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domingo, 24 de maio de 2009

ENTREVISTA - RAS


Em 2007 concedi uma entrevista para a Dacal, do site REGGAEMOVIMENTO.COM, deem uma lida, comentem e digam o que pensam, se concordam com que foi ditto, e principalmente se não concordam. Boa leitura. Give Thanx!!!


Entrevista com Ras Wellington (FyaDub)

Postado em 31/10/07 por Dacal

A transformação vem através da informação e da movimentação!
"Moviment of Jah People"
"Ras Wellington é produtor e seletor do FyaDub, desenvolve um trabalho de estudo músical e literário sobre quase todos os temas que envolvem a música contemporânea negra, nos guetos do mundo todo, produzindo textos, músicas e eventos."


RM: O que impulsionou a formação e criação do Fya Dub? Em que época e contexto se encontrava o cenário reggae paulista e o que mais os motivou a mergulhar no projeto?

RAS: Salaam Aleykum. Saudações Dacal e a todos do Reggae Movimento.
O FyaDub é culpa da Renata Sacilotto rsrs... ela que fez o site FyaDub. Em meados de 2003, ela queria fazer algum trabalho on line sobre reggae, dub, dancehall... e agora ela está se dedicando mais ao ska e rocksteady. Eu acabei fazendo um textinho rápido sobre dub pra ela por no site e uma galera gostou. O FyaDub com o passar do tempo foi criando um conceito, não se tratando apenas de novidades que são lançadas, mas com um conteúdo mais informativo. Nessa, acabei escrevendo mais algumas coisas para o site e chegou nos moldes que ele está hoje.

Particularmente, o reggae paulista nunca me agradou, nem o paulista nem de outros estados, com algumas poucas exceções. As bandas brasileiras são muito caricatas, tentam imitar as bandas jamaicanas da década de 70, mas na real imitam muito mal, se preocupam em usar um vestuário ridículo e na maioria das vezes se esquecem da música. Muitas até hoje ainda não se ligaram que já se passaram 30 anos e não é mais daquele jeito, nem na Jamaica. Devido a isso, saem matérias como a da Veja dizendo que o reggae nacional está morto. É o que os tablóides vêem, como todo mundo que enxerga vê. Sempre aparecem bandas de caras que não sabem nem ao menos tocar uma linha de baixo com letras adaptadas do pagode. O negócio é vasculhar, tem muita banda boa que não aparece na mídia.


RM: Fale um pouco de suas referências, os sons que escutou e que acredita que foram importantes para compor quem você é e o que você faz.

RAS: A minha principal referencia quando comecei foi um grupo chamado Black Panters. Eram o Cassius, Cranium que é falecido, e o Mohamad que participou de algumas festas de dub aqui em SP. O Zulu foi quem me apresentou muitas idéias e sons, e também o Fox que hoje está no Leões de Israel. Essas foram as minhas referências quando comecei. Não era uma coisa de apenas tocar uma música, era ter fino trato com a música e buscar entender o que era falado nos sons. O grupo de Hip Hop Poor Righteous Teachers, que era um grupo Islâmico, tinha as idéias muito parecidas com as minhas, então também os tinha como referência. Jeru The Damaja, Black Moon, DAS EFX, Fugees, Da Bush Babees, Mad Lion, Buju Banton, Cutty Ranks, esses foram os artistas que eu ouvia e tinham mais haver comigo. A partir desses eu fui pesquisando as referências deles e aí foi fácil chegar a King Jammy, Bob Digital, Tappa Zukie e por ai vai.


RM: Você como um interessado pesquisador da religiosidade provinda da África, pode nos falar um pouco da base rastafariana e quais são os maiores equívocos que percebe nos "seguidores" da música reggae em relação à fé rastafari, e até mesmo a confusão de uma coisa com a outra.

RAS: O maior equívoco são as traduções e conseqüentemente as interpretações feitas por pessoas formadas em “achologia”, tentam fazer uma mistura do Cristianismo Católico e Evangélico aqui no Brasil com o Rastafari, meio que uma forma de adaptação e inovação e têm uma atitude muito hippie, o que não tem nada haver com o RASTA. Se a pessoa não vive a disciplina e não se dedica a compreender o todo, e acaba escrevendo e dissertando idéias equivocadas para as pessoas, vai haver uma interpretação errada dessas idéias. É como a palavra “RAS”, que aqui se traduziu (erroneamente) como príncipe, devido a SMI Haile Selassie I ser herdeiro do trono etíope e seu nome ser RAS Tafari Makonen. Muitos se preocuparam em traduzir e não buscaram a origem da palavra. RAS é uma palavra árabe, e a transliteração mais próxima é CABEÇA, é uma palavra pra indicar pensamento, e todo mundo é RAS, só que existem pessoas que tem cabeça e que pensam e outras que tem cabeça e que penam, esses deixaram de ser RAS.

A outra conversinha é SMI Selassie I ser um ditador, e que deixava o povo etíope passando fome enquanto alimentava seus leões, tudo papo furado. Ninguém nem sabe ao certo onde leu isso, e nem qual foi à fonte de informação. Fato é que tem que se ficar com um pé atrás quanto a esses comentários, quando se sabe que a história, principalmente a dos negros, foi escrita por europeus – depois de tantas atrocidades como a inquisição, a colonização de praticamente toda a África, esses caras ainda escrevem contra Selassie por lutar contra Mussolini, e que foi um tirano por não deixar a Etiópia ser invadida e colonizada. Após os discursos em Genebra na ONU, aí sim foi-se observar o que se passa quanto a essa invasões, só que demorou muito. Hoje ainda existem conseqüências graves quanto ao fingir que não se vê, a última foi a guerra estúpida entre Líbano e Israel, que a ONU até para parar, pensar e agir, já rolou o mar de sangue. Sempre é necessário buscar mais informações e saber onde estão certos equívocos na história, quem escreveu, de onde leu, quem ensinou e no que se baseou para escrever. E também pensar qual a intenção, e o que cada um ganha divulgando e fazendo uma proliferação dessas informações.

Outra equivoco é achar que todo mundo que faz reggae, é RASTA, e todo mundo que ouve reggae têm que se converter ao “ismo”, essa é a palavra que mais cabe nesse sentido. Reggae é música, uma trilha sonora de fundo para o RASTA falar aquilo que ele quer falar, mas oRASTA pode usar o Nyabingui, o Hip Hop, o Drum n Bass, qualquer ritmo. Por isso o rasta é Palavra, Som e Poder, tudo depende de qual mensagem cada um quer passar com a sua música. Somente não se deve impor a ninguém o que cada um deve ser, não é todo mundo que quer ser RASTA e viver numa Teocrácia, alias muitas pessoas eu noto ter aversão ao RASTA devido a muita gente que não sabe nada sobre o RASTA acabar falando uma ladainha que em duas palavras dá pra se ligar que buscou alguma informação no Google e a primeira página que apareceu foi lida. Ser RASTA está muito além de ouvir reggae, é uma disciplina diária.


RM: Qual a perspectiva futura que vê na cena reggae brasileira? Quais os prós e contras de determinados trabalhos que impulsionam a cena de forma mais "midiática", representando acena nacional como um todo, na sua opinião?

RAS: Seria uma hipocrisia dizer que um músico não quer sua música tocando na rádio, na sound system ou fazer um clip, quem disser que não quer que sua música chegue ao maior número de pessoas possível, está no trabalho errado. Infelizmente a música independente no Brasil é falida, fora os bwoys que aparecem e dizem; “eu faço por prazer”, o cara que diz isso tem que fazer no quintal de casa, tocar no quarto, não ir buscar uma casa, fazer uma merda de festa e algumas vezes até fechar as portas para outras pessoas que trabalham com entretenimento, a saída é profissionalizar mesmo.

A falta de produtores (produtores = pessoas que fazem produto) competentes e a sobra de Vampiros, acaba deixando uma lacuna na cena, porque o artista independente, escreve,compõe, grava, produz, divulga, etc.. tudo sozinho, e acaba não tendo grana nem tempo para dirigir para onde vai mandar ou mostrar o seu trabalho. Não vai ter tempo de fazer nada direito na verdade, é muito trabalho às vezes para 1 ou 2 pessoas fazerem tudo ao mesmo tempo. A mídia quer produto, música para vender, tanto faz se é o Edu Ribeiro ou o Armandinho, pode ser até o “Jão” do boteco, se for vendável a mídia abraça.
Hoje, alguns músicos já estão sendo mais flexíveis, e direcionam o trabalho. O público existe, só é cada músico saber qual tipo de público quer atingir, pode se gravar em dancehall, roots, um hip hop, quanto mais versátil for o músico melhor, vai atingir cada vez mais pessoas, após isso é ter paciência, divulgar nos canais que dêem oportunidade e sempre dar continuidade, estar no lugar certo, na hora certa, e ter um pouco de sorte sempre.


RM: O formato de sound system no Brasil ainda é uma coisa nova, no entanto já começam a se roliferar em varias regiões do país. Qual a importância e principal função e responsabilidade de uma sound na sua opinião? Cite algumas como referência.

RAS: Os sistemas de som que tocam apenas reggae são novos, aqui no Brasil deve ter uns 5 anos ou pouco mais no máximo, mas esse formato de equipes de som já existe aqui em SP há 30 anos, vide ai equipes de som como Chic Show, Zimbabwe, Black Mad, Dinamite em SP, no rio o Furacão 2000, e ainda tem as Radiolas no Maranhão. Se for ver o sistema de som em si (independente da música), essas equipes existem há décadas. Eu lembro quando ia às festas nostalgia, que tocavam samba rock, funk e soul, e os dj’s tocavam no meio Upsetters, Dave & Ansel Collins, Desmond Dekker, Jimmy Cliff, usavam o reggae com uma influência forte de funk, só que não eram equipes que tocavam apenas reggae.

O papel do sound system é levar a música para as pessoas. Um grande problema aqui é a língua, as pessoas não entendem muito que é dito nas músicas. O english patois é difícil, e demora um pouco pra compreender, complicado absorver tudo. A visão de que todo reggae dos anos 70, o considerado roots é de louvor e o dancehall é música de festa pra punnany é uma coisa que está mudando. Tem muito reggae dos anos 70 que o cantor só canta, é um profissional de entretenimento apenas, e tem muito dancehall consciente, as produções inglesas estão cada vez melhores e com assuntos cada vez mais atuais, falando de coisas do cotidiano e do que está acontecendo hoje, e muito som bom nacional também está sendo feito. O papel e a importância do sound system, quem define é o seletor, que vai ter o trabalho desde de o momento que compra um disco, ou chamar alguém pra falar no microfone, pode ser uma mensagem que valha a pena ser ouvida ou pode cantar, ficar rindo, falando besteira, quem defini isso é o próprio seletor.

Com um maior número de sounds systems crescendo, vai ser mais fácil para cada pessoa decidir aonde quer ir e o que quer ouvir. Eu particularmente detesto mc de sound system que pega no microfone pra falar besteira, se não tem o que falar melhor é ficar quieto. Tem uma galera que eu espero que logo estabeleça uma residência em algum lugar como o Planeta Dub do Roberto e o Zé Luis, o Planeta Dub é uma das duplas (se não a única) das mais conscientes em SP com um discurso sério e mandam muito fogo, e têm uma seleta finíssima também, o Lucas Corpo Santo com os “obscure tunes” dele, eu penso que deveriam com certeza tocar muito mais. Tem também trabalhos estruturados como o 7velas, Digitaldubs, Urcâsonica, o Dubversão. Agora, fora esses, existem vários outros trabalhos que não aparecem quase e se ficar citando todos que chegam pra gente da um livro. Existe muita gente com ótimos projetos no Brasil, só que alguns caras tem uma mentalidade que se mais um chega, vai tomar um espaço ou embaçar o brilho, deve ser insegurança, medo ou qualquer coisa do tipo por parte alguns, mas isso esta mudando, quanto mais gente estiver trabalhando, mais oportunidade cada um vai ter de mostrar ao que veio realmente.


RM: Você além de desenvolver o trabalho de pesquisa e conteúdo do FYA DUB é também selector e elabora excelentes produções com alguns toasters. Fale um pouco deste trabalho, das referencias, e de seus parceiros de missão.

RAS: O Zulu é meu bredah há 15 anos, então já é considerado da família mesmo, quando surgiu a oportunidade e ele me chamou pra trabalhar com ele no Turbulence Inna Babylon, junto com o Planeta Dub, topei na hora. O Zulu por mais que as pessoas não saibam, ou porque não é divulgado, é um das pessoas mais importantes no underground paulista. Ele esta com um play saindo do forno junto com o Buia e o trabalho é ótimo, fez uma música com participação do Sambatuh que é um dos melhores sons reggae que eu ouvi produzidos aqui no Brasil.

O Sambatuh é meu breddah e agora também é meu vizinho, tenho muito respeito por ele, esses dias estávamos conversando e falei que tinha ido uma vez numa festa do Grupo Kaya em 1994 se não me engano, e disse que tinha visto um toaster cantando em inglês na festa, e não é que era o Sambatuh, quem diria que depois de 12 anos estaríamos juntos na caminhada. O Sambatuh hoje para mim é o mais completo MC para o tipo de trabalho que quero fazer, e temos afinidade na forma de pensar, ele canta em português e em inglês, canta em riddims de dancehall, roots, stepper, em cima de hip hop. Essa é a cara do FyaDub, flexibilidade e versatilidade, é trabalhar com entretenimento passando idéias que valem a pena serem ouvidas. No site o slogan é “Música, Cultura e Informação”, nas festas poderíamos dizer facilmente que é “Lazer, Entretenimento e Vibração”.

O Simbá, eu conheci no Congo Nya há alguns anos, nas reuniões que aconteciam no Bom Retiro, tocamos juntos no Susi algumas vezes e convidei ele pra ir tocar junto comigo em Santo André. O Simbá tem uma fluência vocal que está no grau de qualquer artista do mainstream do dancehall, e já está compondo em português, logo logo dá pra ver o trabalho do Third I Vision, que é a banda dele lançado, já está finalizando o disco e um documentário junto com o Zulu e a Olldg Filmes. Tem o 2ban também, que mora em Londres, ele meio que produz igual o Sizzla, toda semana ele manda umas 4 ou 5 músicas diferentes, e compõe letras muito inteligentes, faz uma música militante, que é o tipo de música que eu mais gosto, o trabalho dele em Londres, o “Smash Mouth Education” é um trabalho como o do FyaDub aqui no Brasil, é meio que uma linha de produção, pode-se dizer que os projetos já são co-irmãos. Produzimos música, textos, festas, etc. E em breve lançamos mais algumas músicas com os mc’s daqui e com mais um mc de Londres além do 2ban.


RM: Cite os 5 sons que não faltam em suas seleções

RAS: Essa me apertou sem me pegar!!! Difícil escolher só 5. Mas hoje são esses:
Iration Steppas – Whats Wrong – Iration Steppas hoje é uma das sounds que eu particularmente mais gosto e o riddim de Whats Wrong é realmente um dos melhores dos melhores que já ouvi.
Chuck Star – Arise – Esse aí é Shaka Selection, conscious dancehall. Sendo seleta do Shaka, nem precisa comentar muito, é Sound killer. Quem conseguir achar vale a pena.
Culture Freeman – King David Style – Produção do Busch Chemist com uma levada rub a dub do Culture Freeman, a escaleta muito boa, riddim maravilhoso.
Sizzla – Hard Ground – O instrumental é uma sugada geral do Black Uhuru da música “Leaving To Zion”, e a letra é ótima também. É uma das minhas preferidas do Sizzla.
Dillinger – Youthman Veteran – Essa é pros jovens veteranos, um Dillinger totalmente diferente das produções dos anos 70. Com produção do Jah Warrior.


RM: Existem duas facetas de noites de reggae muito claras: Eventos com Bandas "roots" e os eventos que priorizam o reggae voltado para as pistas, com as performances de Selectors e Toasters. O que pensa de ambos? Acha que pode correr o risco do reggae se tornar um produto elitizado, que só alcance os que tem poder de compra?

RAS: Eu gosto de banda, só não gosto de som muito lento, dos últimos shows que eu vi de bandas nacionais, QG Imperial acompanha ótimos mc’s e tem a pegada que eu gosto, Third I Vision e Jah I Ras das bandas de reggae roots, são as minhas preferidas e que mais me cativam a ir ver. Agora tem algumas que é impossível ficar mais de 5 minutos ouvindo, falta harmonia, musicalidade e sinceridade no que fazem, é muita encenação e pouco som.

Em uma sound system vai muito dinheiro e tempo, o FyaDub ainda não tem a pretensão de desenvolver uma sound system com caixas e tudo o mais (por enquanto), é muito dinheiro, muito trabalho e se depende de outras pessoas, sozinho não dá pra bancar a estrutura toda; caixas precisam de um lugar pra ficar, transporte, discos, set do dj... demora algum tempo para montar tudo isso. Prefiro hoje investir em produzir músicas, que é tão trabalhoso quanto montar um sound. A questão de elitizar o reggae, já está elitizado, em poucos lugares a música está chegando no gueto realmente, e ainda bem que está chegando. O DUB é uma música elitizada hoje porque quem começou a divulgar isso, não falava a língua do gueto, parece ser hoje um tipo de música intelectualizada, tem que ser um gênio e estudioso para entender o DUB, e isso afasta algumas pessoas da música, e quando na verdade o DUB é uma variação do Reggae, apenas isso, não tem muito que entender não. Diferenças são apenas na forma de expressar o que cada um pensa que o que é a música em si, o que sente e como cada um produz a sua música.

O “reggae farofa” que fala de cachoeira, praia, etc, meio que entra em conflito com a atitude urbana do gueto, verdade também que muita gente gosta desse tipo de música, mas também muita gente está acostumada com o hip hop, com festas dançantes mesmo e gostam de batidas mais pesadas, esse é o público que quero particularmente. Quando essa galera acaba ouvindo um Bounty Killah, Sizzla, Capleton, Anthony B e se diz para o gueto o que eles estão falando - aí está à importância de um mc que fale português dizendo o que eles dizem. Falam a mesma língua que o gueto fala, não interessa se é em Kingston, na CDD ou no Capão, todos fazem uma música militante de protesto, pedindo mudanças, tem o mc também que agita as festas, faz as meninas dançarem, assim é obvio que o gueto vai se identificar e ter um pouco mais de curiosidade, e mudar alguns conceitos quanto ao reggae. Difícil é apenas tentar falar com as pessoas que vivem em extremos pela net, tem que sair de casa e viver, nem todo mundo na periferia têm o acesso a um micro em casa para fazer download de discos e buscar informações. Se for apenas assim, vai sempre ser coisa de playboy metido a intelectual mesmo, achando que manja tudo porque baixou 200 mp3. Música é para todo mundo, não tem essa de ter grana ou não, se o cara é de tal religião ou daquela outra. Se você gosta do som, que aproveite então, não adianta tentar bolar uma matemática mirabolante para explicar o inexplicável.


RM: Fale um pouco das reformulações do Fya Dub e o que o público pode esperar de novidades!

RAS: O site agora vai ser reformulado totalmente, só o conteúdo bruto (textos, releases, entrevistas, etc) vai permanecer e alguns textos terão uma revisão e poucas alterações para ficarem mais claros. Uma rádio on line vai rolar, sem o compromisso de ser semanal ou qualquer coisa do tipo, mas espero fazer pelo menos 2 programas por mês com um convidado, e poder fazer o que não dá pra fazer numa festa, trocar idéias, ler e mails, e ter uma seleta aberta, tocar coisas de outros países sem uma grande visibilidade no reggae, como a França, Lituânia, algumas coisas Africanas, e algumas músicas que acabam não rolando nas festas. E também poder falar e discutir sobre o que é falado nessas músicas, é bom pra todo mundo entender o que está ouvindo, já que numa festa não rola fazer isso. As páginas com artistas irão ter vídeos, vamos ter mais critério também quanto a quem entra no site, vamos ter uma página de links mais fácil de achar o que se está procurando, fazer com que as pessoas naveguem mais facilmente no site.


RM: Qual a nova ordem mundial que percebe estar sendo escrita pela música?

RAS: Infelizmente no Brasil não tem uma militância na música há muitos anos, se tratando de reggae acho que nunca teve. O reggae aqui mesmo teve início em divulgação na mídia em 1979 com o Gilberto Gil cantando “não chores mais” e estagnamos em 1984 com o disco Selvagem dos Paralamas (salvam-se poucas exceções como sempre digo), depois disso, é a mesma praieira até hoje, se essas bandas de quebra-mar ainda fizessem algum trabalho de conscientização ecológica, até diria que estão no caminho certo, mas é sempre a mesma conversa de amor entre homem e mulher, um chororô nas músicas, uma dor de cotovelo que não leva a lugar nenhum, e quando não, é um nóia hiponga falando que fuma na folha de bananeira, tem que tacar FOGO nessa conversinha.

Não dá para falar de amor se não souber por completo o que é amor, não há amor enquanto houver desrespeito. Desrespeito de todas as formas, não há trabalho, não há estudo, não há nada voltado à autogestão e o incentivo a comunidades, e as comunidades culpam pessoas que eles nem ao menos lembram em quem votaram. Já dizia Bob Marley; “um homem faminto é um homem com ódio”, e não faminto só por comida, é faminto de melhoria, de estudo, trabalho, saúde. A música tem um papel importante na militância social e política, a música é uma forma de expor o que passamos, desde a festa até as dificuldades. O artista se torna espelho para as pessoas na comunidade. As comunidades devem tomar como um exemplo a CUFA no Rio de Janeiro, o Ile Aye na Bahia que trabalha há muitos anos, tem de agir com uma movimentação real dentro das comunidades.

Hoje não há mais motivo para se votar em ninguém, porque não há ninguém que mereça ser votado, cada um tem que aprender a trabalhar e a fazer por si e pela comunidade, criar diferentes formas para tentar acabar com problemas sérios de saneamento básico, incentivar a criação de cooperativas para reciclagem dentro das periferias, se educar financeiramente e economicamente fazendo com que o dinheiro gire entre a comunidade, incentivando a Autogestão, descentralizar e tirar todo o poder de decisão do Estado. A comunidade querendo fazer, vai lá e faz. Hoje uma pessoa vai ao armazém do vizinho e pede um kg de feijão para pagar depois, mas se ele se negar a vender dessa forma, essa pessoa vai num Hiper Mercado e paga à vista dando o dinheiro pro gringo, que vai levar esse mesmo dinheiro pra investir fora do país. Essa mentalidade que tem que mudar, e só vai mudar a partir do momento que a comunidade ouvir e se conscientizar que ela tem que trabalhar por ela mesma, aí entra o papel do músico, do artista, que serve como referencia pra muitas pessoas do gueto.


RM: Fale um pouco das produções sonoras que vem por aí...

RAS: O FyaDub está preparando mais músicas e logo mais vai dar pra ouvir algumas coisas em português com Sambatuh, Zulu e Simbá, vai ter também mais sons em parceria com o Smash Mouth Education com 2ban e Paa’tal com qualidade bem melhor do que foi lançado no myspace do Fya. Já estamos desenvolvendo contato também com outros artistas de fora, e vai vir música para todo mundo, dancehall, uk stepper, roots, hip hop, versões nossas para alguns riddims clássicos e outros obscuros, vai ter para todos os gostos, só aguardar.


RM: Deixe uma mensagem para o reggaemovimento...

RAS: Quero agradecer o espaço que o Reggae Movimento está dando para expor tantas idéias, parabéns para o site e por tudo que vem fazendo pelo reggae, divulgando e dando suporte aos artistas e projetos independentes. E dizer que mesmo em estados diferentes estamos linkados. Isso é Unity, mesmo estando longe sempre estar conectados e unidos nas idéias e ações. Nuff Respect!!! Jah Jah Bless Ya.


RM: Valeu Ras, força na caminhada sempre e firme na luta!

Jah Bless!

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