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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

MARVEL ENCONTRA ORIXÁS: UM ARTISTA BRASILEIRO ESTÁ TRANSFORMANDO DEUSES AFRICANOS EM SUPER HERÓIS


Oxalá, o criador do universo, do artista Hugo Canuto.
Pense em 'O Vingadores', a série de quadrinhos da editora americana Marvel sobre um grupo heterogêneo de super-heróis que se unem para proteger o mundo das forças do mal. Agora, imagine se na década de 1960, os criadores Jack Kirby e Stan Lee tivessem encontrado inspiração para Os Vingadores na mitologia Ioruba. Em vez do Homem de Ferro, teríamos o guerreiro Oxaguian. Tomando o lugar de Thor, deus nórdico de olhos azuis e cabelos loiros, estaria Xangô, igualmente forte e de pele negra, o governante da justiça - que por acaso também carrega um martelo. O Homem-Formiga, com seu comando de insetos, dá lugar a Ossain, que por sua vez é o rei da floresta, o feiticeiro e conhecedor dos segredos das plantas. E quem é o Capitão América em comparação com Ogum e sua espada, sempre sedento de batalha?

Era exatamente isso que o artista brasileiro Hugo Canuto, aos 30 anos, tinha em mente quando, em agosto de 2016, reimaginou a capa clássica Nº4 dos Vingadores, substituindo todos os personagens famosos por Orixás, as divindades das afro-modernas religiões brasileiras cujas origens remontam à Nigéria e Benin. Hugo é um fã de longa data da Marvel e dos quadrinhos e também nasceu em Salvador, onde vive uma das maiores populações afro-brasileiras do país.

Ele chamou o título de seu spin-off de “Os Orixás”, misturando português e inglês propositalmente, diz ele. E um dia depois de Jack Kirby ter completado 99 anos se ainda estivesse vivo, ele postou sua homenagem no Facebook.

Depois de receber um feedback positivo dos amigos (a autoria da publicação é amiga pessoal do Hugo), logo criou outra capa Os Orixás, desta vez com o deus Xangô.

O projeto começou quando Canuto recriou a clássica capa de quadrinhos de
Os Vingadores, com os Orixás como super-heróis. Imagem de Hugo Canuto.
Então, foi um estrondo. Muita gente entrou em contato elogiando a ideia de trazer esses personagens para o universo dos quadrinhos”, disse Hugo ao Global Voices. Em novembro, ele decidiu tentar a sorte com o crowdfunding (vaquinha on line), na esperança de arrecadar 12 mil reais (2.331,00 mil dólares na cotação de hoje 22.12.2020) para produzir duas histórias em quadrinhos da série que chamou de “Contos de Òrun Àiyé” - que significa céu e terra em ioruba.

A ideia de um mash-up entre a estética pop dos quadrinhos americanos e os mitos religiosos da África era tremendamente popular e, em uma semana, a meta de financiamento foi alcançada. Com mais dinheiro do que o esperado, Hugo, um arquiteto formado que deixou um emprego estável no serviço público em 2015 para seguir sua paixão pelos quadrinhos, teve que pensar apressadamente em maneiras de expandir o projeto. Convidou dois veteranos profissionais da banda dos quadrinhos, Marcelo Kina e Pedro Minho, para o ajudarem na produção. A equipe, então, melhorou a qualidade do material, o número de páginas e os retoques finais, além de definir melhores recompensas para quem contribuísse.

(No momento dessa publicação); A campanha arrecadou mais de 40.000 reais (7.771 dólares). Enquanto pôsteres, cada um com um orixá diferente, estão sendo vendidos em uma base contínua, o dinheiro financiará uma tiragem de dois gibis de 90 páginas, cada um apresentando uma história diferente inspirada no Itan - a coleção de mitos, histórias e canções sobre os Orixás.

De acordo com Hugo, tudo será publicado de forma independente, sem editoras estabelecidas envolvidas por enquanto.

Os Vingadores, mas da Bahia

O Brasil estava no centro do comércio transatlântico de escravos impulsionado por portugueses, tanto antes como depois da independência brasileira em 1822. A Bahia, onde os colonos portugueses desembarcaram pela primeira vez em 1500, recebeu sozinha mais de 1,3 milhão de escravos, vindos principalmente da África Centro-Ocidental e do golfo do Benin.

Seus rituais e crenças sobreviveram a 300 anos de trabalhos forçados e violência extrema. Essas crenças agora se manifestam por meio das religiões afro-brasileiras modernas como o Candomblé e a Umbanda, que são um amálgama de várias tradições de diferentes etnias africanas, especialmente os iorubas, mas também os Fon e os Bantu.

Para quem nasceu e foi criado na Bahia, a influência africana na nossa cultura vai além do religioso. Afeta nossos hábitos, nossa fala, nossa comida. Faz parte da nossa identidade”, afirma Hugo. “Foi isso que me deu muita vontade de produzir uma história inspirada na cultura afro-brasileira”, completa.

Xangô, o rei da justiça.

Oxum rege todas as águas doces, rios e cachoeiras.

Oxóssi, o rei caçador.
Mas apesar de estarem tão enraizadas na cultura baiana, as religiões afro-brasileiras ainda são pouco compreendidas pela maioria da população brasileira - muitas vezes enfrentando estigmatização e até perseguição por cristãos evangélicos radicais.

Para Hugo, um dos pontos principais do projeto é celebrar essas narrativas religiosas que sobreviveram ao tempo e à distância e se tornaram um aspecto tão importante da cultura brasileira:

"Acredito que é necessário valorizar um dos pilares do Brasil, que infelizmente ainda sofre com discriminação e preconceitos. Acredito que o público entendeu essa ideia, pois temos muitos depoimentos de professores que falaram sobre o tema levando as artes para seus alunos, ou brasileiros vivendo no exterior que desejam apresentar esse aspecto do país. Sejam eles adeptos ou não das religiões de matrizes africanas, há um interesse imenso."
As religiões africanas fornecem muito material para uma história de super-herói. Como Santeria e Voodoo em outros lugares, o Candomblé reconhece uma série de divindades. Eles são conhecidos como Orixás, que governam as forças da natureza e da humanidade. Todos os Orixás - que somam mais de mil, considerando as práticas tanto nas Américas quanto na África - têm qualidades humanas, lutam entre si pelo poder, cometem erros e se apaixonam.

Para o primeiro gibi, Hugo diz que o personagem central será Xangô, o deus da justiça. Segundo a mitologia, Xangô castiga mentirosos, ladrões e malfeitores. Teve também, em diferentes momentos, três esposas, também orixás: Iansã, Oxum e Obá.

Canuto, que morava em São Paulo na época em que se inspirou para fazer o gibi, voltou para a Bahia para pesquisar o projeto. “Mergulhei nos estudos dos Orixás, não só lendo livros de autores renomados como Pierre Verger, Edson Carneiro, José Beniste e Reginaldo Prandi, mas também visitando terreiros [casas de oração de candomblé] e conversando com líderes religiosos. Tudo porque quero fazer isso com o maior respeito e cuidado.

Ossain, governante de poções e remédios.

Iansã rege ventos e tempestades.

Yemanjá, regente das águas do oceano, mãe de todos os Orixás.


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