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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A ECONOMIA DE MARCUS GARVEY - O DESENVOLVIMENTO PAN AFRICANO

Marcus Garvey
Há uma geração desconectada, desde que Garvey e a Nação do Islã, (essa geração atual) que tem estado brincando completamente nas mãos de sua própria opressão, ignorando a economia. O mito de que a pobreza é a piedade na revolução levou a uma revolução que perdeu para seu próprio mecanismo de libertação; impraticável e destinada ao fracasso. A revolução é um privilégio para o alimentar o bem, quem pode se concentrar as suas preocupações para além de uma existência da mão-à-boca, de quem pode resistir as bugigangas e permanecer fiel à missão além da tentação. O sucesso financeiro também significa ter o rendimento disponível para comprometer-se a grandes projetos públicos, que incorporam e consagram valores de libertação. Como então é o mito de um revolucionário, com uma metodologia legítima da pobreza na revolução? Como é revolução, quando ela aperta os grilhões da escravidão? Como é que pode nunca ser uma experiência mais autêntica de luta, quando ela não consegue alcançar os objetivos da luta - o fim da pobreza (culturalmente, espiritualmente e materialmente). - AHS

Marcus Garvey dirigiu o maior movimento massificado entre afro-americanos na história dos Estados Unidos.


Seu sucesso fenomenal veio em um momento em que a confiança afro-americana foi baixa, e o desemprego era considerado um modo de vida. Garvey se aproveitou destas condições para construir o impulso para a sua causa.

Enquanto suas realizações e controvérsias em todo o mundo têm sido analisados ​​por numerosos estudiosos (Rogoff e Trinkaus, 1998), este trabalho investiga os pensamentos econômicos de Marcus Garvey. Especificamente, ele visita a abordagem capitalista de Garvey para o desenvolvimento econômico dos afro-americanos nos Estados Unidos. Foi sugerido por W.E.B. DuBois (1940) que os empreendimentos comerciais de Garvey falharam devido a incompetência e inaptidão econômica. No entanto, o plano de Marcus Garvey para o capitalismo afro-ameriano foi uma enorme contribuição, porque suas malfadadas empresas de negócios se tornaram o modelo processual e conceitual para futuras realizações, no desenvolvimento econômico afro-americano.

Um povo sem o conhecimento de sua história passada, origem e cultura é como uma árvore sem raízes. - Marcus Garvey


Booker T. Washington

Auto-suficiência Econômica


Em 23 de março de 1916, depois de se corresponder com Booker T. Washington, Garvey chegou aos Estados Unidos para se conectar ao seu movimento, para o movimento de (Booker T.) Washington em Tuskegee, Alabama (Stein, 1986). No entanto, Washington morreu antes de Garvey chegar. Stein (1986) observou que Garvey veio para os EUA num momento em que uma nova ordem econômica foi ancorada para a prosperidade americana. Um aumento na varredura em inovações tecnológicas, de técnicas de produção em massa e novas máquinas, aumentaram a produção americana em 13 por cento, enquanto, consequentemente, reduziu a força de trabalho em 8 por cento. Os lucros foram subindo com um aumento de 29 por cento, e na produtividade do trabalhador foi complementada por um aumento de apenas 4,5 por cento dos salários reais. Sindicatos africano-ameriano organizados estavam sofrendo como o poder dos capitalistas americanos que aumentou.

Garvey tinha admirado a abordagem e posse do negócio de Washington em direção à autossuficiência. Ele concordou que outras formas de avanço seguiriam o desenvolvimento econômico. No entanto, ele viu uma falha na abordagem de Washington. Especificamente, ele acreditava que incidindo principalmente sobre o avanço empresarial, o indivíduo não seria suficiente para promover o desenvolvimento da comunidade, por causa de motivos de lucro individuais, que impediria o avanço do grupo. A fim de promover os interesses coletivos dos afro-americanos, Garvey procurou usar a tomada de decisão coletiva e participação nos lucros do grupo. Assim, Garvey criou uma versão nacionalista do programa económico de Washington, que resultou na organização massiva apoiado por milhões de afro-americanos (Allen, 1969).

Garvey acreditava que os afro-americanos eram universalmente oprimidos, e qualquer programa de emancipação teria de ser construído em torno da questão da raça. Em sua mente, os afro-americanos que aspiram a posições de influência, se tivessem oportunidades educacionais, iria colocá-los em concorrência direta com a estrutura de poder branco. No entanto, ele acreditava que dentro de 100 anos, essa posição levaria a conflitos raciais que seriam desastroso para eles (Sertima, 1988). Por isso, sua teoria da separação racial nasceu. Era um estratagema para garantir a auto-suficiência e da igualdade para a raça africana oprimida, mas não sublinhar a superioridade racial. Garvey declarou:

O negro é ignorada hoje simplesmente porque ele se manteve para trás; mas se ele fosse tentar se elevar a um estado superior no cosmos civilizado, todas as outras raças ficariam felizes em conhecê-lo no plano da igualdade e camaradagem. - Marcus Garvey (Martin, 1976)

A urgência que sentia pela independência racial e autoconfiança, existiu porque ele acreditava que os afro-americanos, sofreram em face da enorme superioridade econômica e poder do mundo branco. Ele pensou que eles deveriam se esforçar para primeiro construir uma base industrial sólida, e o sucesso consequente permitiria que os afro-americanos moldassem o seu próprio destino.


 
Poucos meses depois de sua chegada nos Estados Unidos, Garvey começou a pesquisar a posição econômica dos afro-americanos. Ele escreveu:

O auge da empresa do negro americano ainda não foi atingido. Você ainda tem um longo caminho para percorrer. Você quer mais lojas, mais bancos e grandes empresas. - Marcus Garvey (Martin, 1976)

Garvey pensava que precisavam inovar e criar uma nova ideologia, que se encaixam às suas necessidades. Ele não estava falando somente sobre o capitalismo, mas a criação de uma situação econômica onde eles poderiam maximizar os seus interesses econômicos. Em suma, ele estava falando sobre o desenvolvimento econômico.Garvey comparou as comunidades afro-americanas subdesenvolvidos aos países subdesenvolvidos. Ambos são frequentemente explorados, com condições desfavoráveis ​​de comércio e desemprego elevado. Depois de estudar o trabalho do Dr. Robert Love, um porta-voz que organizou os negros na Jamaica, Garvey percebeu que o dinheiro dos impostos pagos pelos afro-americanos, muitas vezes acabam por apoiar os interesses econômicos fora de suas comunidades (Lewis, 1992). Por isso, ele procurou usar os dólares dos impostos, para fazer compras e de apoiar os empreendedores afro-americanos. Dinheiro gasto pelas suas escolas, hospitais e serviços urbanos deveriam ir para empresários afro-americanos, para a criação de um mercado garantido que haveria sempre uma demanda para seus produtos e serviços. Ao dirigir a receita fiscal de volta para a economia, Garvey acreditava que isso iria fomentar o desenvolvimento econômico, sem a necessidade de grandes somas de investimento privado. Portanto, um máximo de retorno para o dinheiro dos impostos seria recebido pelas comunidades (Haddad e Pugh, 1969).



Promoção do espírito empresarial Africano americano de Garvey


Depois de vir para a América, Garvey foi capaz de usar sua extraordinária personalidade para convencer os afro-americanos a investir. Estes investimentos econômicos capitalistas, foram possíveis por causa das palavras poéticas de Garvey de nacionalismo e os sonhos de voltar a África. Na verdade, Garvey foi capaz de levantar grandes somas de dinheiro, para investir em empreendimentos de capital de risco. Foi através desse capitalismo, que Garvey queria alcançar a autossuficiência econômica para afro-americanos. Ele acreditava que a proteção contra a discriminação viria através de independência financeira. Uma vez que uma base econômica forte fosse construída, eles poderiam buscar outros objetivos políticos e sociais. Ele acreditava que essas realizações materiais por meio de esforço empresarial, permitiria afro-americanos a serem igualmente reconhecidos. Deve-se notar que esta filosofia pode ser extraído a partir de Casely Hayford's Gold Coast Leader (Stein, 1986).

Garvey acreditava que o comércio e a indústria foram os adereços da vida econômica do Estado, comunidade e sociedade como um todo. Nações progressistas se aplicaram no comércio e indústria, e estas atividades previstas ocuparam os que residiam no estado. Você era ou um empregador, um empregado, ou estaria sob a guarda do Estado, e um homem sem o seu próprio negócio ou formação especializada, ficava sempre em desvantagem em ganhar a vida. Grande riqueza é feita de comércio e indústria. Na opinião de Garvey, os afro-americanos que tentaram entrar no negócio, comercial ou industrial, estavam em desvantagem, porque não podiam apreciar a partir de um ponto e subir as escadas. Enquanto outras raças começaram na parte inferior, e escalaram seu caminho para cima, afro-americanos sempre desejavam começar no topo, resultando em fracasso. Garvey disse: "Nenhum sucesso nunca chegou a partir do topo, é sempre de baixo para cima. Ele nunca será um fator industrial ou comercial, até que ele aprendeu os princípios de sucesso comercial e industrial."

Sem comércio e indústria, um povo perece economicamente. O negro está perecendo, porque ele não tem um sistema econômico. - Marcus Garvey (Martin, 1986)

Duse Mohammad Ali
Em 1912, Garvey foi a Londres e estudou com Duse Mohammad Ali. Ali era um historiador e autor, e trouxe à luz a situação dos afro-descendentes em todo o mundo. Sua influência moldou os discursos de Garvey, e o levou a organizar a Universal Negro Improvement Association (UNIA) na Jamaica em 1914 (Vincent, 1971). Tem sido sugerido que o lema UNIA, "Um deus, uma meta, um destino", foi originado por influências islâmicas de Duse Ali em Garvey (Rashid, 2002). Sua abordagem empresarial de negócios para a autossuficiência econômica, espelhado nos esforços de Booker T. Washington, nos Estados Unidos.

Garvey procurou se encontrar com Washington para descobrir como melhorar o sistema educacional da Jamaica. Depois de chegar nos Estados Unidos, o seu propósito mudou quando ele organizou um braço da UNIA em Nova York. Ele queria criar empresas comerciais de propriedade afro-americana que lhes proporcionam um rendimento adequado. Entre 1918 e início dos anos 1920, os esforços de Garvey estabeleceram uma série de empresas na UNIA.
Garvey aspirava desenvolver uma linha de transporte internacional que o transportasse passageiros e mercadorias entre a América, a África e as Antilhas. Ao desenhar sobre a mentalidade fique-rico-rápido na forma especulativa dos afro-americanos, ele foi capaz de persuadir os investidores a comprar ações de uma nova empresa de transporte. Consequentemente, a Black Star Line (BSL), a corporação de navio a vapor foi incorporada em 1919. O projeto foi capitalizado exclusivamente por afro-americanos. Compras individuais foram limitados a 200 ações ao preço de cinco dólares cada. No primeiro ano da empresa, investimentos em ações de capital chegou a cerca de US $ 750.000 (USD 7.825 milhões de Dólares em 2002).


A posse (da empresa) afro-americana, deu aos adeptos de Garvey um sentimento de orgulho e esperança para retornos prósperos. Eventualmente, a BSL comprou três navios. Infelizmente, a empresa não foi capaz de negociar um preço justo no mercado para os navios, com traficantes se aproveitando, e cobrou preços inflacionados para o capital severamente depreciado. Estas compras superfaturadas esgotaram os fundos da BSL, e contribuiu para a sua eventual falência. Em 1922, os navios foram perdidos e a empresa entrou em colapso. A BSL tinha perdido mais de USD 600 mil, e contas a pagar ultrapassaram os USD 200 mil. Nunca houve quaisquer dividendos pago, e o valor dos ativos de investimento da BSL tinha desvalorizado completamente. No entanto, a BSL foi o primeiro empreendimento comercial em larga escala financiado e gerido por afro-americanos. Ele ainda continua a ser uma das maiores empresas de propriedade afro-americana na história dos EUA. Deve-se ressaltar que as bases para as perdas financeiras da BSL, refletiram problemas de mercado que assolaram toda a indústria. A indústria de transporte era em uma recessão ampliada pelo excesso de capacidade de navios de transporte após a Primeira Guerra Mundial. Muitas empresas de transporte não foram capazes de recuperar os seus custos variáveis ​​e, consequentemente, encerraram as operações de negócios.

Para cumprir o objetivo de aumentar o empreendedorismo, em 1919 a UNIA estabeleceu os Negroes Factories Corporation (NFC) incorporada em Delaware como 200.000 ações, que foram oferecidas por USD 5 por ação (Lewis, 1992). O seu objetivo era promover o empreendedorismo afro-americano nos grandes centros industriais, fornecendo capital de investimento e conhecimento técnico. A empresa ajudou no desenvolvimento de mercearias, restaurantes, uma lavanderia a vapor, uma loja de chapéus, um alfaiate, uma loja de costura, e um negócio de publicação. Garvey encorajou e estabeleceu através da NFC uma fábrica, que produziu os primeiros bonecos afro-americanos. No plano de Garvey, cada empresa individual seria cooperativamente propriedade de membros da UNIA, e eventualmente, ligada a um sistema mundial de cooperação econômica, que simulava uma economia planificada socialista (Lewis 1992). Esta comunidade comercial seria suficientemente grande para que as economias de escala geradas lhe permitissem prosperar, mesmo em face da hostilidade do resto do mundo. Garvey resumiu essa ideia: "Os produtores Negros, distribuidores Negros, consumidores Negros! O mundo dos negros pode ser auto-contido Nós desejamos sinceramente, lidar com o resto do mundo, mas se o resto do mundo não desejar, nós não procuramos." (Martin, 1976). Embora estes investimentos empresariais, fossem em sua maior parte não bem sucedida, eles se tornaram uma base econômica sólida para futuros empreendimentos de negócios afro-americanos.

A autossuficiência econômica foi mais importante na lista de Garvey, porque ele previu uma depressão que ele pensou que iria prejudicar gravemente os afro-americanos (Lewis e Bryan, 1991). Consequentemente, as tentativas de Garvey para estabelecer a autossuficiência econômica foi além da cooperação entre empresas. A UNIA também atuou como uma agência de serviço comunitário, através do pagamento de (seguro contra) morte e outros benefícios menores para os membros. divisões locais foram obrigados a manter um fundo de caridade com o objetivo de ajudar os membros em dificuldades, ou pessoas carentes da raça. Um fundo de "empréstimos de honra" para membros ativos, e um bureau de emprego para ajudar os membros que procuravam emprego, também foi estabelecido (Martin, 1976).

Garvey no Capitalismo


Os pensamentos de Garvey sobre o desenvolvimento econômico, o levou a considerar os seus pontos de vista do capitalismo e do comunismo. Ele considerou o capitalismo ser necessário no processo de desenvolvimento humano, mas expressou dificuldade com os resultados de seus usos desenfreados. Ele comentou: "Parece estranho e paradoxal, mas o único amigo conveniente do trabalhador negro, ou (qualquer) trabalhador tem na América no momento presente, é o capitalista branco. O capitalista sendo egoísta, está buscando apenas o maior lucro fora do trabalho -. É disposto e contente em usar o trabalho do Negro, sempre que possível em uma escala, razoavelmente, abaixo do salário médio da união branca" (Jacques-Garvey, 1969). Foi a crença de Garvey de que os capitalistas brancos toleravam os trabalhadores afro-americanos, só porque eles estavam dispostos a aceitar um padrão mais baixo do salário que os trabalhadores brancos sindicalizados. Se, no entanto, os trabalhadores americanos africanos se organizassem, e fossem sindicalizados exigindo salários comparáveis ​​como os homens brancos sindicalizados, a preferência do emprego iria para o trabalhador branco.

Garvey teve como objetivo reformar a natureza social-democrata ao invés de tentar erradicar o sistema capitalista. Ele sentiu que o sistema capitalista deu aos afro-americanos a chance para ter o emprego competitivo, e também lhes deu a oportunidade de fazer lucro com seu trabalho. Henderson e Ledebur (1970) observou que Garvey favoreceu limitações estritas sobre o montante dos rendimentos, ou de fundos para investimento controladas por pessoas físicas e jurídicas. Somas acumuladas acima destes valores devem ser apropriados pelo Estado. O estado também deve expropriar, sem compensação, os ativos dos capitalistas e corporações que começaram guerras e conflitos, a fim de promover seus próprios interesses financeiros. Ele tentou implementar essas ideias, organizando seus empreendimentos comerciais ao longo das linhas de cooperação e colocando um limite máximo para o número de ações que qualquer pessoa poderia possuir. Em sua mente, essas ações foram tentativas de pessoas pobres para estabelecer "um sistema capitalista de sua própria gente, para combater o sistema capitalista sem coração da classe dominante magistral" (Martin, 1976).

Garvey sobre o comunismo


Garvey sentiu que o comunismo era a criação de um homem branco para resolver seus próprios problemas políticos e econômicos. Ele acreditava que o partido comunista queria usar o voto afro-americano "para esmagar e derrubar" a maioria branca capitalista, e para "colocar o seu grupo majoritário ou raça ainda no poder, não só como comunistas, mas como homens brancos" (Jacques-Garvey de 1969). Para ele, sugerir a entronização da classe trabalhadora branca sobre a classe capitalista da raça. Ela nunca foi destinada para a emancipação econômica ou política dos afro-americanos, mas sim para aumentar a capacidade de ganho dos trabalhadores das classes mais baixas. Garvey disse: "É uma teoria perigosa da reforma econômica e política, porque pretender colocar o governo nas mãos de uma massa branca de ignorantes, que não têm sido capazes de destruir seus preconceitos naturais, no sentido contra negros e outras pessoas não-brancas. Embora possa ser uma coisa boa para eles, vai ser uma coisa ruim para os negros, que vai cair sob o governo da classe mais ignorante preconceituosa de raça branca" (Nolan, 1951).

Os comunistas esperavam capturar o movimento UNIA gerado pelo apelo magnético de Garvey, sobre as massas afro-americanas. O ato do partido comunista convidando-o a se juntar a eles era para apoiar a teoria de que eles eram comunistas também. Daí um empregador branco seriam confrontado com a escolha de contratar qualquer comunista branco ou um comunista afro-americano, e o apelo da raça daria ao comunista branco uma vantagem. O plano de Garvey foi deixar os comunistas lutarem suas próprias batalhas. Os Afro-americanos precisavam aproveitar as oportunidades que foram apresentadas durante a luta, sem entrar na luta. O perigo do comunismo para Garvey, é que eles procuravam o voto minoritário para subjugar e tornar-se uma potência dominante. Ele acreditava que os comunistas ainda eram homens brancos, que ainda buscavam tirar proveito dos afro-americanos. Consequentemente, Garvey desaconselhou apoiar o partido comunista, ou ele seria o culpado da transferência do governo da inteligência para o ignorância (Martin, 1986).

Conclusão


Na perspectiva da história, Marcus Garvey foi um sucesso fenomenal. Através da acumulação de capital de risco, Garvey procurou combater a desigualdade capitalista através de métodos capitalistas de organização econômica. Isso deu aos afro-americanos um senso de unidade, e deu a esperança de uma melhor maneira de viver. No entanto, a filosofia econômica de Garvey para o sucesso empresarial estava fadado ao fracasso nos Estados Unidos. Suas ideias foram prejudicados por numerosas falhas teóricas e conceituais. Especificamente, ideias econômicas de Garvey, que não cumpriam as exigências do desenvolvimento do século XX. Na verdade, era a própria inépcia econômica pessoal de Garvey e sua falta de vontade de evoluir suas atividades pró-capitalistas que levaram à sua falências de empresas. Ele não conseguiu descobrir que havia teorias econômicas aplicáveis ​​à circulação africana americano que não seja a acumulação de capital de risco.

Ao nacionalismo de Garvey faltava a igualdade racial e de pensamento econômico, para resolver os problemas da pobreza e os direitos políticos necessários para o sucesso econômico afro-americano. Enquanto ele não apoiou abertamente qualquer sistema econômico importante, a sua filosofia para o indivíduo limitado e a propriedade corporativa ajudaram a rotulá-lo um "welfare state liberal" (Vincent, 1971). Resta, no entanto, que a Black Star Line foi um marco na história afro-americana, fornecendo um modelo para a construção de empreendimentos empresariais. Na verdade, o plano de Marcus Garvey para o capitalismo afro-americano foi um enorme desenvolvimento. As malfadadas empresas comerciais de Garvey, se tornaram o modelo processual e conceitual para futuras realizações no desenvolvimento econômico afro-americano.


Referencias

sexta-feira, 6 de maio de 2016

ABC DO QUILOMBISMO - ABDIAS DO NASCIMENTO


Na trajetória histórica que esquematizamos nestas páginas, o quilombismo tem nos fornecido várias lições. Tentaremos resumi-las num ABC fundamental que nos ensina que:

a) Autoritarismo de quase 500 anos já é bastante. Não podemos, não devemos e não queremos tolerá-lo por mais tempo. Sabemos de experiência própria que uma das práticas desse autoritarismo é o desrespeito brutal da polícia às famílias negras. Toda a sorte de arbitrariedade policial se acha fixada nas batidas que ela faz rotineiramente para manter aterrorizada e desmoralizada a comunidade afro-brasileira. Assim fica confirmada, diante dos olhos dos próprios negros, sua condição de impotência e inferioridade, já que são incapazes até mesmo de se autodefenderem ou de proteger sua família e os membros de sua respectiva comunidade. Trata-se de um estado de humilhação permanente.



b) Banto denomina-se um povo ao qual pertenceram os primeiros africanos escravizados que vieram para o Brasil de países que hoje se chamam Angola, Congo, Zaire, Moçambique e outros. Foram os bantos os primeiros quilombolas a enfrentar em terras brasileiras o poder militar do branco escravizador.

c) Cuidar em organizar a nossa luta por nós mesmos é um imperativo da nossa sobrevivência como um povo. Devemos por isso ter muito cuidado ao fazer alianças com outras forças políticas, sejam as ditas revolucionárias, reformistas, radicais, progressistas ou liberais. Toda e qualquer aliança deve obedecer a um interesse tático ou estratégico, e o negro precisa obrigatoriamente ter poder de decisão, a fim de não permitir que a comunidade negra seja manipulada por interesses de causas alheias à sua própria.


d) Devemos ampliar sempre a nossa frente de luta, tendo em vista: 1) os objetivos mais distantes da transformação radical das estruturas sócio-econômicas e culturais da sociedade brasileira; 2) os interesses táticos imediatos. Nestes últimos se inclui o voto do analfabeto e a anistia aos prisioneiros políticos negros. Os prisioneiros políticos negros são aqueles que são maliciosamente fichados pela polícia como desocupados, vadios, malandros, marginais, e cujos lares são freqüentemente invadidos. 

e) Ewe ou gêge, povo africano de Gana, Togo e Daomé (Benin); milhões de ewes foram escravizados no Brasil. Eles são parte do nosso povo e da nossa cultura afro-brasileira.

Ejetar o supremacismo branco do nosso meio é um dever de todo democrata. Devemos ter sempre presente que o racismo, isto é, supremacismo branco, preconceito de cor e discriminação racial, compõem o fator raça, a primeira contradição para a população de origem africana na sociedade brasileira. (Aviso aos intrigantes, aos maliciosos, aos apressados em julgar: o vocábulo raça, no sentido aqui empregado, se define somente em termos de história e cultura, e não em pureza biológica).


f) Formar os quadros do quilombismo é tão importante quanto a mobilização e a organização da comunidade negra.

g) Garantir ao povo trabalhador negro o seu lugar na hierarquia de Poder e Decisão, mantendo a sua integridade etno-cultural, é a motivação básica do quilombismo.

h) Humilhados que fomos e somos todos os negro-africanos, com todos devemos manter íntimo contato. Também com organizações africanas independentes, tanto da diáspora como do continente. São importantes e necessárias as relações com órgãos e instituições internacionais de Direitos Humanos, tais como a ONU e a UNESCO, de onde poderemos receber apoio em casos de repressão. Nunca esquecer que sempre estivemos sob a violência da oligarquia latifundiária, industrial-financeira ou militar.

i) Infalível como um fenômeno da natureza será a perseguição do poder branco ao quilombismo. Está na lógica inflexível do racismo brasileiro jamais permitir qualquer movimento libertário dos negros majoritários. Nossa existência física é uma realidade que jamais pôde ser obliterada, nem mesmo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao manipular os dados censitários, nos quais erradicou o fator racial e de cor dos cômputos demográficos. E quanto a nosso peso político? Simplesmente não existe. Desde a proclamação da República, a exclusão do voto ao analfabeto significa na prática a exclusão da população negra do processo político do país.


j) Jamais as organizações políticas dos afro-brasileiros deverão permitir o acesso aos brancos não-quilombistas a posições com autoridade para obstruir a ação ou influenciar as tomadas de posição teóricas e práticas em face da luta.

k) Kimbundo, língua do povo banto, veio para o Brasil com os escravos procedentes da África meridional. Essa língua exerceu notável influência sobre o português falado neste país.

l) Livrar o Brasil da industrialização artificial, tipo "milagre econômico", está nas metas do quilombismo. Neste esquema de industrialização, o negro é explorado a um tempo pelo capitalista industrial e pela classe trabalhadora classificada ou "qualificada". Como trabalhador "desqualificado" ou sem classe, ele é duplamente vítima: da raça (branca) e da classe (trabalhadora "qualificada" e/ou burguesia de qualquer raça). O quilombismo advoga para o Brasil um conhecimento científico e técnico que possibilite a genuína industrialização que represente um novo avanço de autonomia nacional. O quilombismo não aceita que se entregue a nossa reserva mineral e a nossa economia às corporações monopolistas internacionais, porém tampouco defende os interesses de uma burguesia nacional. O negro-africano foi o primeiro e o principal artífice da formação econômica do País e a riqueza nacional pertence a ele e a todo o povo brasileiro que a produz.

m) Mancha branca é o que significa a imposição miscigenadora do branco, implícita na ideologia do branqueamento, na política imigratória, no mito da "democracia racial". Tudo não passa de racionalização do supremacismo branco e do estupro histórico e atual que se pratica contra a mulher negra.


n) Nada de mais confusões: se no Brasil efetivamente houvesse igualdade de tratamento, de oportunidades, de respeito, de poder político e econômico; se o encontro entre pessoas de raças diferentes ocorresse espontâneo e livre da pressão do poder e prestígio sócio-econômico do branco; se não houvesse outros condicionamentos repressivos de caráter moral, estético e cultural, a miscigenação seria um acontecimento positivo, capaz de enriquecer o brasileiro, a sociedade, a cultura e a humanidade das pessoas.

o) Obstar o ensinamento e a prática genocidas do supremacismo branco é um fator substantivo do quilombismo.

p) Poder quilombista quer dizer: a Raça Negra no Poder. Os descendentes de africanos somam a maioria da nossa população. Portanto, o Poder Negro será um poder democrático. (Reitero aqui a advertência aos intrigantes, aos maliciosos, aos ignorantes, aos racistas: neste livro a palavra raça tem exclusiva acepção histórico-cultural. Raça biologicamente pura não existe e nunca existiu).

q) Quebrar a eficácia de certos slogans que atravessam a nossa ação contra o racismo, como aquele da luta única de todos os trabalhadores, de todo o povo ou de todos os oprimidos, é um dever do quilombista. Os privilégios raciais do branco em detrimento do negro constituem uma ideologia que vem desde o mundo antigo. A pregação da luta "única" ou "unida" não passa de outra face do desprezo que nos votam, já que não respeitam a nossa identidade e nem a especificidade do nosso problema e do nosso esforço em resolvê-lo.


r) Raça: acreditamos que todos os seres humanos pertencem à mesma espécie. Para o quilombismo, raça significa um grupo humano que possui, relativamente, idênticas características somáticas, resultantes de um complexo de fatores históricos e ambientais. Tanto a aparência física, como igualmente os traços psicológicos, de personalidade, de caráter e emotividade, sofrem a influência daquele complexo de fatores onde se somam e se complementam a genética, a sociedade, a cultura, o meio geográfico, a história. O cruzamento de diferentes grupos raciais, ou de pessoas de identidade racial diversas, está na linha dos mais legítimos interesses de sobrevivência da espécie humana.

Racismo: é a crença na inerente superioridade de uma raça sobre outra. Tal superioridade é concebida tanto no aspecto biológico, como na dimensão psico-sócio-cultural. Esta é a dimensão usualmente negligenciada ou omitida nas definições tradicionais do racismo. A elaboração teórico-científica produzida pela cultura branco-européia justificando a escravização e a inferiorização dos povos africanos constitui o exemplo eminente do racismo sem precedentes na história da humanidade.

Racismo é a primeira contradição social no caminho do negro. A esta se juntam outras, como a contradição de classes e de sexo.

s) Swahili é uma língua de origem banta, influenciada por outros idiomas, especialmente o árabe. Atualmente, o swahili é falado por mais de 20 milhões de africanos da Tanzânia, do Quênia, de Uganda, do Burundi, do Zaire, e de outros países. Os afro-brasileiros necessitam aprendê-la com urgência.
Slogan do poder público e da sociedade dominante, no Brasil, condenando reiterada e indignadamente o racismo, se tornou um recurso eficaz encobrindo a operação racista e discriminatória sistemática, de um lado, e de outro lado servindo como uma arma apontada contra nós com a finalidade de atemorizar-nos, amortecendo ou impedindo que um movimento coeso do povo afro-brasileiro obtenha a sua total libertação.


t) Todo negro ou mulato (afro-brasileiro) que aceita a "democracia racial" como uma realidade, e a miscigenação na forma vigente como positiva, está traindo a si mesmo, e se considerando um ser inferior.

u) Unanimidade é algo impossível no campo social e político. Não devemos perder o nosso tempo e a nossa energia com as críticas vindas de fora do movimento quilombista. Temos de nos preocupar e criticar a nós próprios e às nossas organizações, no sentido de ampliar a nossa consciência negra e quilombista rumo ao objetivo final: a ascensão do povo afro-brasileiro ao Poder.

v) Vênia é o que não precisamos pedir às classes dominantes para reconquistarmos os frutos do trabalho realizado pelos nossos ancestrais africanos no Brasil. Nem devemos aceitar ou assumir certas definições, "científicas" ou não, que pretendem situar o comunalismo africano e o ujamaaísmo como simples formas arcaicas de organização econômica e/ou social. Esta é outra arrogância de fundo eurocentrista que implicitamente nega às instituições nascidas na realidade histórica da África a capacidade intrínseca de desenvolvimento autônomo relativo. Nega a tais instituições a possibilidade de progresso e atualização, admitindo que a ocupação colonizadora do Continente Africano pelos europeus determinasse o concomitante desaparecimento dos valores, princípios e instituições africanas. Estas corporificariam formas não-dinâmicas, exclusivamente quietistas e imobilizadas. Tal visão petrificada da África e de suas culturas é uma ficção puramente cerebral. O quilombismo pretende resgatar dessa definição negativista o sentido de organização sócio-econômica concebido para servir à existência humana; organização que existiu na África e que os africanos escravizados trouxeram e praticaram no Brasil. A sociedade brasileira contemporânea pode se beneficiar com o projeto do quilombismo, uma alternativa nacional que se oferece em substituição ao sistema desumano do capitalismo.


x) Xingar não basta. Precisamos é de mobilização e de organização da gente negra, e de uma luta enérgica, sem pausa e sem descanso, contra as destituições que nos atingem. Até que ponto vamos assistir impotentes à cruel exterminação dos nossos irmãos e irmãs afro-brasileiros, principalmente das crianças negras deste país?

y) Yorubás (Nagô) somos também em nossa africanidade brasileira. Os iorubás são parte integrante do nosso povo, da nossa cultura, da nossa religião, da nossa luta e do nosso futuro.

z) Zumbi: fundador do quilombismo.


Propostas de ação para o Governo Brasileiro

O programa de ação quilombista incorpora, devidamente atualizadas, as seguintes propostas apresentadas por este autor ao Colóquio do 2º Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas (Festac), realizado em Lagos, Nigéria, em 1977 (ver Nascimento, Abdias, O Brasil na Mira do Pan-Africanismo, Salvador: CEAO/ EdUFBA, 2002). Naquela ocasião, o autor propôs ao Colóquio recomendar que o Governo Brasileiro

1) permita e estimule a livre e aberta discussão dos problemas dos descendentes de africanos no país; e que encoraje e financie pesquisas sobre a posição econômica, social e cultural ocupada pelos afro-brasileiros dentro da sociedade brasileira, em todos os níveis;

2) localize e publique documentos e outros fatos e informações possivelmente existentes em arquivos privados, cartórios, arquivos de câmara municipal de velhas cidades do interior, referentes ao tráfico negreiro, à escravidão e à abolição; em resumo, qualquer dado que possa ajudar a esclarecer e aprofundar a compreensão da experiência do africano escravizado e de seus descendentes;


3) inclua quesitos sobre raça ou etnia em todos os futuros censos demográficos; que em toda informação que dito governo divulgue, tanto para consumo doméstico como internacional a respeito da composição demográfica do país, não se omita o aspecto da origem racial / étnica;

4) inclua um ativo e compulsório currículo sobre a história e as culturas dos povos africanos, tanto aqueles do continente como os da diáspora; tal currículo deve abranger todos os níveis do sistema educativo: elementar, médio e superior;

5) tome medidas ativas para promover o ensino e o uso prático de línguas africanas, especialmente as línguas ki-swahili e iorubá; o mesmo em relação aos sistemas religiosos africanos e seus fundamentos artísticos; que o dito governo promova válidos programas de intercâmbio cultural com as nações africanas;

6) estude e formule compensações aos afro-brasileiros pelos séculos de escravização criminosa e decênios de discriminação racial depois da abolição; para esse fim deverá drenar recursos financeiros e outros, compulsoriamente originados da Agricultura, do Comércio e da Indústria, setores que historicamente têm sido beneficiados com a exploração do povo negro. Tais recursos constituirão um fundo destinado à construção de moradias, que satisfaçam às exigências da condição humana, em substituição às atuais habitações segregadas onde vive a maioria dos afro-brasileiros: favelas, cortiços, mocambos, porões, cabeças-de-porco, e assim por diante. O fundo sustentaria também a distribuição de terras no interior do país para os negros engajados na produção agropecuária;

7) remova os objetos da arte afro-brasileira assim como os de sentido ritual encontrados hoje em instituições de polícia, de psiquiatria, história e etnografia; e que o dito governo estabeleça museus de arte com finalidade dinâmica e pedagógica de valorização e respeito devidos à cultura afro-brasileira; de preferência, tais museus se localizariam nos estados com significativa população negra, tais como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Rio Grande do Sul;


8) conceda efetivo apoio, material e financeiro, à existentes e futuras associações afro-brasileiras com finalidade de pesquisa, informação e divulgação nos setores de educação, arte, cultura e posição sócio-econômica da população afro-brasileira.
9) tome medidas rigorosas e apropriadas ao efetivo cumprimento da lei Afonso Arinos, fazendo cessar o papel burlesco que tem desempenhado até agora;

10) tome ativas providências, ajuste as realidades do país, para que de nenhuma forma se permita ou possibilite a discriminação racial ou de cor no emprego, garantindo a igualdade de oportunidade que atualmente inexiste entre brancos, negros e outras nuanças étnicas.

11) exerça seu poder através de uma justa política de redistribuição da renda, tornando impraticável que, por causa da profunda desigualdade econômica imperante, o afro-brasileiro seja discriminado, embora sutil e indiretamente, em qualquer nível do sistema educativo, seja o elementar, o médio ou o universitário.

12) estimule ativamente o ingresso de negros no Instituto Rio Branco, órgão de formação de diplomatas pertencente ao Ministério de Relações Exteriores.

13) nomeie negros para o cargo de embaixador e diplomata para as Nações Unidas e junto aos Governos de outros países do mundo.

14) estimule a formação de negros como oficiais superiores das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) com promoções no serviço ativo até os postos de general, almirante, brigadeiro e marechal.


15) nomeie negros para os altos escalões do Governo Federal em seus vários ministérios e outras repartições do Executivo, incluindo órgãos superiores como o Conselho Federal de Cultura, o Conselho Federal de Educação, o Conselho de Segurança Nacional, o Tribunal de Contas.

16) estimule e encoraja a formação e o desenvolvimento de uma liderança política negra, representando os interesses específicos da população afro-brasileira no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas Estaduais e nas Câmaras Municipais; que o dito Governo nomeie negros para os cargos de juizes estaduais e federais, inclusive para o Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal Eleitoral, Superior Tribunal Militar, Superior Tribunal do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos.

17) concretize sua tão proclamada "amizade" com a África independente e sua tão freqüentemente manifestada posição anticolonialista, dando efetivo apoio diplomático e material aos legítimos movimentos de libertação nacional de Zimbabwe, Namíbia e África do Sul.

Alguns princípios e propósitos do quilombismo

1. O Quilombismo é um movimento político dos negros brasileiros, objetivando a implantação de um Estado Nacional Quilombista, inspirado no modelo da República dos Palmares, no século XVI, e em outros quilombos que existiram e existem no País.

2. O Estado Nacional Quilombista tem sua base numa sociedade livre, justa, igualitária e soberana. O igualitarismo democrática quilombista é compreendido no tocante a sexo, sociedade, religião, política, justiça, educação, cultura, condição racial, situação econômica, enfim, todas as expressões da vida em sociedade. O mesmo igualitarismo se aplica a todos os níveis do Poder e de instituições públicas e privadas.


3. A finalidade básica do Estado Nacional Quilombista é a de promover a felicidade do ser humano. Para atingir sua finalidade, o quilombismo acredita numa economia de base comunitário-cooperativista no setor da produção, da distribuição e da divisão dos resultados do trabalho coletivo.

4. O quilombismo considera a terra uma propriedade nacional de uso coletivo. As fábricas e outras instalações industriais, assim como todos os bens e instrumentos de produção, da mesma forma que a terra, são de propriedade e uso coletivo da sociedade. Os trabalhadores rurais ou camponeses trabalham a terra e são eles próprios os dirigentes das instituições agropecuárias. Os operários da indústria e os trabalhadores de modo geral são os produtores dos objetos industriais e os únicos responsáveis pela orientação e gerência de suas respectivas unidades de produção.

5. No quilombismo o trabalho é um direito e uma obrigação social, e os trabalhadores, que criam a riqueza agrícola e industrial da sociedade quilombista, são os únicos donos do produto do seu trabalho.

6. A criança negra tem sido a vítima predileta e indefesa da miséria material e moral imposta à comunidade afro-brasileira. Por isso, ela constitui a preocupação urgente e prioritária do quilombismo. Atendimento pré-natal, amparo à maternidade, creches, alimentação adequada, moradia higiênica e humana, são alguns dos itens relacionados à criança negra que figuram no programa de ação do movimento quilombista.

7. A educação e o ensino em todos os graus - elementar, médio e superior - serão completamente gratuitos e abertos sem distinção a todos os membros da sociedade quilombista. A história da África, das culturas, das civilizações e das artes africanas terão um lugar eminente nos currículos escolares. Criar uma Universidade Afro-Brasileira é uma necessidade dentro do programa quilombista.


8. Visando o quilombismo a fundação de uma sociedade criativa, ele procurará estimular todas as potencialidades do ser humano e sua plena realização. Combater o embrutecimento causado pelo hábito, pela miséria, pela mecanização da existência e pela burocratização das relações humanas e sociais, é um ponto fundamental. As artes em geral ocuparão um espaço básico no sistema educativo e no contexto das atividades sociais.

9. No quilombismo não haverá religiões e religiões populares, isto é, religião da elite e religiões do povo. Todas as religiões merecem igual tratamento de respeito e de garantias de culto.

10. O Estado quilombista proíbe a existência de um aparato burocrático estatal que perturbe ou interfira com a mobilidade vertical das classes trabalhadoras e marginalizadas em relação direta com os dirigentes. Na relação dialética dos membros da sociedade com as suas instituições repousa o sentido progressista e dinâmico do quilombismo.

11. A revolução quilombista é fundamentalmente anti-racista, anticapitalista, antilatifundiária, antiimperialista e antineocolonialista.

12. Em todos os órgãos do Poder do Estado Quilombista - Legislativo, Executivo e Judiciário - a metade dos cargos de confiança, dos cargos eletivos, ou dos cargos por nomeação, deverão, por imperativo constitucional, ser ocupados por mulheres. O mesmo se aplica a todo e qualquer setor ou instituição de serviço público.

13. O quilombismo considera a transformação das relações de produção, e da sociedade de modo geral, por meios não-violentos e democráticos, uma via possível.


14. É matéria urgente para o quilombismo a organização de uma instituição econômico-financeira em moldes cooperativos, capaz de assegurar a manutenção e a expansão da luta quilombista a salvo das interferências controladoras do paternalismo ou das pressões do Poder econômico.

15. O quilombismo essencialmente é um defensor da existência humana e, como tal, ele se coloca contra a poluição ecológica e favorece todas as formas de melhoramento ambiental que possam assegurar uma vida saudável para as crianças, as mulheres e os homens, os animais, as criaturas do mar, as plantas, as selvas, as pedras e todas as manifestações da natureza.

16. O Brasil é signatário da Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1965. No sentido de cooperar para a concretização de objetivos tão elevados e generosos, e tendo em vista o artigo 9, números 1 e 2 da referida Convenção, o quilombismo contribuirá para a pesquisa e a elaboração de um relatório ou dossiê bianual, abrangendo todos os fatos relativos à discriminação racial ocorridos no País, a fim de auxiliar os trabalhos do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas.





Trecho do livro O Quilombismo, 2ª ed. (Brasília/Rio: Fundação Cultural Palmares/ OR Editor, 2002), págs. 278-290.


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