno recesso em que eu estava de perna engessada (o que não nos impediu de participar de um show em homenagem aos 20 anos de carreira de Gilberto Gil mesmo assim!), Herbert começou a maturar algumas composições novas, inspiradas no mergulho profundo que fizemos no reggae e na música africana. Bi Ribeiro teve papel determinante nisso, pois comprava todos os discos de reggae e afro que podia, nos apresentando toda hora coisas interessantíssimas que iam além das obviedades, como Mutabaruka, Dr. Alimantado, um tal de Yellow Man, Papa Wemba, Salif Keita, King Sunny Adé, para citar alguns poucos. Neste caldeirão também foram adicionadas doses de João Bosco, Gonzaguinha, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Novos Baianos e Gil. Viajando tanto pelo Brasil, vimos e identificamos como a música negra havia se aclimatado aqui, especialmente na Bahia e fizemos o que alguns críticos entendidos explicaram depois como uma 'contra-diáspora negra', até chegarmos em Londres, via Angola com escala em Kingston. Para nós, descobrimos um Brasil brazuca, vira-lata. Caímos na real muito antes do Plano Real.

"Quando Herbert fez suspense pra mostrar pela primeira vez apenas com sua guitarra a melodia de canção que se tornaria conhecida como 'Alagados', não precisou de tantos volteios. O que gerou tal estranheza foi a semelhança da música - ainda sem letra - com um samba enredo."

"'E aí, gostaram?', perguntou Herbert. 'Parece um samba!', disse Bi, entreolhando pra mim, quando exclamamos em uníssono: 'do caralho!'. Isso pareceu aliviar Herbert. O bom astral resultante desse primeiro momento evoluiu na forma de uma demo que o Herbert gravou num porta-estúdio (na época, eram pequenos gravadores cassete de quatro canais), quando nos mostrou a canção bem perto do formato conhecido, já com a letra e uma beat box primitiva marcando o tempo. Dali a pouco, estaríamos entusiasmados com várias ideias de músicas que renderiam o repertório do próximo álbum, quando ainda tocávamos no apartamento da Vovó Ondina em Copacabana. Um fato marcante nesse momento foi uma foto que se destacava, entre outras, colada na parede do quarto de ensaio, onde aparecia o irmão do Bi, Pedro, estilizado como um índio na frente de uma barraca num acampamento nos tempos de Brasília. Quase que complementando a estranheza que o novo repertório que estávamos compondo poderia causar aos diretores de nossa gravadora - que deveriam estar esperando uma sequência de 'Óculos' ou 'Meu Erro' - Herbert olhou para aquela foto um tanto engraçada e rindo, disparou: 'que tal a gente por ESSA foto na capa do próximo álbum?'. Deu no que deu.

"No lado conceitual, estava pronto 'Selvagem?", que ainda recebeu um ponto de interrogação para tentar aumentar mais a estranheza de seu título. Na época, não planejamos um levante estético, estávamos apenas dando linha ao nosso ideal um tanto incosequente de fazer o que nos dava na telha. Mas tínhamos noção do contraponto que escolhemos, frente ao modelo anglo-saxão tão usado pelos artistas de nossa geração e de algumas bandas que despontavam na época. Nos destacamos da paisagem, como se tivéssemos nos pintado de verde-limão fosforescente. No lado prático, quisemos nos garantir de que a aventura seria ao menos bem registrada: convidamos Liminha para produzir o álbum, ele ouviu as demos, gostou e topou trabalhar com a gente. Convidamos Gil para cantar em 'Alagados' e que ainda compôs 'A Novidade'. No estúdio, gravamos usando a percussão de Marçal, Liminha tocou guitarras e teclados, usamos ecos e efeitos de dub à la Lee Scratch Perry. Os vídeos de Roberto Berliner para 'Alagados' e 'A Novidade' terminaram de explicar tudo para quem ainda não havia entendido a proposta.

"Vinte e cinco anos depois, não mudaríamos uma nota de nada que foi feito"



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