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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A HISTÓRIA DE CASSIANO, O GÊNIO ESQUECIDO E ÍCONE DA MÚSICA PRETA BRASILEIRA

Conhecido pelas novas gerações por uma citação na música de Racionais MCs, Cassiano tem um lugar importantíssimo na música brasileira e na consolidação do movimento negro no país

Cassiano tem seu nome marcado na história da música, mas, infelizmente, é pouco conhecido das novas gerações.

Sua qualidade como cantor e compositor o coloca no mesmo nível que Tim Maia, porém, injustamente, com menos holofotes.

Genival Cassiano dos Santos nasceu em um bairro pobre da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Quando criança, aprendeu os primeiros acordes de violão com seu pai, amigo íntimo da fera Jackson do Pandeiro.

Ao chegar com a família ao Rio de Janeiro, em meio a um grande processo migratório, Cassiano conseguiu emprego de servente de pedreiro. Nos horários e dias de folga, aproveitava para treinar acordes de violão e bandolim. Durante os anos 60, período em que a música negra, principalmente o soul, passavam a fazer cada vez mais sucesso, o cantor se junta com Hyldon e outros músicos e formam a banda “Bossa Trio” que, mais tarde, se converteria em os “Diagonais”, grupo responsável, junto com Tim Maia, pela difusão da música negra pela região sudeste.

O Síndico havia voltado dos Estados Unidos há pouco tempo e estava na fissura para produzir, encontrou no Brasil Cassiano, que tocava junto com sua banda na noite de São Paulo e Rio de Janeiro. Impressionado com o talento do cantor na guitarra, voz e composição, Tim Maia convida Cassiano para a gravação do primeiro álbum do Síndico, em 1970. Foi nesse disco que Tim inseriu duas composições do cantor Paraibano “Eu amo você” e “Primavera”, sucessos que ajudaram Cassiano a tornar seu nome conhecido e passar para a carreira solo, arrastando muito fãs pelo caminho.

Seu primeiro disco solo foi “Imagem e som”, de 1971. Neste LP, interpretou “Ela mandou esperar” e “Tenho dito”, ambas em parceria com Tim Maia, e ainda, “Primavera”, com Silvio Rochael e “Uma lágrima”. O primeiro lançamento foi um grande sucesso, o que garantiu a segunda gravação, denominada: “Apresentamos o nosso Cassiano” álbum no qual interpretou dez composições de sua autoria, dentre elas, “Cedo ou tarde”, com Suzana, “Me chame atenção”, com Renato Britto e “Castiçal”.

Mas a grande explosão de sucesso viria em 1976, quando lançou o disco com duas de suas músicas mais conhecidas: “A Lua e Eu” e “Coleção”, ambas viraram temas de novela da Globo e marcaram uma geração de fãs da música negra.

O grande sucesso do cantor ajudou a impulsionar o movimento negro no Brasil, o qual se reunia em torno dos bailes organizados em São Paulo e Rio de Janeiro sob a égide da trilha sonora composta por Cassiano.

Porém, com toda a genialidade, o cantor foi acometido por problemas respiratórios e foi submetido à retirada de um dos pulmões, fato que levou ao enfraquecimento de sua voz e, consequente, aposentadoria. Nas décadas de 80 e 90, Cassiano compôs músicas para Alcione e outros cantores famosos, fez pequenas participações em um disco aqui e outro ali.

Nos anos 90, esquecido pela indústria cultural brasileira e pouco lembrado pelas novas gerações, a gravadora Universal retoma a voz do cantor no disco “Velhos camaradas”, de Cassiano, Tim Maia e Hyldon, álbum que reuniu alguns sucessos de cada um dos artistas e fez um estrondoso sucesso de vendas e público.

Atualmente, o cantor continua vivo, mas pouco participa da indústria musical atual. Suas composições são tocadas todos os dias em videokês. Para as novas gerações, ele é lembrado pela citação em uma das músicas dos Racionais “Vida Loka – parte II: “Ouvindo Cassiano, há, os gambé não guenta”.

Na maior parte das vezes, o nome do cantor passa despercebido por entre as batidas do rap do grupo paulista. Percebemos que poucos entenderam que Cassiano foi fundamental para o estabelecimento da música negra no Brasil e, sem ele, certamente teríamos um Racionais muito diferente do que é.

Cassiano é um daqueles gênios que aparecem em nosso país, entretanto, não é lembrado como deveria, nem de acordo com o talento e trajetória que teve.

Aqui guardamos um espaço para seu legado e para sua importância para a música brasileira, principalmente aquelas que tocavam em barracos de comunidades pobres, enquanto o jovem negro penteava seu cabelo no garfo pra dar um rolê na noite de sábado.

Grande Cassiano!


 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A BOSSA NOVA E O MEDO BRANCO

Johnny Alf
Como mecanismos sutis do racismo acabaram apagando a paternidade de Johnny Alf na criação de um dos mais importantes movimentos musicais do país.


Em 6 de julho de 2019 o Brasil se despedia de um de seus maiores artistas: João Gilberto. Nenhuma dúvida sobre o imenso rombo na cultura brasileira, bem como sobre o inegável talento de João como expoente da nossa música. Todos os veículos de comunicação noticiaram que havia morrido "o pai" da bossa nova. Essa paternidade musical ele dividia com o não menos lendário Tom Jobim. Na época, essa referência massiva ao grande João Gilberto como o pai da bossa nova me chamou para uma reflexão mais aprofundada sobre esse momento histórico de nascimento daquele que ainda hoje é um dos movimentos musicais mais importantes deste país – dentro e fora dele, pois a bossa nova é um dos ritmos mais ouvidos no mundo todo.

Nos dicionários, assim como, grosso modo, na biologia, pai é aquele que fecunda um óvulo a ser gestado. Até aqui, tudo bem, quer dizer, mais ou menos.

Acho muito difícil que alguém neste país não tenha ouvido, ao menos uma vez, o canto sussurrado de João Gilberto, bem como a maestria habilidosa dos dedos de Tom Jobim acariciando o piano. O marco midiático da bossa nova foi a composição "Chega de Saudade", de 1958, escrita pela consagrada parceria entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes e gravada primeiro pela diva Elizeth Cardoso, e depois por João Gilberto, que fez o violão em ambas as versões. E aí é que temos um problema. Na verdade temos "o" problema, que é mais comum no Brasil do que julgaria nossa emblemática Garota de Ipanema. Por pesquisas pessoais, descobri que quase uma década antes da célebre gravação que daria a paternidade da bossa nova a João Gilberto, essa aclamada e sofisticada sonoridade e formato musical já tinha emergido do piano pelos dedos habilidosos do senhor Alfredo José da Silva, ou Johnny Alf, brilhante pianista, compositor e intérprete. Uma figura histórica que é menos reverenciada do que sua competência e importância exigem, como podemos concluir pelas palavras do jornalista Ruy Castro para a Folha de S. Paulo em 2016: "O Johnny Alf, sem dúvida, foi um grande precursor da bossa nova, na década de 50. É um processo que já vinha desde os anos 40, pelo menos, a bossa nova era apenas uma inovação em cima de uma bossa brasileira que já existia, a conclusão de um processo evolutivo. E o Johnny Alf, assim como o João Donato, já era bastante evoluído dentro desse processo todo, ou seja, ele já era uma bossa nova dez anos antes da bossa nova".

Nascido em 19 de maio de 1920, no Rio de Janeiro, Alfredo José da Silva perdeu o pai, Antonio, militar combatente da revolução de 1932, quando tinha apenas 3 anos de idade, o que obrigou a mãe Inês Marina da Conceição a trabalhar como doméstica para mantê-lo. Na casa onde a mãe trabalhava, teve a preciosa oportunidade de ter uma boa formação escolar e ainda estudar piano e música erudita já aos 9 anos de idade. Sua inclinação pela música popular negra norte-americana, o jazz, sobretudo pelas charmosas canções que adornavam a sonoplastia do cinema da época, o levou a admirar gênios como Nat King Cole e Cole Porter. Em 1949, entrou para o mundo artístico pelas mãos de Dick Farney e, em 1952, conheceu nas noites musicais cariocas aquele que se tornaria um de seus ilustres pupilos, Tom Jobim. Cerca de 1 ano depois, em 1953, gravaria duas canções que marcariam sua contribuição para a MPB: "Céu e mar" e "Rapaz de bem", sendo esta última considerada precursora da bossa nova.

Mas onde está o problema? Está nessa paternidade musical deslocada de Johnny Alf para João Gilberto. Mais precisamente, está nos motivos do deslocamento dessa paternidade: o racismo. Mas não o racismo nu e cru, aquele que mata a luz do dia um George Floyd ou deixa um Miguel cair do nono andar de um prédio. Falo do racismo nas suas formas camufladas, despercebidas e que, por isso, mesmo são letais. Uma das minúcias do racismo é a exclusão sutil ou a morte simbólica, como bem escreveu Abdias Nascimento em O genocídio do Negro Brasileiro, aquela que acaba por convencer a própria pessoa negra de que sua relevância é nula ou sua relevância nas questões mais importantes é limitada.

Alf era negro, homossexual, de origem pobre e introspectivo, apesar de simpático. Em uma reportagem sobre o verdadeiro pai da bossa nova, feita por Nilton Corazza, músico, jornalista e editor da revista digital Teclas & Afins, resgatei uma fala de Alf justificando a sua pouca aderência ao movimento e a pouca repercussão de seu primeiro trabalho oficial, o disco "Rapaz de bem", lançado em 1961, quando a bossa já estava formalizada (e embranquecida): "Isso talvez tenha sido conseqüência de meu temperamento. Sempre estive afastado da patota, porque sou muito desconfiado das pessoas. Os problemas que tive na vida me criaram dificuldades de relacionamento. Em meio de grupinho, nunca estava seguro."

Em reportagem do The New York Times (ago/20), Nelson Valença, que foi seu produtor por mais de 20 anos disse: "Houve um movimento para promover Tom Jobim, que era rico, branco, jovem, bonito. Talvez ele fosse alguém que poderia ofuscar Tom Jobim."

Além desse movimento de promoção midiática que os privilegiados tiveram, existia também o medo branco, que se manifesta na presença de pessoas negras que demonstram autonomia e personalidade independente, pois Johnny insistia em manter sua liberdade musical, experimentando e tentando sempre inovar e não se deixar cair no senso comum das gravadoras da época, que viam na bossa nova a oportunidade de confrontar o rock'n'roll norte-americano que dominava o mercado fonográfico mundial.

É claro que Johnny Alf teve seu talento reconhecido e em sua carreira contabiliza mais de 80 composições gravadas por grandes nomes como Chico Buarque e Roberto Menescal. Mas não como deveria, já que foi a fonte onde beberam todos os músicos brancos da bossa nova, como Carlos Lyra, Sergio Ricardo e Vinicius de Moraes. Para aquele que foi mestre não só do grande Tom Jobim, que o apelidou de "Genialf", mas do próprio João Gilberto, a parte que lhe foi reservada na história da MPB e, principalmente, da bossa nova é ínfima. Podemos afirmar seguramente que se não fosse "Rapaz de Bem" a história da bossa nova talvez não atingisse o respeito internacional que alcançou. Diferentemente do pai branco aclamado pela mídia, João Gilberto, a morte de Johnny Alf em 2010 não foi tão comentada e poucos se lembraram de que se tratava do verdadeiro precursor da Bossa Nova. O plano de fazer desse movimento um marco nas artes musicais do país, embranquecendo o samba e levando ao mundo um Brasil branco, universitário e feliz, distante da realidade dos morros cariocas, perdura até hoje. Se você perguntar ao fã-clube de Beyoncé ou Rihanna sobre a bossa nova, irá ouvir da maioria esmagadora: "É coisa de branco!", mesmo em meio à demanda por representatividade.

Na questão racial brasileira, há lacunas e invisibilidades que não sabemos, mas que sentimos. A paternidade real da bossa nova, por exemplo, é uma delas. Como disseram os Racionais Mc's em "Da ponte pra cá": É Muita treta pra Vinicius de Morais.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

LUIZ MELODIA - RIP




Luiz Melodia morre aos 66 anos no Rio de Janeiro

O cantor carioca, compositor de sucessos como "Magrelinha" e "Pérola Negra", lutava contra um câncer de medula e não resistiu ao tratamento


O cantor e compositor carioca Luiz Carlos dos Santos, conhecido como Luiz Melodia, morreu na madrugada desta sexta-feira (4), aos 66 anos, em decorrência de um câncer na medula óssea.

O compostor de clássicos da MPB como “Pérola Negra” e “Magrelinha” lutava contra a doença desde julho do ano passado e, neste ano, ficou três meses internado no hospital Quinta D’Or, no Rio de Janeiro.

Ele chegou a fazer um transplante de medula óssea e resistiu ao procedimento, mas não estava respondendo bem à quimioterapia. Nessa quinta-feira (3), seu estado de saúde piorou e o músico não resistiu.

O diretor do Clube do Samba do Rio, Didu Nogueira, confirmou a morte de Melodia em sua página no Facebook. “Enquanto o céu vai se enfeitando, a gente vai se f*** por aqui”, escreveu. Na postagem ele lembrou como conheceu o artista, em 1987, em um show na extinta boate Tiger na Barra da Tijuca.

"Se a gente falasse menos Talvez compreendesse mais Teatro, boate, cinema Qualquer prazer não satisfaz Palavra figura de espanto, quanto Na terra tento descansar Mas o tudo que se tem Não representa nada Tá na cara Que o jovem tem seu automóvel O tudo que se tem Não representa tudo O puro conteúdo é consideração Quem não vê! Não goza de consideração Quem não vê! Então sai a consideração Quem não vê Não goza de considera" Luiz Melodia - Congênito FYADUB | FYASHOP Contato: fyadub@yahoo.com.br Cel/Whatsapp: 55 11 99984.4213 @ Blogspot http://fyadub.blogspot.com.br @ Discogs: http://www.discogs.com/seller/fyashop/profile @ Facebook: https://www.facebook.com/fyadub.fyashop @ YouTube: http://www.youtube.com/fyadub @ Mixcloud: http://www.mixcloud.com/fyadub @ Soundcloud: http://www.soundcloud.com/fyadub @ Twitter: http://www.twitter.com.br/fyadub @ MercadoLivre: http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_44458595 >>> entre em contato para shows e eventos. #fyadub #fyashop #discogs #vinyl #vinil #recordshop #reggae #originalpress #dancehall #7inch #10inch #12inch #lp #roots #ska #rocksteady #earlyreggae #stepper #digikiller #dub #jazz #hiphop #fyadub13anos #fyashop10anos #luizmelodia #congênito #musicapretabrasileira
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Vida e Sucesso

Luiz Melodia nasceu em 7 de janeiro de 1951 no Morro do Estácio, comunidade na qual homenageou durante toda sua carreira musical, com composições como “Estácio Holly Estácio” e “Estácio eu e você”.

Filho único de Oswaldo e Eurídice, Melodia foi descoberto pelos poetas Torquato Neto e Wally Salomão. Wally sugeriu que Gal Costa gravasse “Pérola negra” em seu álbum “Gal a todo vapor”, de 1972, emplacando de vez a carreira do compositor, que era reconhecido pela ousadia de se enveredar pelo samba, choro, rock, forró, soul e o blues em um único trabalho.


Em 2014, Luiz Melodia lançou o 14º e último álbum de sua carreira, o “Zerima”.

Por Clara Cerioni - Artigo original publicado @ http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/luiz-melodia-morre-aos-66-anos-no-rio-de-janeiro-diz-site/


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