sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CONHECIMENTO REINA SUPREMO SOBRE (QUASE) TODO MUNDO - KRS ONE :: BOOGIE DOWN PRODUCTIONS

“Em vez de ler a palavra de Cristo, seja a palavra de Cristo. 
Em vez de seguir a palavra de Deus, seja a palavra de Deus. 
Essa é a consciência do Hip Hop. 
Você não está fazendo Hip Hop, você é o Hip Hop. 
Você não está apenas lendo a palavra de Deus, você é a palavra de Deus.” 
- I Will Make It – KRS One

As palavras acima são de Lawrence Krisna Parker, um rapaz nascido no Brooklyn/NY em 20 de agosto de 1965 descendente de jamaicanos, conhecido por seu apelido  notório como mc KRS-One (um acrônimo de Knowledge Reigns Supreme Over Nearly Everybody – Conhecimento Reina Supremo Sobre Quase Todo Mundo) ou também pode ser chamado de Teacha (Professor).

Parker deixou sua casa aos 16 anos sonhando em ser mc, vivendo em abrigos no South Bronx, onde ganhou o apelido de “Krishna” pelos residentes do abrigo pelo seu interesse na espiritualidade Hare Krishnas (e se tornou um vegetariano nesse período) na busca sobre os trabalhos contra a pobreza. Nesse momento, Parker conheceu Scott Sterling, parceiro nos grafites onde fazia o tag mais conhecido KRS-ONE. Scott se tornaria mais conhecido como DJ Scott La Rock, faria um duo com Parker e formaria o grupo com outros mc’s chamado “Scott La Rock And The Celebrity Three”, que durou pouco, e restou apenas Scott e Parker – que usava o apelido de KRS-One oficialmente e batizaram um novo trabalho como “Boogie Down Productions”. O primeiro single foi “Success Is The Word” produzido por David Kenneth Eng e Kenny Beck  lançado pelo selo “12:41” mas que de sucesso não obteve nenhum. Juntos seriam parte de um dos trabalhos mais conceituais no Hip Hop com KRS-One e Derrik D-Nice Jones, o Boog Down Productions (BDP).

Apos a rejeição de muita gente, desde produtores de eventos, rádios e de outros grupos, a principal treta talvez tenha sido no principio com o DJ Mr. Magic e Marley Marl. KRS-One não aceitou muito bem a rejeição e trocou farpas com ambos. O que viria a ser conhecido como “The Bridge Wars” – é a treta de rappers que teve muito pano para a manga e é lembrado como um dos episódios memoráveis no que consiste sobre batalhas entre mc’s, principalmente entre KRS-One e MC Shan. Esse mês ainda fazemos uma matéria especial sobre essa parte da história do Hip Hop.

KRS-One achou ofensiva a musica “The Bridge” de MC Shan – na época protegido de Marley Marl que também produziu a musica.  Na letra, Shan falava que o Hip Hop foi fundado em Queensbridge. KRS-One em resposta gravou “South Bronx”. E não parou por ae, MC Shan gravou “Kill that Noise” e a resposta na seqüência de BDP foi “The Bridge Is Over”.

Em um dos shows, KRS-One mostrou que um dos seus apelidos (The Blastmaster) era real e devastou MC Shan ao vivo. Muitos (não eu) acreditam que essa foi a primeira batalha real entre mc’s em que um atacava o outros com rimas e fazia o público ficar ao seu lado. Nesse período, KRS-One já ganhava notoriedade por ser um dos primeiros mc’s a incorporar o flow jamaicano no Hip Hop. Uma de suas primeiras incursões foi usar parte da melodia de “Zunguzungu Zeng” de King Yellowman.

Quando KRS-One usou tanto o flow de “Zunguzungu Zeng” e o sampler do riddim “Diseases”- original de Alton Ellis na musica “Mad Mad” em 1967 pelo Studio One. Quando KRS-One usou o sampler na musica “Remix for P is Free”, foi oficialmente creditado a ele o titulo de uma das figuras mais influentes ao conseguir introduzir de forma original a ponte entre a musica jamaicana e o Hip Hop americano. No decorrer do tempo, essa mesma frase de Yellowman foi usado por Heavy D, Fugees, Notorius Big, Tupac Shakur muitos outros. O sampler de “Mad Mad/ Diseases” produzido por BDP foi refeito pelo duo BlackStar formado por Talib Kweli e Mos Def na musica “Definition”.

Juntos com Scott La Rock, KRS-One lançou seu primeiro álbum; Criminal Minded em 1987. BDP foi o primeiro grupo a fazer uma capa com armas e KRS-One o precursos das letras hardcore e gangsta rap. Antes de mártires assassinados no Hip Hop como Notorios Big, Tupac Shakur, Jam Master Jay, o  DJ Scott La Rock foi assassinado a tiros poucos meses depois do lançamento do álbum ao separar uma briga entre D-Nice e uma gangue local.

Nesse mesmo ano de 1987, Afrika Bambaata promoveu um encontro histórico no clube Latin Quarter onde ele fez com que a comunidade do Hip Hop se tornasse (e se educasse) de forma mais ativa socialmente e politicamente. Esse encontro influenciou KRS-One de forma a lançar um single chamado “Stop The Violence”.  A popularidade da musica fez com que outros grupos seguissem esse mesmo conceito de letras conscientes no meio do Hip Hop.

Apos o assinato de Soctt La Rock, KRS-One deu continuou com o Boogie Down Productions por mais alguns anos apos a tragédia. BDP lançou o álbum “By All Means Necessary” em 1988 junto com parte da fundação do BDP como D-Nice e Ramona “MS. Melodie” Parker e o DJ Kenny Parker e alguns outros produtores, dj’s e mc’s. Nesse período, Boogie Down Productions mudou seu foco de letras para voltado ao protesto político e social seguindo pelos discos; Guetto Music: The Blueprint Of Hip HopEdutainmentLive Hardcore Worldwide e Sex And Violence.

KRS-One foi um dos incentivadores ao projeto H.E.A.L (Humans Education Against Lies – Educação Humana Contra Mentiras) e posteriormente o Stop The Violence Movement, um movimento sem fins lucrativos baseado na comunidade do Hip Hop com a missão de avançar na diminuição da violência, promover eventos educacionais, diálogos, encontros organizacionais e direcionamento da comunidade. O movimento promoveu no decorrer dos anos programas, workshops, simpósios e campanhas alertando os efeitos da violência, criando forums direcionados a orientação dos jovens, pais e resolução de conflitos na própria comunidade.

Com a disseminação de idéias muitos mc’s participaram do single “Self Destruction” em 1989. KRS-One dividiu a autoria com o musicologista Nelson George. A musica alertava contra a violência dos pretos-contra-pretos e tinha versos como os de Kool Moe Dee; “I never ever ran from the Ku Klux Klan, and I shoudn’t have to run from a Black man”[ Eu nunca corri da Ku Klux Klan, e não é agora que vou correr de um homem preto.]

A partir desse ponto, as diretas em suas letras, as tretas e tudo o que envolvia o mundo de KRS-One mudaram o foco, o apelido de “Blastmaster” (usado uma vez ou outra) ficou de lado, deixou a aproximação defensiva e adotou de vez o seu papel de “Teacha”.

Apos cinco álbum sob o nome Boogie Down Production, KRS-One decidiu usar seu próprio nome e seguir por si só. Seu primeiro álbum solo Return Of The Boom Bap foi lançado em 1993. Na produção estiveram presentes DJ Premier, Kid Capri e Showbiz, esse último produziu um dos clássicos de KRS-One, Sound Of Da Police. Seu segundo álbum, intitulado com seu próprio nome KRS-ONE, convidou diversos nomes para trabalhar junto como Mad Lion, Rimo, Busta Rhymes, DAS EFX, Fat Joe e alguns outros, e não poupou nomes em suas musicas como a de C. Delores Tucker do BCRA (Black Civil Rights Activist) na musica “Free Mumia” em parceria com Channel Live. Channel Live foi um grupo organizado por KRS-One e no mesmo ano de 1995 lançou um álbum chamado Station Identification produzido por KRS-One, Rheji Burrel e Salaam Remi.

Em 1997, o lançamento do álbum I Got Next, liderado pelo single Step Into A World (Rapture’s Delight), com um sampler da musica Rapture banda punk/new wave Blondie – que na minha opinião a musica ficou muito melhor com KRS-One do que com a própria banda, e também contava com um remix do comercialíssimo Puff Daddy na época mas nada que se igualasse a original. I Got Next foi o disco mais vendido do KRS-One, chegando a No 3 na Bilboard 200, tanto pelas participações como pelos samplers de bandas e grupos conhecidos facilmente reconhecidos, fez com que muitos dos apreciadores e observadores ficaram surpresos pelo discos, já que o anti-mainstream de KRS-One é fatídico.

Nesse ano, um dos episódios mais tensos foi a entrevista na BBC Radio 1 de KRS-One com TIM Westwood. KRS-One denunciou no ar o DJ e a Radio, dizendo; “eles não sentem Westwood, ele é um vendido e vendeu sua alma para o lado obscuro”, e que ignoravam seu estilo de Hip Hop mais consciente e protestante, favorecendo o espaço aos artistas mais comerciais como Puff Daddy (bem isso é em qualquer lugar – até mesmo aqui!!!). Depois da troca de farpas com Westwood, o disco e o single “Step Into My World” se tornou o trabalho com maior evidencia e o mais vendido de todos. Em 2007, em uma nova turnê pelo Reino Unido, KRS-One novamente soltou suas farpas contra Westwood em seus freestyles.


Em 2004, uma nova controvérsia se tornou parte da vida de KRS-One, em uma discussão promovida pela revista The New Yorker tratando dos atentados de 9/11, KRS-One soltou a pérola; “We cheered when 9/11 happened [Nós comemoramos quando o 9/11 aconteceu]”. O comentário gerou criticas de diversos canais de comunicação, incluindo o New York Daily News que chamou KRS-One de anarquista e disse “que se Osama Bin Laden tivesse comprado um disco de rap, ele provavelmente teria começado com um CD de KRS-One”.

KRS-One respondeu sobre os comentários no site AllHipHop.Com;

“Perguntaram-me sobre o porquê do Hip Hop não se envolver mais com a situação atual (ou seja, 9/11), a minha resposta foi "porque não nos afeta, ou pelo menos não percebemos que isso nos afeta, o 9/11 aconteceu a eles ". E eu disse que "eu estou falando para a cultura agora, eu não estou falando a minha opinião pessoal." Eu continuei a dizer, "9/11 afetou a parte do centro. Os ricos, os poderosos, aqueles que estão nos oprimindo como uma cultura; a Sony, a RCA ou a BMG, Universal, as estações de rádio, o Clear Channel, a Viacom com a BET e a MTV, esses são os nossos opressores, essas são as pessoas que estamos tentando superar no Hip Hop todos os dias, isso é uma coisa diária. Nós aplaudimos quando 9/11 aconteceu em Nova York e dizemos que de estar aqui aqui. Porque quando estávamos lá no comércio do centro, que estávamos sendo atingidos na cabeça por policiais, disseram que não podíamos entrar no prédio Trade Center, apressou-se para a estação de trem por causa do modo como vestiamos e conversávamos, e assim por diante, éramos racialmente perfilados. Assim, quando o aviões atingiram o edifício, nós éramos como, "mmmm, a justiça." e assim quando eu comecei a dizer "agora, é claro, muitos de nossos amigos e familiares foram perdidos lá também" fui interrompido ...” (Leia a resposta integral em inglês nos comentários).

Em 2005, KRS-One participou junto de Chuck D do remix da musica “Bin Laden” de Immortal Techique produzida pelo DJ Green Lantern, que culpa os neo-conservadores estadunidenses, a doutrina Reagan e o ex presidente George W. Bush pelo ataque ao World Trade Center, e indica um paralelo de desvalorização, destruição e violência urbana nos guetos e comunidades.

Em 29 de abril de 2007, KRS-One novamente defendeu seu ponto de vista a respeito dos ataques em 9/11, quando o questionaram sobre o tema no programa Hannit’s America do canal Fox News, a resposta foi imediata; “o povo aplaudiu quando acertaram esse establishment [império], não quando pessoas estavam morrendo ou tinham falecido”. Ele também discutiu sobre outras coisas, o escândalo “Don Imus” e o uso de linguagem e temas profanos no Hip Hop.

Em 2011, a controvérsia sobre o 9/11 e o terrorismo novamente foi tema para KRS-One apos 10 anos do atentado. O vídeo da musica Real Terrorism no qual fazia uma participação com o rapper Greenie, foi banido do youtube por conteúdo impróprio. O vídeo continha imagens atuais das atrocidades estadunidenses na historia contemporânea. A musica diz que os Estados Unidos são culpados por terrorismo e todas as atrocidades praticadas em outros países pelos Estados Unidos. A musica e o vídeo trouxe muita controvérsia principalmente em grupos conservadores e opiniões controversas de quem apóia a liberdade de expressão e o discurso livre que voltaram a postar o vídeo (mesmo banido) no youtube novamente. O mesmo vídeo em outros sites de hospedagem de vídeo como Vimeo tiveram mais de 50 mil acessos em poucos dias. Questionado sobre o tema, o youtube se recusou a fazer qualquer comentário sobre o vídeo e a ação de banir por conteúdo impróprio.

Apos ter deixado alguns projetos de lado e um disco engavetado, KRS-One se tornou vice presidente da A&R na Reprise Records. E lançou o álbum Maximum Straight 2008. Mudanças vieram, ele se mudou para a Califórnia por dois anos e terminou seu vinculo com a Jive Records com o disco A Retrospective.

Fora todo seu trabalho como mc e produtor, KRS-One publicou alguns livros a partir dos anos 90; The Science Of Rap (1995) e Ruminations (2003), recebendo criticas do tipo “um tema compreensivo, com uma parte de auto-ajuda, parte manifesto. Realizou uma sondagem perfurando a reflexão metafísica sobre tudo, incluindo a religião, o governo e a industria da musica.” (resenha por Black Issues Book Review). Em 2009 foi a vez do lançamento do livro The Gospel Of Hip Hop, lançado pelo próprio KRS-One com seu próprio ponto de vista. “I Am Hip Hop”, o livro, foi impresso pela Power House Books Publishing. Esse trabalho literário de KRS-One coloca em primeiro plano as praticas culturais e a filosofia moral do verdadeiro Hip Hop. Os livros servem como uma forma de expressão criativa de uma cultura extremamente vibrante. Questionado a respeito do livro, KRS-One respondeu que “The I Am Hip Hop impresso vai servir como uma casa para a verdadeira e real expressão do Hip Hop”.

O livro Gospel Of Hip Hop é uma peça fundamental e filosófica no formato da bíblia cristã com mais de setecentas paginas, e serve basicamente como um livro guia para quem considera o Hip Hop uma verdadeira cultura. O livro combina fé e um fascinante e clássico conhecimento pratico do Hip Hop em um caminho muito mais profundo. Um dos caminhos traçados no livro é do auto-criação e detalha o desenvolvimento da “Kultura Hip Hop”. O livro traz de forma especifica e citações, diversas manifestações na historia onde o leitor descobre que o mesmo espírito e idéias são aplicadas no Hip Hop. KRS-One explica que o Hip Hop atualmente tem um significado histórico e lingüístico, no qual um leitor pode assimilar todas as informações e criar um caminho para o amor, saúde, conscientização e riqueza.

Alem de permanecer leal as organizações e grupos que preservam o Hip Hop como a Zulu Nation, o Hip Hop Congress e o Rock Steady Crew, KRS-One fundou outras duas organizações sem fins-lucrativos incluindo o já citado H.E.A.L. em 1991 e o Templo do Hip Hop em 1996. KRS-One ainda se mantém como um organizador da comunidade, filosofo e filantrópico. Alem de participar de manifestações políticas em apoio a Mumia Abu Jamal e Nelson Mandela, também gera novos pontos de vista e controvérsias (diferente de contraditório) a respeito dos ataques de 9/11, jamais pode se dizer que KRS-One recuou de qualquer discussão. Até hoje ele ainda faz palestras regularmente, inspira paz, amor, segurança e unidade. Para KRS-One Hip Hop é um estilo de vida capaz de elevar a auto-estima de cada pessoa, e provou isso no decorrer de todos esses anos de Hip Hop!!!



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