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terça-feira, 13 de abril de 2021

BAILES BLACK


Os quatro jovens que chegam ao pequeno salão localizado na pacata rua da Barra Funda estão entusiasmados. Um dos rapazes particularmente é dono de uma íntima e contida alegria, já que é a primeira vez que vai ao salão de baile. Ele chega à bilheteria, compra o ingresso e, quando os quatro entram, descortina-se para ele uma realidade diferente. A primeira sensação é a de ter entrado em um mundo paralelo. Luzes escuras, giratórias, música em alto volume, e jovens como ele dançam animadamente, causando-lhe certa comoção por causa da alegria espontânea que acompanha os gestos de braços, pernas, quadris…

O salão está repleto, as roupas são bem cuidadas, alguns suam, outros circulam de um lado a outro. Meninas e rapazes se olham com interesse. Nas caixas, o som que começa a tocar é o de Natalie Cole cantando This Will Be, e gritos de aprovação se fazem ouvir. Depois uma sequência de músicas traz aos ouvidos Tim Maia, Jorge Ben, Bebeto, e então braços se trançam nos volteios ritmados do samba-rock. De repente as cores se tornam mais suaves, o ritmo do som diminui, uma luz negra se acende. Marvin Gaye começa a cantar Let’s Get it On e mais gritinhos são ouvidos. Casais se formam para dançar juntos, colados. Os rapazes circulam, chamam as meninas para dançar, são rejeitados, insistem com outras e logo muitos estão dançando. É a sessão de lentas.

O jovem que entrou pela primeira vez no salão aos poucos vai se acostumando com aquele burburinho de sons e vozes, aquela riqueza de luzes e cores. Mas o que o choca mais é que, diferentemente do que vive no seu dia-a-dia, ali a maioria das pessoas é negra, e ele se sente bem. De algum modo, assim que colocou os pés no salão São Paulo Chic, teve certeza de que estava num lugar ao qual pertencia.

Dos meados da década de 70, época em que os bailes no São Paulo Chic lotavam, para cá, houve pouca mudança em termos desse sentimento de identidade que os bailes da população negra provocam.

As equipes de som se profissionalizaram. As modestas caixas acústicas que faziam a alegria dos dançarinos nos pequenos salões foram substituídas por grandes equipamentos de som durante o movimento Black São Paulo, uma extensão do movimento Black Rio que, ainda no final dos anos 70, trocou o ritmo do samba-rock pelo soul e funk de James Brown, Sly and Family Stone, Bar Kays… E isso não ocorreu sem conflitos. Os jovens que aderiam a essa nova onda do soul eram chamados de “neguinhos pop” por aqueles adeptos do som mais antigo. O termo “pop” na verdade se referia mais às músicas de apelo comercial que tocavam nas rádios, mas passou a denominar o soul.


Porém, a nova onda se espalhava rapidamente. Na época em que não havia internet, centenas de negros se reuniam no viaduto do Chá ao cair da tarde das sextas-feiras e as felipetas circulavam por ali anunciando os próximos bailes, sob os olhares e eventuais revistas de muitos policiais militares e sob a atenção de alguns policiais federais, já que aquela reunião podia ser subversiva.

Enquanto em salões como São Paulo Chic o baile comportava um número menor de pessoas, o movimento soul procurava amplos espaços e começava a trazer milhares de pessoas para seus bailes. O aspecto da identidade começou a se acentuar. Nas paredes dos salões, como a Associação Atlética São Paulo, eram exibidos filmes e documentários, a exemplo de Wattstax, que versavam sobre a luta dos afro-americanos em busca de cidadania.

O fato é que os bailes sempre fizeram parte da vida da população negra. A musicalidade e o ritmo são intrínsecos à maioria das culturas tradicionais africanas e essa herança é expressa, de diversas formas, pelos afro-brasileiros. Desde o pós-abolição, as diversas entidades que se formaram tiveram nos bailes uma expressão importante como atividade de lazer. Impedidos de entrar em festas de brancos, os afrodescendentes construíram seu próprio campo de entretenimento. A Frente Negra, por exemplo, tinha o grupo das Rosas Negras, que organizava as grandes festas na década de 30. Mas essas festas tinham não só um caráter recreativo, como também cultural e pedagógico, pois havia palestras, apresentação de grupos de teatro e outras atividades culturais.

Nas décadas de 70 e 80 o movimento soul retomou esse caráter mais educativo das festas. Algumas lideranças do movimento negro iam lá fazer discursos, panfletar, chamar aquele contingente de jovens em sua maioria negros para uma ação política.


“Os Carlos, Tranza Negra, Eduardo, Amaury são nomes que evocam nostalgias, e nostalgia é uma palavra que ainda denomina alguns tipos de bailes frequentados por uma população mais adulta, como os do Musicália e Musicaliando, nomes parecidos que encobrem alguns conflitos que esse campo abarca”.

Isso trouxe resultados nos anos seguintes, especialmente para o movimento hip hop, que nasceu nesse ambiente em que as equipes de som estão mais organizadas e os discursos mais afinados com a busca de uma identidade étnica. As equipes proporcionaram espaço para que grupos de rap viessem mostrar seus trabalhos. Os Racionais MCs, por exemplo, começaram a se apresentar nos bailes da equipe Zimbabwe, uma das pioneiras do movimento soul, que, transformada em selo musical, lançou o grupo. Outras equipes, como Chic Show e Black Mad, também gravavam artistas não só de rap como de outros gêneros, a exemplo do pagode, que divulgavam em seus programas nas rádios, como Bandeirantes e 105 FM. Além disso, algumas equipes adquiriram seus próprios salões, como o Clube da Cidade, na Barra Funda.

Clubes como Alepo, Casa de Portugal, Homs fazem parte da história de vida de pessoas que foram e vão a esses locais para dançar, se divertir, estar em um lugar com seus iguais. DJs (herdeiros do pioneiro Sr. Osvaldo e sua “orquestra invisível”), dançarinos, empresários, cantores, donos de equipe, seguranças compõem um contingente que vibra nos subterrâneos da cidade.

Alguns lugares marcaram gerações, como o Sambary Love, no bairro da Bela Vista, com seus dois ambientes sempre cheios: um em que tocava o gênero “black” (as muitas variações do R&B) e outro dedicado ao samba-rock e pagode ao vivo. Como outros bailes, ali também era frequentado por pesquisadores, militantes, ativistas.


O baile “de preto”, baile “black”, baile nostalgia, baile soul, o baile, enfim, é esse local para o qual convergem expectativas, alegrias, emoções. Não é só a música e dança que o caracterizam, embora sejam o apelo mais forte; não é frequentado só por negros, mas é um campo em que se constroem identidades, expressas nos gestos, nas roupas, na estética, no comportamento.

Aqueles quatro jovens que chegaram ao salão São Paulo Chic na década de 70 talvez hoje não fossem ao baile, talvez fossem para a “balada”. Às vezes a impressão é de que a época gloriosa dos bailes já passou. Mas certas paixões voltam, como o samba-rock. As gerações vão se reinventando e recriando os bailes, que continuam aproximando as pessoas nas periferias, no centro, ou mesmo nas casas noturnas da Vila Madalena. Nos bailes, a vida ainda pulsa numa dança que se perpetua.



OS ÁLBUNS MAIS POPULARES DE AL GREEN


Embora todos os números do banco de dados do Discogs não possam confirmar essa afirmação, "Let's Stay Together" é provavelmente a música nº 1 de Al Green no coração da maioria das pessoas - afinal, era a única música nº 1 da Billboard Hot 100 de singles. Este hit soul também pode ser encontrado no álbum de Al Green mais procurado do Discogs, o lançamento de 1972, e seu mais popular, seus Greatest Hits de 1975.

Estamos tomando um momento para dividir alguns de seus melhores trabalhos pelos números. Entre as nossas classificações de seus álbuns altamente cobiçados e colecionados, você encontrará lançamentos conhecidos do famoso artista de soul music. As listas são determinadas por quantos usuários do Discogs adicionaram o registro à sua coleção (mais popular) ou à lista de desejos (mais desejada).

Sua longa discografia teve uma influência duradoura no neo-soul, hip-hop, R&B e e música eletrônica. No entanto, ele foi atraído pela música cristã (ou gospel) após uma série de tragédias em sua vida e saiu das paradas pop na década de 1980 para trabalhar em álbuns gospel, que resultaram em alguns sucessos religiosos e Grammys. Ele não ficou longe do soul por muito tempo; até mesmo sua música gospel estava cheia do gênero, e ele voltou às paradas seculares no final da década e tem bombeado soul music desde então. O lançamento mais recente de Green, Lay It Down de 2008, foi produzido pelo único Questlove (da banda de Hip Hop;The Roots).

Foto de Charlie Gillett, cortesia da Fat Possum Records

Essas listas não incluem álbuns com a voz ou letras de Green, como o álbum de Tyler, The Creator’s: 'Igor', ou uma compilação como Shaolin Soul ou covers de The Talking Heads. Entre os muitos créditos de Green no Discogs, "Let’s Stay Together" e "Take Me to the River" são as faixas mais populares gravadas ou sampleadas. De acordo com nossos amigos da WhoSampled, Green foi sampleado 605 vezes e tem nada menos que 168 covers (no WhoSampled).

I'm Glad You’re Mine” leva o primeiro lugar como a faixa mais sampleada. A bateria é definitivamente o trecho mais atraente (quero dizer, apenas ouça a introdução sozinha). Notorious B.I.G. usou essa batida de Green em vários álbuns, mas suas canções foram retrabalhadas por todos, de Kanye West a Nas. Para um exemplo mais discernível de um sample, ouça "Simply Beautiful" de Green e "Good to You", produzido por Talib Kweli e Kanye (West).


Álbuns mais procurados

3. Al Green ‎– Greatest Hits (1975)


2. Al Green ‎– I’m Still In Love With You (1972)

1. Al Green ‎– Let’s Stay Together (1972)



Álbuns mais populares

3. Al Green ‎– I’m Still In Love With You (1972)


2. Al Green ‎– Let’s Stay Together (1972)


1. Al Green ‎– Greatest Hits (1975)






domingo, 28 de fevereiro de 2021

1976: MOVIMENTO BLACK RIO

1976: Movimento Black Rio, de Luiz Felipe de Lima; Peixoto
 e Zé Otávio Sabadelhe (Rio de Janeiro: José Olympio, 2016)
Lançado em 10 de novembro de 2016, o livro 1976: Movimento Black Rio, dos jornalistas Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Otávio Sabadelhe, celebra os quarenta anos da manchete de Lena Frias, Black Rio: o orgulho (importado) de ser negro no Brasil, publicada em 17 de julho de 1976 no Caderno B do Jornal do Brasil. Em 28 reportagens, os autores recorrem a entrevistas e material previamente publicado para contar a história da cultura de bailes que, alimentados por soul, funk e disco afro-norte-americanos, espalharam-se pela Zona Norte carioca nos anos 1970, bem como a história do conjunto das apropriações desses gêneros por Tim Maia, Toni Tornado, Hyldon, Carlos Dafé, Cassiano, Gerson King Combo, Dom Salvador e Abolição, União Black, e Banda Black Rio. O livro tenciona constituir “uma contribuição à construção discursiva de uma memória social positiva da população negra brasileira” e oferece elementos para um trabalho necessário de revisão historiográfica que transcende o âmbito do tema tratado, apesar de erros fatuais que poderiam ter sido corrigidos por cruzamento de dados.


Escrito pelos jornalistas Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Otávio Sabadelhe, coautor de Memória afetiva do botequim carioca (2015), o livro 1976: Movimento Black Rio foi lançado em 10 de novembro de 2016, aos quarenta anos da manchete de Lena Frias para o Jornal do Brasil. Segundo o Grupo Editorial Record (2016), do qual José Olympio é um selo, “a obra faz parte do projeto de mesmo nome organizado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, com patrocínio da Natura, que contará com uma série de ações de valorização do Movimento Black Rio”. Entende-se por Black Rio a cultura de bailes que, nos anos 1970, espalhou-se pela Zona Norte carioca, alimentados por soul, funk e disco afro-norte-americanos. O termo foi cunhado por Frias em 1976 para designar aquilo que alguns de seus entrevistados, entre os quais Oséas Moura dos Santos, o Mr. Funky Santos, nomeavam Soul Power.

O sucesso de coletâneas de música afro-norte-americana lançadas pelas equipes de som dos bailes — Soul Grand Prix, Dynamic Soul e Black Power — somou-se ao sucesso fonográfico de Tim Maia para abrir as portas da indústria a uma geração de músicos negros que, na esteira do samba-jazz, da bossa-nova, do twist e do iê-iê-iê, exploraram musicalidades afro-pan-americanas com referência ao soul, ao funk, à disco e ao jazz. Assim, a expressão Black Rio passou a encampar o conjunto das apropriações destes gêneros por Tim Maia, Toni Tornado, Hyldon, Carlos Dafé, Cassiano, Gerson King Combo, Dom Salvador e Abolição, União Black, e Banda Black Rio. Até mesmo Jorge Ben e Wilson Simonal, cujas carreiras fonográficas se iniciam na primeira metade dos anos 1960, bem como o João Donato de A Bad Donato (1970), o Gilberto Gil de Refavela (1977), o Caetano Veloso de Bicho Baile Show (1977–1978), dentre outros, seriam eventualmente associados ao Black Rio. A participação de artistas do soul-funk brasileiro nos bailes teve contudo caráter acessório. Estes se prolongariam pelos anos 1980 sob o nome bailes funk, fixados em gravações importadas, com repertórios sempre atualizados (electrofunk, electro, house, Miami bass, Latin freestyle), e terminariam por gerar uma música própria: o funk carioca.

Os bailes de subúrbio foram objeto dos trabalhos de Hermano Vianna (1988: 19–34), Michael Hanchard (1994: 111–119), Claudia Assef (2003: 35–51), Silvio Essinger (2005: 15–48), Sonia Giacomini (2006: 189–256) e Paulina Alberto (2009); a música soul brasileira, dos de Bryan McCann (2002), Zuza Homem de Mello (2003: 367–390), José Roberto Zan (2005), e Sean Marquand e Sérgio Babo (2006). Allen Thayer (2006) abordou ambos os temas. O uso anacrônico do termo soul para a produção musical dos anos 1970 no Brasil explica-se pelo fato de, em 1969, a revista Billboard ter mudado o nome da parada de música afro-norte-americana, de rhythm‘n’blues, para soul, designação mantida até 1982 (BRACKETT, 2009: 66). Por outro lado, a emergência do funk carioca no final dos anos 1980 e a necessidade de diferenciar entre “o verdadeiro funk” e o primeiro gênero brasileiro de música eletrônica dançante contribuíram para a manutenção da palavra soul enquanto designação da vertente não eletrônica do soul-funk brasileiro.

O livro de Sabadelhe e Peixoto é a primeira monografia publicada sobre o assunto. Além de uma apresentação por Peixoto e de uma introdução por Sabadelhe, ele consiste em 28 reportagens[1] seguidas por considerações finais de Carlos Alberto Medeiros, um posfácio de Ana Maria Bahiana, e bibliografia. Os autores entrevistaram Dom Filó, Toni Tornado, Roberto Menescal, Zeca Marques, Leandro Petersen, Zezé Motta, o DJ Paulão (da equipe Black Power), Carlos Alberto Medeiros, Macau, Nei Lopes, William Magalhães, Mamão, Alcione Pinto Magalhães, Jamil Joanes, André Midani, Hyldon, Tony Bizarro, Sandra de Sá, Ed Motta, Fernanda Abreu, Pee Wee Ellis e BNegão. Um conjunto de citações cuja fonte não é especificada possivelmente provém de depoimentos de Marcos Romão (62–63), do DJ Paulinho da equipe Black Power (67), de Sir Dema (68, 74–75), de Marcelo Gularte (72), de Paulo Cézar Caju (79–80), do DJ Jailson da equipe Jet Black (81–82), de Altay Veloso (148–149), de Jorjão Barreto (156), de Nasca (183–184), do DJ Corello (189) e do DJ Marlboro (195). Excertos do depoimento de Filó conduzem a narrativa, em alternância com outras falas, trechos da literatura e amostras do jornalismo da época.

Nas palavras dos autores, o livro descarrega “uma torrente de relatos” (219). Faltam-lhe porém verificação e cruzamento de dados. O Black Rio teria inspirado o samba-jazz (21), que lhe é anterior (LOPES, 2006). O discotecário Ademir Lemos teria citado “uma renda que um jogo de Flamengo e Vasco não atingia nos domingos do Maracanã” (24), quando efetivamente citou “uma renda que um jogo, se não tiver Vasco ou Flamengo, não atinge” (FRIAS, 1976: 1). A música Heartbeat, do grupo War (ESSINGER, 2005: 34), recebe o nome de Heartbreak (64). O livro de Hanchard (1994) é creditado a McCann (104), de cujo artigo (2002: 35) provém a citação (105) atribuída ao primeiro. A aliança entre o soul e o samba de raiz é dada por “jamais revelada” (116), embora Essinger a tenha exposto em 2005 (40–42). The Platters seria um grupo “da gravadora Motown” (126), pela qual jamais passaram[2]. Dois álbuns de Luiz Melodia, um de 1978, outro de 1980, seriam balões “de ensaio para a concepção da linha sonora que iria balizar o disco Maria fumaça” (169), de 1977. Gerson King Combo teria recebido um telegrama de James Brown (170), um engodo que Essinger (2005: 39) revelou há onze anos. A origem do soul da Filadélfia é localizada na “fundação [em 1971] da gravadora Philadelphia International Records” (186–187), ainda que Kenny Gamble e Leon Huff tenham iniciado seus trabalhos em 1965 (LAWRENCE, 2004: 117). The Sugarhill Gang seria um “grupo de Nova Iorque” (194), embora todos os seus integrantes e o selo que os gravava estivessem sediados em Englewood, no estado de New Jersey (KATZ, 2012: 77–78). O subgênero de funk carioca conhecido por putaria é rotulado de proibidão (194). Breaks seriam “trechos ritmados de determinada faixa, inserida em outra música, por meio de mixagens” (195), quando constituem elementos básicos de construção da música hip-hop (KATZ, 2012: 14. ROSE, 1994: 73–74). A criação da “estrutura musical do hip-hop” seria resultado de “beats eletrônicos da máquina de ritmos programável Roland TR-808” e do “advento dos samplers” (197), dois recursos que só se tornaram disponíveis em 1980, sete anos após a fundação da cultura hip-hop (KATZ, 2012: 17–19). Muita coisa poderia ter sido corrigida pela revisão: “latente” (27) por “patente”; “cujo os” (74) por “cujos”; “Blood, Sweet and Tears” (149) por “Blood, Sweat and Tears”; “flauta em baixo” (153) por “flauta baixo”; “o melô” (194) por “a melô”. Por fim, as expressões “base endiabrada” (120), “petardo disco-funk groovadíssimo” (177) e “outro petardo” (197) tomam o lugar de descrições musicalmente relevantes.

Peixoto afirma em sua apresentação que o livro “quer ser uma contribuição à construção discursiva de uma memória social positiva da população negra brasileira” (16). Os autores se perguntam: “quando ou como o Movimento Black Rio teria sucumbido ao espetáculo que se criou em torno dele?” (219). Ao apresentá-lo no papel de precursor das atuais políticas de identidade, sob os auspícios do mesmo Estado que hoje sujeita todas as atividades recreativas nas favelas cariocas ao arbítrio da polícia ou das Forças Armadas, eles não deixam de participar desse espetáculo. É lícito exclamar-se: “menos ‘política identitária’, menos ‘empoderamento’, menos ‘lugar de fala’ e mais luta de classes!”[3]

Por outro lado, ao inserir os bailes black, a música soul, os bailes funk e o funk carioca no âmbito transnacional das manifestações da diáspora africana, ambos prestam contribuição ao combate contra o racismo estrutural da historiografia musical brasileira, onde, por exemplo, Mr. Funky Santos ocupa posição ambígua. Ao mesmo tempo que se credita ao radialista e DJ (branco) Big Boy ter começado tudo em Botafogo, atribui-se a Moura dos Santos o início dos Bailes Black, no extinto Astória Futebol Clube4, no bairro do Catumbi (ESSINGER, 2005: 19). Organizador, desde 1972, das Noites do Shaft, no Renascença Clube, no Andaraí, Dom Filó afirma: 

Big Boy. Ele tocava eminentemente o rock! Botava lá um “James Brownzinho” no final do baile. Então ele não era o black da hora, só que tinha o material. Outra coisa. O primeiro baile não foi no Canecão. O primeiro baile foi na Zona Norte! O Big Boy só fazia no Canecão porque a sua clientela era eminentemente branca (OLIVEIRA FILHO; CARDOSO; MEDEIROS, 2009).

A ideia de que o Black Rio — e, por decorrência, o funk carioca — tenha origem em Botafogo parece derivar de um problema de interpretação da matéria de Frias, que afirma: “no começo era apenas a [equipe] de Big Boy” (1976: 4). E cita Moura dos Santos (grafado “Santos dos Santos” no texto): “O soul começou com Big Boy, Ademir, Monsieur Limá, por volta de 1969, 1970” (6). Vianna (1988: 24) infere: “os primeiros bailes foram realizados na Zona Sul, no Canecão”. Seja pelos depoimentos coletados, seja pela iconografia reunida, 1976: Movimento Black Rio fornece farto material para um trabalho necessário de revisão historiográfica que transcende o âmbito do tema tratado. 



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

ROOTS: CURTIS MAYFIELD, A ALMA DO SOUL

Curtis Mayfield

Durante o Mês da História Negra, o PAM relembra obras marcantes da música negra americana que estão enredadas na história do país. Hoje, o álbum Roots, de Curtis Mayfield com toda sua elegância e sua lealdade ao Black Power.


Através da nossa voz, o mundo sabe, não há escolha. Estamos implorando para salvar as crianças, os pequenos, que simplesmente não entendem. Dê uma chance a eles. Para criar seus jovens e ajudar a purificar a terra ...” 50 anos atrás com a música“ We Got To Have Peace” do álbum Roots, a mensagem de Curtis Mayfield não poderia ter sido mais clara. Foi uma resposta à então violenta Guerra do Vietnã, que se transformou nas piores cenas de terror. Fiel à sua estética, o ex-vocalista do The Impressions ajustou suas rimas a um ritmo bem equilibrado, com arranjos de cordas, percussão, uma seção de metais chamativa e um baixo oscilante, tudo isso convidando você a dançar para curar o mundo.

Curtis Mayfield: We Got to Have Peace

Homem que se auto realizou (gueto)

Quanto mais alta sua voz ficava, mais profundo se tornava o tom, sem dúvida uma das melhores qualidades do nativo de Chicago. Ele atingiu seu auge no início dos anos 1970, deixando a banda The Impressions e co-fundando o Curtom, um selo classudo onde nosso visionário produtor escolheu fazer com que suas muitas opiniões fossem ouvidas. Ele já havia trilhado esse caminho nos dias de seu trio vocal: "People Get Ready", "Choice of Colors" e, claro, "Keep On Pushing" ... todos hinos não oficiais do movimento pelos direitos civis.

Em 1968, a música "We’re A Winner" do mencionado The Impressions é menos uma canção de oportunidades iguais e de puro orgulho negro. Na Cidade do México, os velocistas levantaram os punhos, um sinal de que uma nova luta estava surgindo para uma comunidade cansada de se curvar. I Black Power estava incendiando as paradas e Curtis Mayfield agora estava do lado dos Panteras Negras, cujas visões políticas estavam mais de acordo com o radicalismo subjacente que ardia no coração do cantor gospel. “Chega de lágrimas, nós choramos e finalmente enxugamos nossos olhos e estamos avançando.” Lendo nas entrelinhas, a intenção já era clara. À medida que ele começou a trabalhar mais com seu próprio nome, criando orquestrações que realçavam sua voz, a política de Mayfield se tornou ainda mais clara.

Curtis Mayfield & The Impressions – Choice Of Colors 

O racismo é um subproduto do capitalismo”, argumentou Fred Hampton, chefe do Partido dos Panteras Negras em Illinois antes de ser assassinado pela polícia armada em 4 de dezembro de 1969. Esta declaração, um convite para superar as divisões do passado, certamente faz sentido quando olhamos para Curtis Mayfield, cuja independência de espírito o levou a promover o autogoverno. Para o músico, crescer em uma cidade onde mais de um ídolo o incentivava a fazer o que queria, ter o controle dos próprios meios de produção era a única garantia de liberdade. “Estávamos todos tentando sobreviver em um negócio administrado por gravadoras que não davam tudo o que você pensava que ganhava”, lembra Mayfield, cujas opiniões foram moldadas pelo Motown de Berry Gordy.


A Voz do Anjo das Trevas

Move On Up” tem tudo a ver com isso - um sucesso que encorajou a juventude negra a assumir seu destino em suas próprias mãos e que colocou nosso Ghetto Child direto no topo das paradas com o álbum solo Curtis, em 1970. Esse sucesso estrondoso - que definiu o pilar do seu tom estético característico - é apenas um dos muitos destaques desta coleção. “We the People Who Are Darker Than Blue” é, sem dúvida, a glória coroada do álbum, com sua introdução ultra elegante e uma pausa de percussão totalmente inusitada. E não podemos esquecer sua mensagem unificadora, onde Mayfield se recusa a deixar sua identidade ser algo que poderia isolá-lo quando, na verdade, poderia ser a solução para enfrentar os maus tratos organizados pelo Estado contra pessoas pretas.


Por mais aberto que fosse sua música, Curtis Mayfield tinha plena consciência de onde ele vinha. Isso é o que mostra o álbum Roots, cuja capa contrasta fortemente com Curtis. Lá longe o céu azul e o tom amarelado das roupas descoladas; agora ele está sentado ao pé de uma árvore com suas raízes entrelaçadas. A imagem reflete a mensagem desse disco - um apelo por uma soul music que se preocupa tanto com o debate e as ideias quanto com a fusão de sons. Basta ouvir “Underground” com sua guitarra descontraída, ecos flutuantes e ritmos latinos. O homem no controle da música estava chefiando um grupo de alquimistas. Impulsionados por andamentos rápidos e baladas profundas, eles exploraram os limites da psique humana com toques de blues poderosos, reminiscentes de Muddy Waters. O fato de este álbum popular e sofisticado ter sido comparado a What’s Goin ’On de Marvin Gaye mostra como ele é bom. E, como Marvin Gaye, a caneta de Curtis Mayfield ficava cada vez mais mordaz à medida que ele era seduzido pelo trabalho de Johnny Pate, um veterano do jazz de Chicago que trocou o baixo pela caneta. O resultado é uma série de discursos que ecoam nossos eventos atuais, como “Beautiful Brother Of Mine”, um hino à sindicalização.

Um ano depois, ele lançou Superfly, um modelo de blaxploitation onde ele dirigiu palavras duras para traficantes de drogas e outros “Pushermans” (aqueles que negociam para comprar sua dose de drogas). Em seguida, voltou ao mundo, talvez o auge e a mais bela das obras de Mayfield. “Right on for the Darkness”, são oito minutos de sulco amargo e pegajoso, apontando o dedo para aqueles que estão no topo que olham para os que estão abaixo deles, uma alegoria mal velada do inferno chamada vida nos Estados Unidos.

Já houve um dia tão claro no coração das trevas?

O álbum Roots, relançado em 2021.




Calendário do LP Roots, 1971

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A HISTÓRIA DE CASSIANO, O GÊNIO ESQUECIDO E ÍCONE DA MÚSICA PRETA BRASILEIRA

Conhecido pelas novas gerações por uma citação na música de Racionais MCs, Cassiano tem um lugar importantíssimo na música brasileira e na consolidação do movimento negro no país

Cassiano tem seu nome marcado na história da música, mas, infelizmente, é pouco conhecido das novas gerações.

Sua qualidade como cantor e compositor o coloca no mesmo nível que Tim Maia, porém, injustamente, com menos holofotes.

Genival Cassiano dos Santos nasceu em um bairro pobre da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Quando criança, aprendeu os primeiros acordes de violão com seu pai, amigo íntimo da fera Jackson do Pandeiro.

Ao chegar com a família ao Rio de Janeiro, em meio a um grande processo migratório, Cassiano conseguiu emprego de servente de pedreiro. Nos horários e dias de folga, aproveitava para treinar acordes de violão e bandolim. Durante os anos 60, período em que a música negra, principalmente o soul, passavam a fazer cada vez mais sucesso, o cantor se junta com Hyldon e outros músicos e formam a banda “Bossa Trio” que, mais tarde, se converteria em os “Diagonais”, grupo responsável, junto com Tim Maia, pela difusão da música negra pela região sudeste.

O Síndico havia voltado dos Estados Unidos há pouco tempo e estava na fissura para produzir, encontrou no Brasil Cassiano, que tocava junto com sua banda na noite de São Paulo e Rio de Janeiro. Impressionado com o talento do cantor na guitarra, voz e composição, Tim Maia convida Cassiano para a gravação do primeiro álbum do Síndico, em 1970. Foi nesse disco que Tim inseriu duas composições do cantor Paraibano “Eu amo você” e “Primavera”, sucessos que ajudaram Cassiano a tornar seu nome conhecido e passar para a carreira solo, arrastando muito fãs pelo caminho.

Seu primeiro disco solo foi “Imagem e som”, de 1971. Neste LP, interpretou “Ela mandou esperar” e “Tenho dito”, ambas em parceria com Tim Maia, e ainda, “Primavera”, com Silvio Rochael e “Uma lágrima”. O primeiro lançamento foi um grande sucesso, o que garantiu a segunda gravação, denominada: “Apresentamos o nosso Cassiano” álbum no qual interpretou dez composições de sua autoria, dentre elas, “Cedo ou tarde”, com Suzana, “Me chame atenção”, com Renato Britto e “Castiçal”.

Mas a grande explosão de sucesso viria em 1976, quando lançou o disco com duas de suas músicas mais conhecidas: “A Lua e Eu” e “Coleção”, ambas viraram temas de novela da Globo e marcaram uma geração de fãs da música negra.

O grande sucesso do cantor ajudou a impulsionar o movimento negro no Brasil, o qual se reunia em torno dos bailes organizados em São Paulo e Rio de Janeiro sob a égide da trilha sonora composta por Cassiano.

Porém, com toda a genialidade, o cantor foi acometido por problemas respiratórios e foi submetido à retirada de um dos pulmões, fato que levou ao enfraquecimento de sua voz e, consequente, aposentadoria. Nas décadas de 80 e 90, Cassiano compôs músicas para Alcione e outros cantores famosos, fez pequenas participações em um disco aqui e outro ali.

Nos anos 90, esquecido pela indústria cultural brasileira e pouco lembrado pelas novas gerações, a gravadora Universal retoma a voz do cantor no disco “Velhos camaradas”, de Cassiano, Tim Maia e Hyldon, álbum que reuniu alguns sucessos de cada um dos artistas e fez um estrondoso sucesso de vendas e público.

Atualmente, o cantor continua vivo, mas pouco participa da indústria musical atual. Suas composições são tocadas todos os dias em videokês. Para as novas gerações, ele é lembrado pela citação em uma das músicas dos Racionais “Vida Loka – parte II: “Ouvindo Cassiano, há, os gambé não guenta”.

Na maior parte das vezes, o nome do cantor passa despercebido por entre as batidas do rap do grupo paulista. Percebemos que poucos entenderam que Cassiano foi fundamental para o estabelecimento da música negra no Brasil e, sem ele, certamente teríamos um Racionais muito diferente do que é.

Cassiano é um daqueles gênios que aparecem em nosso país, entretanto, não é lembrado como deveria, nem de acordo com o talento e trajetória que teve.

Aqui guardamos um espaço para seu legado e para sua importância para a música brasileira, principalmente aquelas que tocavam em barracos de comunidades pobres, enquanto o jovem negro penteava seu cabelo no garfo pra dar um rolê na noite de sábado.

Grande Cassiano!


 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

ESCUTANDO A ALEGRIA NA COLEÇÃO DE DISCOS DE JAMES BALDWIN

O curador Ikechúkwú Onyewuenyi espera despertar uma nova geração de escritores com "Chez Baldwin", uma lista de músicas no Spotify com 32 horas de duração baseada na coleção de discos de vinil de Baldwin.

James Baldwin

No início dos anos 1950, James Baldwin mudou-se para uma vila suíça nos Alpes com dois discos de Bessie Smith e uma máquina de escrever debaixo do braço. Foi lá que ele terminou seu primeiro romance, Go Tell It on the Mountain (1953), que ele atribui em grande parte às entonações blues de Smith: “Foi Bessie Smith, por meio de seu tom e cadência, que me ajudou a cavar de volta a maneira que eu mesmo deveria ter falado ... e para lembrar as coisas que ouvi, vi e senti. Eu as enterrei muito fundo”, escreveu Baldwin em um ensaio.

Para o eminente romancista e ensaísta americano, a música era geradora. Desenterrando inspiração que de outra forma poderia permanecer oculta. Ikechúkwú Onyewuenyi, curador do Hammer Museum em Los Angeles, espera despertar uma nova geração de escritores com "Chez Baldwin", uma lista de reprodução do Spotify com 478 faixas e 32 horas baseada na coleção de discos de vinil de Baldwin.

A lista de reprodução é uma espécie de bálsamo quando se está escrevendo”, disse Onyewuenyi ao Hyperallergic. "Baldwin se referiu ao seu escritório como uma 'câmara de tortura'. Todos nós já encontramos aqueles momentos de bloqueio do escritor, em que o processo de colocar a caneta no papel parece derramamento de sangue. Esse processo de tortura para Baldwin foi negociado com esses discos.

Onyewuenyi criou a compilação enquanto fazia pesquisas para The Welcome Table, o último escrito de Baldwin, na qual ele trabalhou até sua morte. Existem quatro textos datilografados da peça, a história mudando de forma a cada iteração: a versão mais antiga, que remonta a 1967, vem da década que Baldwin passou na Turquia, onde ele estava no exílio. Seis anos depois, um encontro com o estudioso Henry Louis Gates Jr. e a performer Josephine Baker na casa de Baldwin no sul da França levou a peça em uma direção diferente; Baker e Gates inspirariam os dois personagens principais.

A peça acabou por exemplificar o que Onyewuenyi descreve como o estilo tardio de Baldwin: "onde sua sexualidade - antes privada e reservada ao romance - se infiltrou em seus ensaios e peças". Além de explorar temas de erotismo, gênero, raça e nacionalidade, The Welcome Table é o único texto criativo onde ele faz referência à crise do HIV / AIDS.

Juntos, a natureza inacabada de The Welcome Table  implica vazio - uma parcial nisso - onde o significado não é totalmente formado, existindo em algum lugar entre os diferentes textos datilografados”, disse Onyewuenyi. “Essa multiplicidade e mistura de scripts, juntos, comunicam que Baldwin não era‘ o Jimmy de todos. Ele continha multidões. Então fiquei intrigado. Como podemos contabilizar essas discrepâncias?

Onyewuenyi encontrou fotografias da coleção de discos de Baldwin publicadas por La Maison Baldwin, uma organização sem fins lucrativos dedicada a preservar o legado do escritor no sul da França.

Casa de James Baldwin em Saint-Paul de Vence, França (photo by Daniel Salomons)

Olhando as fotos da casa de Baldwin na Provença, peguei seus discos, seu ambiente sônico, como uma forma de preencher o espaço, mas ainda permitir espaço para esse vazio, para diferenças. Além de ler os livros e ensaios que ele produziu enquanto morava na Provença, ouvir os discos foi algo que me transportou para lá”, disse Onyewuenyi.

Acho que queria me sentir entre aqueles convos barulhentos e ternos quando convidados como Nina Simone, Stevie Wonder (ambos apresentados na lista de reprodução), Maya Angelou, Toni Morrison, entre outros, partiram o pão e debateram com amor e carinho que não nem sempre é comum quando alguém está tentando se encontrar como Baldwin estava durante esse período de escrita de 'estilo tardio''”, acrescentou.

Nem todos os registros de Baldwin foram encontrados no Spotify. Dois álbuns, When the Night Comes de Lou Rawls (1983) e Sweet & Sour Tears (1964) de Ray Charles, ambos na coleção do escritor, estão ausentes da lista de reprodução porque não chegaram à plataforma musical. Mas Onyewuenyi diz que há “algo bom em ser uma lista de reprodução incompleta”.

Isso me lembra também do arquivo de registros de Frankie Knuckle no espaço de Theaster Gates, o Stony Island Arts Bank”, disse ele ao Hyperallergic. “A questão de tocar o arquivo de discos abre para a eventual deterioração e ruína dos discos- torna-se incompleto então, quando os sons não podem ser emitidos?

Quando questionado sobre seu álbum favorito na lista de reprodução, Onyewuenyi apontou para uma faixa específica: "Studio Dialogue" de Dinah Washington de seu álbum de 1959 What A Diff'rence A Day Makes!, um trecho de uma conversa entre a cantora e seu engenheiro de gravação:
"Você quer que eu soe como Julie London?
Não, soa como Dinah Washington.
Você prefere que eu soe como Lady?
Eu gostaria que você soasse como Dinah Washington.
Eu poderia soar como Spokane, Washington ...
Eu gostaria que você soasse como Dinah Washington."

Eu acho que há algo sobre como alguém deve soar, como ressoa com o que inicialmente me trouxe a esta playlist, que é Baldwin navegando sobre como articular essa mudança em sua voz nos últimos estágios de sua vida”, disse Onyewuenyi. “Posso imaginar Baldwin ouvindo Washington e juntando-se a seu lúdico cabo-de-guerra, com auto-vis-à-vis, e como alguém pode pensar como o público quer que eles sejam.

Ouça a playlist “Chez Baldwin” abaixo ou no Spotify.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O QUE É UMA FITA MASTER, AFINAL? CHAD KASSEM, DA ACOUSTIC SOUNDS EXPLICA!



Você provavelmente já deve ter notado esta frase em lançamentos de artistas, dos Crickets aos Beatles, de Sonny Red a Grant Green: "Das fitas master originais." O que parece atraente, certo? Como um ponto de venda, isso telegrafa que os conteúdos são orgânicos, autênticos e analógicos. Mas isso levanta uma questão simples para a qual alguns poucos surpreendentes sabem a resposta: o que é uma fita master? Além disso, por que alguém não apenas o prefere, mas também o busca quando se pode fazer cópias sobre cópias de maneira rápida e barata?

“Os motivos são muito simples, mas a maioria das pessoas não entende”, disse Chad Kassem, CEO da empresa de áudio de ponta Acoustic Sounds, ao Discogs. Kassem ganha a vida vendendo LPs de qualidade audiófila por meio de seu selo de relançamento, Analogue Productions. Tanto por princípio quanto por pura lógica técnica, ele obtém as fitas master “99,99%” do tempo, tornando-o um candidato ideal para explicar o que elas são para quem não sabe.

Uma fita master é uma fita usada para gravar a banda originalmente. É a fita”, explica ele. (A exceção, ele acrescenta, é quando alguém altera uma fita multitrack para duas faixas. Nesses casos, essa fita é a master.) “Não importa se você está digitalizando uma cópia de uma cópia de uma foto ou qualquer coisa”, enfatiza Kassem. “A menos que a original esteja danificada e a cópia esteja em melhores condições, sempre será melhor começar com a original.

Esteja você reproduzindo gravações, fotografias ou a “Mona Lisa”, o original - apesar da deterioração - contém 100% das informações. Portanto, para Kassem, ele deve tentar o melhor de sua capacidade para ter a fita master em suas mãos.

Quando está em negociações com uma gravadora para relançar um disco na Analogue Productions, Kassem deixa uma condição clara desde o início. “Dizemos à gravadora que queremos apenas a fita master analógica original”, diz ele. “Às vezes, eles acham que nos enviaram a fita master, mas não mandaram. Dizemos a eles que não se parece com a master, e eles procuram, procuram e procuram. Às vezes, eles encontrama master e às vezes não, mas na maioria das vezes, é a master que eles nos enviam.”

Se uma fita master não estiver disponível, Kassem faz o possível para garantir que ela não exista em nenhum lugar do planeta. Às vezes, isso envolve seguir pistas como um investigador particular. “Cada situação é diferente, cara”, diz ele. “Existem centenas de selos diferentes. Você se senta lá e pensa, e se você acha que pode descobrir algo e alguém para ligar, então você liga para esse alguém. Às vezes, não há ninguém para ligar."

Vamos até os confins da terra, cara”, acrescenta. “Gastamos muito dinheiro e tempo tentando obter a master.” Na maioria das vezes, se a master está danificado ou perdida, ele repassa o projeto. Mas se houver uma cópia de primeira geração de primeira geração da fita master, Kassem pode decidir fazer uma exceção à sua regra profissional.

Existem muito poucos títulos com os quais nos deparamos e em que temos de decidir. É isso. É o melhor que vamos conseguir. 'Ou você faz ou não. Coloque a boca ou cale a boca.”, diz Kassem sobre o uso de uma cópia autêntica quando uma master não está disponível. “Você enlouquece as gravadoras; você deixa os caras do cofre de fitas loucos. Você já olhou em todos os lugares que pode. Eles lhe disseram isso; você tem que acreditar neles. É isso. Isso é o melhor. O que você vai fazer?'"

Foto por Ingo Schulz

Kassem está ciente das armadilhas de jogar o bebê fora junto com a água do banho. O objetivo final é compartilhar música magnífica, não retê-la por motivos nanoscópicos fora de seu controle. “Às vezes, há uma pequena falha - um pouco de ruído, um pouco de distorção - e as pessoas enlouquecem”, diz ele. “Você não pode permitir que uma pequena falha na fita master o impeça de lançar algo glorioso.

Por exemplo, ele evoca Miles Davis rangendo um banquinho no estúdio como a fonte de uma reclamação irracional do consumidor. "OK, então você o ouviu recuar em uma cadeira?" ele pergunta. “Bem, isso mostra que é um ser humano em uma sala, e não um computador. Há muita alma aí.

Por que nem todos selos que relançam albuns buscam as fitas master com a determinação da Acoustic Sounds? "Escute, cara, é tudo uma questão de dinheiro, ok?" Kassem diz. “Algumas pessoas acham que não vale a pena gastar tempo e dinheiro extras. Algumas pessoas não ouvem a diferença. Algumas pessoas pensam que seus clientes não percebem a diferença. Estou atendendo pessoas que têm aparelhos de som muito caros. Eles querem o melhor absoluto. Eles não se importam com o preço.

Como observa Kassem, alguns selos usam o termo “Das fitas master originais” de maneira enganosa. “A questão é: A fita master original foi usada para cortar um lacquer (dubplate) ou para produzir um arquivo digital?”, Diz ele. “Se o disco de vinil foi cortado usando um arquivo digital, então é enganoso comercializar um disco alegando que ele foi originado das fitas master originais. Eles contornam a linha dizendo isso, já que às vezes eles transferem de um master analógica para um arquivo digital.

Mas a Acoustic Sounds faz isso de maneira honesta e, ultimamente, está removendo ainda mais os limites entre a fita master e os ouvidos do consumidor. “Estamos começando a vender fitas de rolo. Isso vai te levar bem perto.” diz Kassem. Como ele explica, uma cópia de fita única é o melhor formato que existe, seguida por uma edição de 45 RPM, por uma edição de 33 RPM e um download em alta resolução sucessivamente. Dito isso, “se você usar o master original - se for uma boa gravação, e você tiver os melhores engenheiros de masterização para fazê-lo - isso deve chegar perto.

No final do dia, “Você apenas tenta o seu melhor, cara. Isso é tudo o que fazemos”, diz Kassem. “A maioria das pessoas ama o que fazemos e, de vez em quando, existem pessoas que você simplesmente não consegue agradar. Então, peço a eles que saiam e comprem um CD e sejam felizes. Tentamos agradá-los e, se não conseguirmos, dizemos: Por favor, ligue para nossos concorrentes. Obtenha um CD! Nos deixe em paz."

“Nós tentamos o nosso melhor para conseguir a fita master. Nós tentamos nosso melhor para vencer o original e gastamos muito dinheiro e tempo fazendo isso”, acrescenta. “Neste ponto, acho que nossa reputação deve provar isso. As pessoas sabem disso. Achamos que vale a pena o esforço. ” Kassem faz uma pausa por um momento. “Sabemos que vale a pena o esforço.

Por  Morgan Enos, em parceria com a Acoustic Sounds; original post @ https://blog.discogs.com/en/what-is-a-master-tape-chad-kassem-acoustic-sounds/

sábado, 7 de outubro de 2017

FYASHOP :: QUEIMANDO ESTOQUE - 12X 7INCH'S POR R$ 420,00





Esse mês de outubro, onde completo mais um ano de vida nesse planeta chamado Terra. E separei alguns títulos para criar a promoção de outubro, e já dar um passo para um arrebatadora em novembro. São 12 compactos por R$ 420,00 (em até 6x sem juros). O lote conta com steppers warrior style no estilo dubplate, digikillers, produções nacionais; todos novos.

PARA COMPRAR CLIQUE AQUI

Em média cada compacto sai por R$ 35,00. Valor menor que o envio do exterior se for comprar em qualquer loja na Europa. A indicação, ou sugestão, é aproveitar o preço do lote e comprar junto com amigos (dj´s, seletores, e até mc´s se for começar a fazer seu set de instrumentais em vinil). O número de lotes é limitado, e a promo vai até o final do mês. Aproveite.

Abaixo a lista completa com a playlist para você ouvir as músicas:



Pagamento pode ser realizado no lojinha em até 6x sem juros, via depósito ou transferência bancária. Na retirada aceitamos cartões de débito e crédito.

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segunda-feira, 16 de maio de 2016

REGGAE LOVES SOUL - SOUL CLASSICS TURNED INTO REGGAE GROOVES @ FYASHOP



Antes de mais nada, "Reggae Loves Soul" não é um lançamento, foi lançado em 2014 e chegou no final de abril no fyashop. Mas de antemão, posso dizer que ele merece uma resenha sobre a qualidade criativa na concepção e produção em todas as músicas. E eu sempre fui um curioso e apreciador de compilações que podem ser tocadas da primeira a última música. E essa em especial você pode ouvir escrevendo, trabalhando, ou levar para incluir no seu set, e vai ser ouvido como que extremo bom gosto e ponto. O disco é realmente maravilhoso.


O disco todo são de regravações de canções datadas entre 1965 e 1975. E é impossível deixar de citar a influencia da gravadora Motown nas canções de "Reggae Loves Soul" e principalmente nas canções originais. A gravadora que lançou musicos como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Isley Brothers, Diana Ross e The Supremes, e Jacksons Five. Na era dessas músicas, além dos arranjos refinados e insuperáveis, as canções se tornaram uma forma de quebrar o paradigma do racismo. Apesar das canções de protesto já estarem se formando, as letras românticas dominaram as rádios, programas de TV e paradas de sucesso. Os artistas negros começaram até mesmo a ter espaço em programas de TV, e as letras poderiam ser ouvidas por brancos e negros. Musicalmente, amor não tem cor, partido ou divisão, e poderiam ser ouvidas por todo o público. A Motown mudou a forma de composição, foi além do jazz e rhythm & blues, inserindo também arranjos orquestrados com a formação do grupo The Funk Brothers, que criavam e tocavam esses arranjos (a Trojan sugou esse formato nos anos  final dos anos de 1960 e inicio dos anos de 1970). Pois bem, chega de Motown e vamos falar da compilação.

Começo a falar pela minha música preferida na voz da Marina Peloso. Mais conhecida como Marina P que ficou mais conhecida por participar do single “Divorce à l'italienne” dos escoceses do Mungos Hi Fi nos anos 2000.  A belíssima italiana, residente na França, regravou a música "I Wish Were There Girl" original na voz de Wendy Rene. Além do novo arranjo, essencialmente a voz de Marina P, o arranjo de órgão  de Boris Labouebe é matador. Seja o LP ou o 7inch, pelo menos no meu acervo particular, se tornou um single essencial.


Depois de Marina P, eu poderia usar do pleonasmo e reafirmar que as demais músicas do álbum são maravilhosas, e pode ouvir e adquirir sua cópia. Mas ainda tem Hopeton James cantando "Just My Imagination" dos The Tempations, trocando os arranjos de violino da original, por metais com um andamento mais acelerado. Garanto que Eddie Kendricks, estaria orgulhoso dos vocais de Hopeton James, e mais alegre com a participação de Ranking Joe. Eu particularmente torceria por uma versão somente com Hopeton James e outra com Ranking Joe.

Surpresa foi Paul Noyah cantando "Saint James Infirmary" de Louis Armstrong - e se tiver bom ouvido vai notar algumas notas de "Perhaps, Perhaps, Perhaps" ou "Quizas, Quizas, Quizas". O swing e bolero de Armstrong está todo ali. O baixo de dois tons e a marcação de piano, deram espaço para a música você ouvir e lembrar de Louis Armstrong no arranjo de trompete. O vocal de Paul Noyah não chega a ser o trovão poderoso que Armstrong era, mas se encaixa nessa versão rocksteady do mestre do jazz contemporâneo.


Agora me desculpe James Brown, perdão Marvin Gaye, e tantos outros que gravaram essa música, mas a versão definitiva da composição de Bobb Hepp - "Sunny" é na voz do Chezidek. Se Chezidek tivesse gravado "Sunny" em 1966 quando composta, e até a primeira dama do jazz Ella Fitzgerald preferiria ter gravado com Chezidek ao invés de Tom Jones. "Sunny" se tornou um reggae upbeat, com Skarra Mucci fazendo uma notória participação fazendo a vez de deejay.

A música "Motherless Child", que na voz de Richie Havens, compos um refrão e a rebatizou de "Freedom", e a fez ser ouvida em Woodstock em 1969 com arranjo de violão e percussão. "Motherless Child" é uma canção de domínio público, considerada um 'spiritual' ou uma canção de lamento negro, como eram denominadas essas canções lá nos anos 90. Ela já foi gravada por diversos cantores, de James Brown a Prince, e tem uma das primeiras versões gravadas datadas por volta dos anos de 1930. Na voz suave de Jezzaï, ela ganhou um arranjo de nyabingui.

A voz de Maikal X cantando a versão de "The Way You Treated Me" segundo nome da canção "I Wouldnt Treat A Dog," que numa tradução livre seria algo como; "Eu não trataria um cachorro, do jeito que você me tratou." A música tem uma grande pegada do arranjo original de Bobby "Blue" Bland, a essência soul da musica está ali, na bateria, no baixo e no arranjo de metais - que permeiam o disco com primazia. 

A funkeada "California Soul" de Marlena Shaw agora tem dueto com Faye e Mystic Loïc. A voz de Faye é sem comentários, sou a favor de um disco solo só dela. Está tudo lá o break beat, os vocais, o funk, e se o andamento fosse mais rápido um pouquinho ficaria a cara do Upsetters dos anos 70, então é só aumentar o pitch dos toca discos com cuidado e pronto. 



O jamaicano Glen Washington, pupilo de Joseph Hill e Boris Gardner tem a voz mais diferente do cantor da versão original. "Four Walls" de Eddie Holman, mas é tão surpreendente quanto e a rouquidão de Glen Washington da um novo tom para a música, que penso ser a mais romântica de todo o álbum. Além dele, Turbulence canta "If Loving You Is Wrong (I Don’t Want To Be Right)", e não faz seu famoso caco 'Baba baba babum', vou te dizer que Turbulence tem voz para fazer o que quiser, e ser versátil da forma que quiser no gênero que quiser fazer.

A balada "Trouble, Heartaches & Sadness" é dificil dizer em qual voz é mais agradável ouvir, ou Diana Rutherford ou na versão original de Ann Peebles, é uma balada completa com órgão e metais.

E para não ter supresas, abaixo o playlist da compilação para você ouvir tirar e tirar as próprias conclusões... é uma compilação matadora do inicio ao fim.


Various - Reggae Loves Soul (LP, Album)
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC003
Media Condition: Mint (M)
Avaliação:
R$115.00
+ shipping






Million Stylez - Revelation Time (LP, Album)
Label:Undisputed Records (2), Adonai Music
Cat#: UNDREC007, none
Media Condition: Mint (M)
 
R$115.00
+ shipping


Various - Raggamuffin Power (LP)
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: none
Media Condition: Mint (M)
 
R$115.00
+ shipping


Various - Reggae Loves Soul (LP, Album)
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC003
Media Condition: Mint (M)
 
R$115.00
+ shipping


Skarra Mucci - Greater Than Great (LP, Album)
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC004
Media Condition: Mint (M)
 
R$155.00
+ shipping


Hopeton James & Ranking Joe / Maikal X - Just My Imagination / The Way You Treated Me (7", Ltd)
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC005
Media Condition: Mint (M)
 
R$67.00
+ shipping


Chezidek & Skarra Mucci / Marina P* - Sunny / I Wish I Were That Girl (7")
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC002
Media Condition: Mint (M)
 
R$67.00
+ shipping


Konshens - I've Got To Go (7")
Label:Undisputed Records (2)
Cat#: UNDREC001
Media Condition: Mint (M)

R$67.00
+ shipping


Outros reviews: Reggaemani, Party Time-FR, World A Reggae

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