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terça-feira, 20 de abril de 2021

OS IMPERADORES ETÍOPES E A ESCRAVIDÃO

A escravidão na região etíope é de "grande antiguidade". (Pankhurst, 1964, p. 202.) Inscrições históricas que remontam a 1495 a.C. apontam para a subjugação de pessoas da Terra de Punt à escravidão. (Encyclopedia Aethiopica, p. 673.) Existem também fontes que indicam a exportação de escravos do Reino de Aksumit (100–940 DC), um território que incluía partes da Eritreia e Etiópia dos dias modernos.

A escravidão continuou a ser um “costume nacional” (Comyn-Platt, p. 152) na Etiópia até o início do século XX. (Pankhurst, 1968, p. 73.) Tanto que mesmo governantes etíopes, incluindo aqueles que não aprovaram a instituição, como o Imperador Menelik II (1889-1913) e o Imperador Haile Selassie (regente da Etiópia, 1916-1930 e Imperador da Etiópia, 1930-1974), teriam possuído escravos aos milhares. (Pankhurst, 1968, p. 75.) Alguns até participaram pessoalmente de incursões de escravos; o caso mais notável é o de Iyasu V (1913-1916), (também conhecido como Lej Iyyasu) e sua expedição de incursão de escravos em 1912 (p. 32).

Uma das primeiras leis escritas para regular a escravidão na região etíope foi The Fetha Nagast (A Lei dos Reis) (subir arquivo no grupo do fyadub), uma lei tradicional para os cristãos etíopes traduzida de escritos árabes do século 13 de um escritor copta egípcio, Abu-l Fada'il Ibn em- 'Assal. (Goadby, p. 181; Pankhurst, 1968, p. 74.) Sob (as leis) o Fetha Nagast, uma categoria de pessoas podiam ser legalmente escravizadas quando eram feitos prisioneiros de guerra (POWs). Declarou; 

[O] estado de liberdade está de acordo com a lei da razão, pois todos os homens compartilham a liberdade com base na lei natural. Mas a guerra e a força dos cavalos trazem alguns ao serviço de outros, porque a lei da guerra e da vitória torna os escravos vencidos dos vencedores.

Também previa a escravidão de não crentes e filhos de escravos.

Uma pessoa não precisava ter lutado pelo lado perdedor de uma guerra ou ter nascido em uma certa classe de pessoas para acabar como escravo, pois havia bases adicionais para escravizar pessoas. Por exemplo, uma mulher que coabitou ou se casou com um escravo pode ser escravizada. O não pagamento das dívidas poderia resultar em "escravidão temporária", também conhecida como servidão por dívida (Encyclopaedia Aethiopica, p. 679) (naquela época, não se podia pedir proteção contra falência). A escravidão também pode ser imposta como punição por cometer certos crimes, também conhecida como “escravidão punitiva”. O decreto do imperador Menelik de 1899 determinando a escravidão de ladrões e pessoas que vendiam escravos em violação de sua proibição é um bom exemplo dessa forma de escravidão.

Os escravos tinham um status duplo sob o Fetha Nagast. Por um lado, eles foram tratados como propriedade. Os escravos não podiam possuir propriedade própria, servir como testemunhas (embora na prática esta proibição fosse frequentemente desconsiderada, especialmente em casos de homicídio), fazer testamentos (embora fossem autorizados a fazê-lo com a permissão de seu mestre), agir como juízes, deter outros cargos públicos, servirem como tutores ou representarem seus senhores em processos judiciais. Mais importante ainda, eles poderiam ser vendidos (com uma exceção notável: a venda de um “escravo crente para um descrente”) ou alugados - como qualquer outro bem móvel. Por outro lado, havia maneiras pelas quais os escravos (principalmente os escravos cristãos) eram tratados como seres humanos. Isso é ilustrado pela existência da obrigação do proprietário de escravos de permitir que os escravos adorassem, bem como da proibição de separar as escravas de seus filhos; na venda de irmãos colocados à venda ao mesmo tempo a dois compradores diferentes; ou na separação de um escravo de sua esposa ou filho.

O Fetha Nagast determinou várias instâncias em que os escravos deveriam ser libertados. Um escravo pode ser emancipado:

  • Se o escravo tivesse servido a duas gerações de uma família (uma espécie de plano de aposentadoria);
  • Se um membro da família do mestre se tornou padrinho ou madrinha do escravo;
  • Se o escravo se tornasse padre ou monge (é claro, para isso o escravo precisava da permissão do mestre);
  • Se o escravo se tornasse um soldado;
  • Se o escravo tivesse salvado a vida de seu mestre;
  • Se uma escrava grávida fosse emancipada, seu filho nasceria livre;
  • Se um escravo foi feito prisioneiro durante a guerra, mas voltou para seu senhor por sua própria vontade depois; e
  • Se um proprietário de escravos morresse sem deixar herdeiros.

No entanto, a falta de controle efetivo dos governos centrais sobre as vastas partes da região etíope significou que a aplicação das disposições do Fetha Nagast e outras leis foi limitada. (Goadby, p. 180.) Além disso, o fato de pessoas em posições de autoridade, como juízes e chefes, também serem proprietários de escravos que apoiavam a instituição tornava difícil para os escravos afirmarem sua liberdade.

A escravidão na Etiópia foi abolida em 1942 pelo imperador Haile Selassie [1]. No entanto, ele não foi de forma alguma um pioneiro na luta pelo fim da instituição. Ele admitiu isso em sua autobiografia, na qual credita a seus predecessores as tentativas de assumir a instituição da escravidão. (Haille Sellassie, Vol. I, p. 80.)

Diz-se que o imperador Tewodros II (1855-1869) fez a primeira tentativa de acabar com a escravidão quando, em 1854, pouco antes de sua coroação, proibiu o comércio de escravos. (Zewde, p. 34; Pankhurst, 1968, p. 93) No entanto, ele não tentou abolir completamente a instituição da escravidão, em grande parte porque acreditava que as raízes profundas da prática na sociedade tornavam tal tentativa impraticável. Essa também foi a razão para ele formar uma exceção à proibição do comércio de escravos, em que permitia que os cristãos comprassem escravos se o fizessem por caridade. Durante esse período, ele tentou dar o exemplo, fazendo vários gestos para desencorajar a escravidão, incluindo a compra de escravos de comerciantes muçulmanos, batizando-os e proibindo seus soldados de vender prisioneiros de guerra. (Zewde, p. 34)

A proibição do comércio de escravos de 1854 teve pouco efeito e o comércio de escravos continuou a florescer. Ao perceber que isso era em grande parte causado pela exceção feita à proibição do comércio de escravos, em 1862 o imperador emitiu um decreto proibindo a venda de todo e qualquer escravo cristão, cuja violação estava sujeita a uma pena terrível; uma pessoa pega negociando escravos cristãos teria suas mãos e pés amputados. (Encyclopaedia Aethiopica, p. 680.)

Mais uma tentativa malsucedida de restringir a instituição da escravidão foi feita pelo Imperador Yohannes IV (1872-1889). Ele assinou um tratado com a Grã-Bretanha em 1884 que buscava acabar com o comércio de escravos, incluindo a importação e / ou exportação de escravos na região. Nele, ele também concordou em proteger os escravos emancipados. Embora se diga que ele fez uma tentativa genuína de manter sua parte no acordo, suas ações não puderam refrear efetivamente o comércio de escravos e as incursões de escravos. (Pankhurst, 1968 p. 99.)

O Imperador Menelik II não era diferente em sua aversão à instituição da escravidão, embora nem sempre fosse consistente em suas ações. Em 1876, ele emitiu uma proclamação em que proibia os cristãos de comprar e vender escravos em seus territórios e ordenava que qualquer muçulmano pego viajando com escravos fosse preso e julgado. (Pankhurst, 1968, p. 100.) Essa lei era ineficaz em parte porque o próprio Menelik violou seus termos ao, entre outras coisas, continuar cobrando impostos dos mercados de escravos. Após sua ascensão ao trono em 1889, ele emitiu novamente um decreto abolindo a escravidão. (Encyclopaedia Aethiopica 680.) No entanto, ele abriu uma exceção para prisioneiros de guerra e usou essa exceção para escravizar milhares de prisioneiros de guerra. Conforme observado acima, ele também usou a escravidão e o escravagismo como uma ferramenta para punir certos criminosos.

Em meu próximo post, destacarei as tentativas frutíferas feitas para pôr fim à instituição da escravidão na década de 1920, levando à sua abolição completa em 1942, com a promulgação da Proclamação da Escravatura (Abolição) de 1942. Fique ligado!

Os seguintes materiais da coleção da Biblioteca do Congresso foram usados na preparação desta postagem:


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

10 LIVROS ESSENCIAIS SOBRE RASTAFARI



Em tempos tão estranhos, onde se deturpam ideias, conceitos, pilares espirituais, e mensagens. Qualquer dizer é o start, que dá início a um conflito inimaginável na internet, principalmente no facebook. Um caso muito interessante é realmente de um curso rastafári com cobrança. Anos atrás, esse tipo de coisa não existia, mas hoje existe. Não que eu vá dizer para você não fazer ou ir fazer, até porque quem cuida da sua vida e do seu dinheiro é você. 

A verdade é que conhecimento não é 'de grátis', nunca foi. Conhecimento sempre foi algo dispendioso, e se trata de dinheiro e tempo, mas existe algo mais caro e arriscado que é charlatanismo, seita religiosa, proselitismo, sincretismo religioso. E isso é algo perigoso e nunca fez bem a absolutamente ninguém. A moda hoje são os coach's de absolutamente tudo, e nesse tudo hoje, pode incluir o rastafári. 

Agora existe uma forma de você conhecer algo, saber, compilar informações e discutir com pessoas que você confie nas ideias e conhecimento. Mas para discutir, conversar, tirar suas dúvidas e até mesmo contestar informações é preciso ter informações em mãos. Se você assumir que a palavra de alguém é uma verdade absoluta - leia a parábola da verdade; isso pode ser tão perigoso para você, tanto quanto é perigoso para quem te cerca. Leia, estude, conheça, saiba através do seu próprio tempo e de acordo com a sua ambição em conhecer algo mais profundamente.

Eu separei 10 (dez) títulos de livros que você pode ler sobre rastafári - mas existem outras centenas que voê pode escolher para ler. Todos tem seu preço - alguns até com download gratuito aqui no fyadub. Mas esses livros, são algo que vai se tornar seu, e por escolha própria você pode guardar ou compartilhar com quem você quiser. 

Conhecimento reina supremo!
'Na leitura não é necessário ou obrigatório que você concorde com tudo o que lê. Você deve sempre usar ou aplicar o seu próprio raciocínio para o que você leu com base no que você já sabe, como tocar os fatos sobre o que você leu. Obter juízos de valor sobre o que você lê com base nesses fatos. Quando digo fatos quero dizer coisas que não pode ser contestada. Você pode ler os pensamentos que são velhos, e as opiniões antigas e foram alteradas desde que foram escritas. Você deve sempre procurar, para descobrir os mais recentes fatos, e em particular o assunto, e apenas quando esses fatos são consistentemente mantidos, quando você lê, você deve concordar com eles, caso contrário, você tem direito a sua própria opinião.' - Marcus Garvey; Eduque-se


2. The Autobiography of Emperor Haile Sellassie I: King of All Kings and Lord of All Lords; My Life and Ethiopia's Progress 1892-1937 - Vol. 2 (Inglês) Capa comum – 1 março 1999 - https://amzn.to/2Llg4OA

3. Selected Speeches of His Imperial Majesty Haile Selassie I (Inglês) Capa comum – 26 novembro 2011 - https://amzn.to/3sdL2IV  ou free download

4. Message To The People (Inglês) Capa comum – 9 junho 2017 - https://amzn.to/3bzA0YV

5. Philosophy and Opinions of Marcus Garvey [Volumes I & II in One Volume] (Inglês) Capa comum – 19 novembro 2014 - https://amzn.to/3nFyAOY ou free download

6. A Journey to the Roots of Rastafari: The Essene Nazarite Link (Inglês) Capa comum – 2 julho 2014 - https://amzn.to/2LlQmtk

7. The Rastafarians: Twentieth Anniversary Edition (Inglês) Capa comum – 12 dezembro 1997 - https://amzn.to/3nuvDjT

8. The Kebra Negast (The Book of the Glory of Kings), with 15 Original Illustrations (Aziloth Books) (Inglês) Capa comum – Ilustrado, 3 abril 2013 - https://amzn.to/3i4CKPe ou free download

9. Ethiopia and the Origin of Civilization (Inglês) Capa comum – 16 março 2017 - https://amzn.to/38uHRF4

10. The First Rasta: Leonard Howell and the Rise of Rastafarianism (Inglês) Capa comum – Ilustrado, 1 janeiro 2004 - https://amzn.to/35uPJo0

Dentro do grupo do fyadub no facebook, existem já diversos títulos para download, em português e inglês, que você pode fazer o download direto e compartilhar. 

Dúvidas sobre o blog ou alguma informação postada, quer dizer algo, reclamar, elogiar, sugerir: use a página https://fyadub.org/contato/, ou https://www.facebook.com/fyadub.fyashop para mensagem inbox, ou whatsapp 11 99984.4213, ou e mail contato@fyadub.org


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

ENKUTATASH - ANO NOVO ETÍOPE





Os dias epagomênicos, são cinco ou seis dias extras no final do ano, é uma semana de preparativos para os etíopes que celebram o Ano Novo etíope (Enkutatash). De acordo com o calendário etíope, que derivou do calendário alexandrino ou Copta, o Ano Novo cai no dia 11 de setembro ou no dia 12 em um ano bissexto.

O Ano Novo etíope é caracterizado pelo fim da longa estação chuvosa, chegando com um céu brilhante e uma luz solar deslumbrante. O campo se transforma em ouro com as margaridas amarelas (adey abeba) cobrindo todos os campos nas áreas rurais da Etiópia, que estão florindo nesta época do ano.

O festival é celebrado com o canto de músicas especiais dedicadas a este feriado por meninas vestidas com roupas tradicionais etíopes e dando os buquês de flores (adey abeba) que colheram dos campos para cada casa. Em troca, elas geralmente recebem um pequeno presente, geralmente dinheiro.

A celebração do Ano Novo da Etiópia, Enkutatash, que significa "Presente das Jóias" é considerado celebrado desde a época da Rainha de Sabá. Durante a visita ao rei Salomão de Israel em Jerusalém, a Rainha tinha presenteado o Rei com 120 talentos de ouro (4,5 toneladas), bem como uma grande quantidade de especiarias e joias únicas, como mencionado na Bíblia.

E deu ao rei cento e vinte talentos de ouro, e muitíssimas especiarias, e pedras preciosas; nunca veio especiaria em tanta abundância, como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão. 1 Reis 10:10


Quando a Rainha voltou para a Etiópia, seus chefes a receberam com joias preciosas para reabastecer seu tesouro. Enkutatash foi celebrado desde então.

A iluminação da fogueira na véspera do Ano Novo também faz parte da celebração. Os homens da família acendem uma fogueira feita de ramos e folhas de árvores para dizer adeus ao ano que se encerra, desejando um ano mais brilhante, paz e prosperidade para a família e o país como um todo.

O calendário etíope é derivado do calendário alexandrino ou copta. Como o calendário juliano, adiciona um dia a cada quatro anos sem exceção.

O calendário etíope tem doze meses de 30 dias, mais cinco ou seis dias epagomênicos, que compõem um décimo terceiro mês. O sexto dia epagomenal é adicionado a cada quatro anos.

À medida que a contagem etiópe dos anos começa no ano 8 da Era Comum, uma era do calendário frequentemente usada como nomeação alternativa do AD, há espaço de sete a oito anos entre o calendário etíope e o calendário gregoriano. Isso resulta principalmente de um cálculo alternativo na determinação da Data da Anunciação para a Virgem Maria.

A Era Comum (AD) segue os cálculos de Dionísio, um monge do século VI, enquanto os países não-calcedonianos continuaram a usar os cálculos de Annius, um monge do século V, que colocou a Anunciação de Cristo exatamente 8 anos depois. Por isso, hoje, em 11 de setembro de 2017, será o ano 2010 no calendário etíope.

Enkutatash é uma ocasião muito festiva e uma reunião para famílias. A estação chuvosa é o momento mais movimentado para famílias nas áreas rurais, pois é a principal estação nas terras altas para o cultivo de culturas de plantio. O fim da chuva significa tempo para descansar e comemorar.

O Ano Novo etíope é uma fonte de inspiração para todos os etíopes. Os fazendeiros nas áreas rurais em suas fazendas esperam uma safra abundante na próxima temporada. As crianças na escola estão se preparando para o novo ano acadêmico, enquanto os estudantes universitários em todo o país estão se preparando para mais um ano na faculdade.

Neste momento único, também está entre as primeiras horas para as chegadas de turistas. É hora de um número crescente de fluxos turísticos para a nação do Leste Africano, com nove herdeiros do mundo inscritos e cinco na lista de espera.

O ano novo etíope é celebrado por todos os etíopes e pelos etíopes na diáspora. Seguidores de todas as religiões do país, incluindo cristãos e muçulmanos, celebram o Ano Novo etíope com muitas festividades.

Melkam Addis Amet


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sábado, 22 de julho de 2017

THE AUTOBIOGRAPHY OF EMPEROR HAILE SELASSIE I: KING OF ALL KINGS AND LORD OF ALL LORDS: MY LIFE AND ETHIOPIA´S PROGRESS 1892-1937 (INGLÊS)




A primeira Autobiografia do Imperador Haile Sellassie é detalhada com informações sobre o pequeno gigante, de um homem que muitos povos de toda a vida consideram ser o Cristo, o Messias ou o Defensor da Fé. Na verdade, um líder mundial notável e memorável. Pela primeira vez em formato de livro.

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A vida de SMI Haile Selassie uma vida de decisões e lutas. Não agradou a muitos é verdade, mas acabou se relacionando de tal forma com seu povo, e com o mundo, que é possível dizer que teve uma vida realmente como a nossa vida. Percalços, lutas, quedas e vitórias.

E o resultado final e nunca ter cedido a quem se achava mais forte, ou as forças extremas que queriam subjuga-lo. Muitos fantasiaram a seu respeito, então e sempre melhor ler suas próprias palavras sobre sua vida para saber os fatos. 

Seja espiritualmente ou como uma referência de gestão politica, é um verdadeiro exemplo de como um RAS (Aka Presidente) deve ser. E referência para o homem negro em qualquer lugar do mundo.

Capa comum: 335 páginas
Editora: Frontline Books (1 de dezembro de 1999)
Idioma: Inglês
ISBN-10: 0948390409
ISBN-13: 978-0948390401
Dimensões do produto: 12,7 x 2,3 x 17,8 cm
Peso do produto: 431 g




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Prefácio

Uma casa construída em granito e fortes fundações, nem mesmo a investida de chuva derramada, torrentes e ventos fortes poderão derrubar. Algumas pessoas escreveram a história da minha vida, representando como verdade o que, de fato, deriva da ignorância, do erro ou da inveja; Mas eles não conseguem abalar a verdade do seu lugar, mesmo que eles tentem fazer com que outros acreditam nisso.

A essa hora, quando encontrei ocasião e hora para escrever a história da minha vida, prefalo minha escrita apresentando a seguinte oração ao meu Criador e depois continuo esse trabalho.

Ó Senhor, Todo Poderoso em quem não há fraqueza, eterna em quem não há transitoriedade; Ao admirar Seu trabalho, bem como Seus julgamentos, um ser criado, mesmo depois de muita busca, não pode procurá-los, exceto em uma extensão limitada.

É um segredo sutil que uma criatura, mesmo depois de muita exploração, não pode saber, mas que você só conhece: por que no passado imediato e agora você fez o povo etíope, do homem comum ao Imperador, afundar em um mar de angústia por um tempo, e por que você fez o povo italiano até seu rei nadar em um mar de alegria por um tempo.

Uma vez que nenhuma criatura criada à sua imagem, e ao seu padrão abandona a esperança de que tudo o que ele implora do Senhor, será feito por ele até o dia em que você separa sua alma de seu corpo, nós lhe suplicamos que a Etiópia não deve permanecer com sua liberdade extinta e prostrada sob um governante alienígena, para que a boca de seus povos seja silenciada por medo de um governador estrangeiro, mas sim que o Senhor os salvará por suas ações de bondade, para que não permaneçam com seus corações oprimidos por serem privados de seu próprio governante etíope que Estava levando-os para a civilização sob um leve jugo e com alegria.

Ó Senhor, morada de exilados, luz dos cegos! Verdade e justiça são os teus tronos. Receba os que foram exilados pelo amor de nossa liberdade, que tiveram que sair do nosso país por causa de assaltos violentos. Em oração ao Senhor assim, não é para a nossa justiça, mas para suas grandes misericórdias.

E agora estou partindo pensando em escrever a história da minha vida, a partir do meu décimo terceiro ano até este momento, com base no que você forjou, fazendo-me seu instrumento. Eu rezo para que seja Sua vontade de permitir que atinja a conclusão. É correto para mim revelar neste prefácio, a razão pela qual eu pensei em escrever isso, embora do Senhor nada esteja escondido.

Primeiro, que o Seu nome seja louvado por todas as ações que o Senhor faz, agindo de acordo com Seus desejos.

Em segundo lugar, quando  o Senhor faz um homem rico nas honras deste mundo e o nomeia acima de outras criaturas, que seja sabido que não é por mérito, mas somente por Sua benevolência e generosidade.

Em terceiro lugar, em todas as linhas desta história, onde o nome de outra pessoa é mencionado, não é por parcialidade ou inimizade, salvo por erro, mas o Senhor sabe que estamos fazendo do nosso coração o juiz para escrever apenas a verdade.

Em quarto lugar, embora não haja nada que não esteja escrito nas Sagradas Escrituras, se você me permitir escrever como planejei, nossos parentes e nossos irmãos que se levantarão no futuro, tomem nota da palavra que o Senhor falou 'sem Mim, você não pode fazer nada "e que seus corações estejam convencidos de que, com Sua ajuda, eles serão capazes de fazer qualquer coisa.

Em quinto lugar, a menos que um homem libere sua tarefa por sua própria determinação e perseverança, consciente de ser Sua ferramenta, seja em tempos de alegria ou tribulação, ele deve perceber que deve trabalhar por sua habilidade inata ou pela educação que ele tenha adquirido, Pois a sua responsabilidade não cessará mesmo se ele agir unicamente sob a vontade de outro.

Sexto, qualquer que seja a tarefa, que todos possam perceber e estar convencidos de que será
realizado na hora e na idade adequada, e que é impossível que seja cumprido, quer seja apenas desejando, quer seja se apressando indevidamente.

Peço que tudo isso esteja de acordo com a Sua vontade.

Por SMI Haile Selassie - Prefácio do livro The Autobiography of Emperor Haile Sellassie I: King of All Kings and Lord of All Lords; My Life and Ethopia's Progress 1892-1937 - Volume 1


Se tiver qualquer eventualidade com o download envie e mail para fyadub@yahoo.com.br


 


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sexta-feira, 3 de março de 2017

ETIÓPIA COMEMORA A DERROTA DAS FORÇAS ITALIANAS EM 1896 'BATALHA DE ADWA'





Os etíopes testemunharam um evento colorido para marcar a vitória do país contra as forças italianas em uma batalha que foi travada há mais de 120 anos.

A "Batalha de Adwa" foi travada em 1º de março de 1896, perto da cidade do norte de Adwa. As forças etíopes prevaleceram sobre os italianos, em uma vitória que o presidente Mulatu Teshome diz que ensinou as lições país de cooperação e respeito mútuo.


"Nossos ancestrais fizeram enormes sacrifícios para salvaguardar a soberania do país e transmiti-la às gerações existentes", disse o presidente durante um evento na capital, Addis Ababa.

Nossos antepassados fizeram enormes sacrifícios para salvaguardar a soberania do país e transmiti-lo às gerações existentes.

A batalha segundo ele foi uma vitória para todos os negros. Ele encarregou os jovens etíopes de se envolverem no desenvolvimento do país.

"É minha forte convicção que uma geração que recorda a história de seus antepassados, pode também fazer sua própria história. A fim de passar esta história para a próxima geração, temos de construir um museu de guerra e uma Universidade Pan Africana.

"Embora uma pedra fundamental para este projeto já tenha sido colocada, nunca se materializou devido a várias razões. Agora, o Ministério do Turismo está assumindo a responsabilidade total e está estabelecendo uma Secretaria para que isso possa ser realizado, e em breve fazer Adwa um destino turístico", acrescentou.

O evento viu marchas de membros das forças de segurança da Etiópia e exibições de soldados veteranos que apareceram com armas e se exibiram artisticamente. Todos estavam cobertos pelas cores do país.


Também estiveram presentes o vice-primeiro-ministro, Demeke Mekonnen e o prefeito de Addis Ababa, Dariba Kuma. Um lançamento de evento cerimonial foi realizado pelo Presidente e Orador da legislatura visando angariar fundos para a conclusão do Grande Projeto da Barragem de Rennaissance de Etiópia ( GERD ).

Sobre a Batalha de Adwa

Milhares se reuniram na cidade do norte do país para marcar os 121 anos desde que repeliram os italianos.

Na era da implacável expansão Européia na África, a Etiópia liderada pelo imperador Menelik II, derrotou uma das maiores potências da Europa.

A Itália tomou o controle dos territórios empobrecidos da Eritréia e da Somalilândia e queria avançar mais suas ambições imperiais, assumindo a Etiópia vizinha.

Adwa é uma cidade de mercado e um distrito separado do norte da Etiópia especificamente na região de Tigray. É mais conhecida como a comunidade mais próxima da batalha decisiva de Adwa, que lutou em 1896 contra as tropas italianas.


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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"ELE ERA DA CASA REAL DA ETIÓPIA" - A OBRA DE JORGE BEN E O FLUXO DE IDEIAS E INFLUÊNCIAS NOS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO NEGRO


Jorge Benjor é um dos artistas com uma das carreiras mais longevas da chamada MPB, pois seu primeiro álbum foi lançado em 1963 e até presente o momento este cantor e compositor continua em atividade. Jorge é bastante conhecido por canções alegres e positivas, como País Tropical, ou composições de temática lírico amorosa como Chove Chuva. Entretanto, menos conhecidas em seu cancioneiro são as canções em que aciona uma identidade negra orgulhosa calcada em uma ancestralidade africana.

Em 1976, Jorge Ben 2 lança África-Brasil, um de seus mais famosos álbuns. Não por acaso fazem parte deste trabalho canções como Cavaleiro do Cavalo Imaculado, Xica da Silva, Ponta de lança africano (Umbabarauma) e a canção-título do Long Play. 3

Em 2010, uma nova versão de Umbabarauma 4 é lançada, desta vez em parceria com artistas mais jovens como Mano Brown, Céu e Thalma de Freitas. Junto com a canção os produtores lançam um documentário contando o percurso desta regravação. Neste, Jorge explica a razão de ter dado este nome ao álbum:

“Eu participei de um festival na Argélia e (...) participei várias vezes de festival da juventude e eu ficava assim intrigado porque eu era o único músico brasileiro a ser chamado num festival de música africana. Eles falavam que gostavam do meu estilo de tocar, do suingue da música, da maneira de tocar o violão e a guitarra, porque era tudo percussivo e eu era convidado por isso e eu quis fazer essa homenagem... Esse disco”. 5


Pelas matérias de jornais e revistas da época, não foi possível localizar uma referência a este festival que Jorge menciona antes de 1976, quando lançou o álbum. Entretanto há sim referência a uma apresentação de Jorge na Argélia em 1985. É possível que tenha se apresentado antes de 1976 neste país como também é possível que se trate de um “deslocamento de memória”, ou seja, que o artista deslocou no tempo os acontecimentos num processo muito comum as memórias coletivas e individuais. Como nos lembra Alessandro Portelli, ao analisarmos as narrativas que os sujeitos constroem para si, é preciso atentar para o fato de que nem sempre nos deparamos com “o que a pessoa de fato fez, mas o que ela queria fazer e o que ela pensava estar fazendo”(PORTELLI: 1991,06). Tais relatos são muito mais subjetivos do que fáticos, o que não é um problema metodológico. O que importa neste caso não é data exata em que Jorge de fato foi à África, mas sim a sua intenção de fazê-lo. 6 O jornal O Globo em 1985 noticiou o recebimento de um telex do embaixador Leite Ribeiro, da Argélia: É com grande alegria que levo a você meu depoimento entusiasmado sobre o grande sucesso de Jorge Ben e da Banda do Zé pretinho no Festival da Juventude. Conhecido pelos especiais (...) de televisão e por seus discos, que com frequência são vistos e ouvidos na Argélia, aquele bom artista brasileiro (...) conseguiu conquistar este público, com sua primeira apresentação ao vivo, concorrendo com isso, para afirmar ainda mais a boa imagem do Brasil. 7

Em todo caso, há uma notícia de 12/03/1974 do Jornal O Globo que indica que o artista ganhou de presente da gravadora, por conta dos seus seus 10 anos de carreira, uma viagem ao continente africano, mais especificamente à Etiópia “para conhecer seus parentes”. 8 Visitar a terra de sua mãe é algo que sempre esteve no horizonte deste artista. Em 1970, Jorge Ben já dizia que pretendia viajar para “pesquisar” ritmos etíopes. 9 Esta ancestralidade africana, etíope, aparece em diversas de suas composições como em Criola, onde Jorge diz sua mãe é “filha de nobres africanos”. Izabel Guillén aponta como os ancestrais são importantes na construção da identidade dos sujeitos negros, como são exemplos a serem seguidos nas lutas cotidianas, no combate ao racismo e na busca por uma sociedade mais justa para negros e negras (GUILLEN: 2013, 01-02). O nome que este cantor e compositor escolheu usar em sua carreira artística também evidencia esta intenção de reverenciar seus ancestrais: Jorge Ben é a inversão do nome de seu avô etíope, Ben Jorge, como declarou em 1963 à Revista do Rádio. 10 Nesta mesma ocasião é questionado sobre seu estilo musical e mais uma vez se remete as suas origens: “Dizem que se chama ‘afro-bossa-nova’”. 11



Em entrevista a revista Trip em 2009, Ben fala sobre sua família:

"Minha ascendência por parte de mãe é etíope. Agora, por parte de meu pai, é uma mistura de europeus. A família toda dele é branquinha, minha vó era branca, dizem que era austríaca. Meu pai era moreno, nasceu no Brasil já misturado. O resto da família é tudo claro, e eu sou mesclado porque misturou com minha mãe, a África." 12

Jorge, neste caso, está aludindo à formação miscigenada do povo brasileiro para construir uma determinada auto representação. Embora esta ideia de miscigenação do africano, do europeu e do indígena ressoe em Jorge Ben e ele a acione eventualmente, A narrativa que permeia suas canções de maneira mais forte é a da sua identidade negra. Alessandro Portelli nos ajuda a pensar sobre as definições de mito. Para ele o mito não seria:

(...) necessariamente uma história falsa ou inventada: é, isso sim, uma história que se torna significativa na medida em que amplia o significado de um acontecimento individual (factual ou não), transformando-o na formalização simbólica e narrativa de auto representações partilhadas por uma cultura (PORTELLI: 1991, 120-121)

Assim o fato de o artista afirmar ser descendente de africanos e de europeus está em consonância com esta representação mítica coletiva brasileira. Esta narrativa construída pelo cantor de modo algum é falsa, entretanto é bastante significativa. A ancestralidade africana, essa ideia de “Mãe África”, é evocada constantemente pelo artista e ressoa de modo mais forte em suas composições. Segundo entrevista do ano de 1995 a TV Cultura, Jorge declarou ter tido contato direto com essa herança musical:

Eu queria falar disso também... Por parte da minha mãe... Muito, muito... Porque eu ouvi muito, muita música etíope, cantos etíopes através da minha mãe, com batuques dos parentes. Eu era menino, criança, eu ouvia um som, eles falavam numa língua que eu não entendia e o batuque e isso foi misturando tudo. 13


É importante assinalar que quando se refere à Etiópia, a terra de sua mãe, Jorge está se referindo a um país com características únicas naquele continente. Este Estado foi o único país africano a rechaçar com sucesso o ataque de uma nação europeia em finais do século XIX. Naquele contexto, em que as ideias imperialistas vigoravam, os Estados do “velho mundo” se lançaram ao continente africano em busca de territórios onde pudessem ter um mercado consumidor exclusivo e ao mesmo tempo garantir o fornecimento de matérias primas. Desta forma, em um contexto onde o “continente negro” encontrava-se “loteado” entre países como França, Inglaterra, Bélgica, entre outros, a Etiópia conseguiu resistir e vencer uma invasão italiana ao seu território. Além disso, o povo etíope se orgulha de ser detentor de tradições milenares: os soberanos etíopes descenderiam do Rei Salomão e da Rainha de Sabah. Desta união teria nascido Menelik, o primeiro imperador etíope. 


A primeira guerra ítalo-etíope aconteceu em 1896. A vitória dos abissínios, nome pelo qual também é conhecido aquele povo, sobre os italianos se deu na batalha de Adua, quando 100 mil soldados africanos venceram os 16 mil invasores, sagrando o “negus” (imperador) Menelik II vencedor e chamando a atenção do mundo para o Império Negro. É sucedido por seu neto Ilyasu V, entretanto este é deposto por um conselho de nobres por conta da suspeita de ter se convertido ao islamismo. Assume como imperatriz Zewditu, filha de Menelik II e como regente, o Rás (príncipe) Tafari, em 1917, o esposo de outra das filhas do imperador falecido. Com o falecimento da imperatriz em 1930, Rás Tafari assume como Haile Selassie (“O poder da divina trindade”), cujos títulos eram Sua Majestade Imperial, Imperador Haile Selassie, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá. O “Negus Tafari” buscou dar continuidade a obra de Menelik II de afirmar a Etiópia como uma grande nação (LOPES: 2006, 319, 435 e 559). 14


No Brasil, e não só, a Etiópia era uma importante referência positiva para os sujeitos negros, pois foi o único país africano não envolvido no tráfico europeu de escravos e que em um primeiro momento venceu o colonialismo. Em São Paulo, um dos mais antigos órgãos da imprensa negra paulista foi O Menelick, fundado em 1915, cujo nome era uma homenagem ao imperador etíope que antecedeu Tafari Makonen (LOPES: 2006,345). Este último é também um importante modelo para os sujeitos negros da Diáspora. De acordo com os ideais do panafricanismo, formulados pelo jamaicano Marcus Garvey, o povo da Etiópia era considerado um povo eleito por Deus, por conta desta crença de que descendem da Rainha de Sabá, cuja ascendência remete à Cam e, portanto, ao Noé bíblico. 15 O garveysmo, por volta de 1925, profetizava o surgimento de um messias na Etiópia que viria a salvar todo o povo negro. Seus seguidores associaram esta figura a Haile Selassie quando este subiu ao trono em 1930. Destas associações e rearticulações do garveysmo e dos princípios da Igreja Ortodoxa Etíope surgiu o rastafarianismo, uma doutrina filosófico-religiosa cujo principal personagem é o Ras Tafari. 


Por conta da constante reverência que Jorge presta a sua ascendência Etíope, eventualmente Jorge é caracterizado por jornalistas, críticos e pelo público como “herdeiro direto da música africana”. 16 Em outro caso chegou a ser classificado como descendente da “família real da Etiópia”, uma caracterização anedótica feita pelo rapper Mano Brown:

Fazia muito baile na nossa casa lá. Baile e samba. E no baile e no samba ouvia-se e tocava Jorge Ben. Tinha uma lenda [entre seus familiares] que ele era um príncipe. ‘Não, ele é filho de um príncipe. Alguma coisa ele é’ [diziam] (...) ‘Ele é um príncipe Etíope’. Tinha gente que achava que ele era da família real da Etiópia. 17

Selassie também é tema de uma canção de Jorge em que se refere à terra de sua mãe. Nesta composição o imperador é caracterizado como “Leão de Judá” e descendente da rainha de Sabá. 18


Neste fluxo de idas e vindas do Atlântico Negro (GILROY: 2001) é necessário lembrar também do Caribe. Após a visita de Haile Selassie à Jamaica em 1966 cresce o rastafarianismo naquela ilha. Tal doutrina influenciou fortemente o grupo The Waillers, do qual fazia parte Bob Marley. Este cantor jamaicano musicou quase que literalmente um discurso de Selassie a ONU em 1968 na canção War (1976), onde critica o colonialismo e o racismo: “Until the philosophy which hold one race/ Superior and another inferior/ Is finally and permanently discredited and abandoned/ Everywhere is war, me say war”. 19

Bob Marley influenciou outros artistas negros ao redor do mundo, incluindo Gilberto Gil que no final dos anos 1970 começou a introduzir algumas influências de Reggae em sua estética sonora.

As guerras de libertação nos países africanos e a luta contra o apartheid da África do Sul também ecoaram na obra de Tim Maia que em 1976 gravou a canção Rodésia: Em Guiné-Bissau/ Não está legal/ Muito menos na Rodésia/ África do Sul/ Pegue o sangue azul/ Mande para as cucuias/ Só assim vão ver/ Que o preto é bom/Mas é valente também (...). 20 Maia cantou não só a África que “chega” no Brasil, mas o Brasil que “vai” à África.

Um pouco antes do álbum em que Rodésia foi lançada, o cantor Sebastião Rodrigues Maia lançou dois álbuns na chamada “fase racional”. Neste período, o artista era adepto da doutrina filosófico-religiosa “cultura racional”. No seu álbum Racional vol.2, o artista comemorava a difusão desta doutrina nos países africanos lusófonos: “Eu vim aqui para lhe dizer/ Eu vim aqui para lhe dizer/ Que eles agora estão /Numa relax/ Numa tranquila/ Numa boa (...) / Lendo os livros da Cultura Racional/Guiné Bissau/ Moçambique e Angola”. Interessante notar que após esta fase racional, Maia “desperta” para a situação dos países africanos e se “contradiz”: “Em Guiné Bissau/Não está legal”. 21


Retomando a análise do álbum África-Brasil, as referências ao “continente negro” aparecem também nas composições Cavaleiro do Cavalo Imaculado, onde São Jorge é alçado ao posto de “príncipe” de toda África; na canção que dá nome ao LP, onde se remete a ideia de realeza africana contando a história de uma princesa africana que foi vendida no Brasil como escrava e anunciando a chegada de Zumbi como um Deus redentor; e Ponta de lança africano (Umbabarauma). Sobre a última, Jorge declarou no documentário de 2010 de onde veio à inspiração para esta canção:

Morei na França. Ficava entre França e Inglaterra. Eu e meu primeiro grupo, o Admiral Jorge V, e foi a primeira vez que vi esse jogador, negro, Umbabarauma. (...) E o ponta de lança é porque ele jogava com a Camisa 10. 22


Poderia ser dito de maneira simplista que o fato de Jorge Ben ser descendente de Etíopes enseja nesta evocação de uma ancestralidade africana. Entretanto, o mais indicado seria dizer que este indivíduo escolhe reverenciar e valorizar suas heranças africanas. Mesmo dizendo que tem também ancestrais europeus, o artista pouco fala sobre isso. Escolhe, por exemplo, ao morar na Europa e assistir as disputas entre times europeus, homenagear o jogador africano em vez de quaisquer outros jogadores, que certamente em sua maioria eram europeus. Esta evocação é um ponto determinante na elaboração da sua identidade enquanto sujeito negro. E este processo não é isolado, pois diversos outros artistas no Brasil e no mundo, neste período fazem esta evocação. A África foi, é e continua sendo usada como um “banco de dados” (SANSONE: 2002) de forma criativa e é uma força central para a cultura produzida por sujeitos negros ao redor do mundo.

Cabem aqui algumas considerações sobre identidade. Para Ulpiano Menezes identidade deriva do radical grego idios que faz referência a “si próprio”, “privado” (MENEZES: 1993, 208). Assim, a identidade enseja “semelhanças consigo mesmo”, sendo mais um processo de reconhecimento que de conhecimento. Segundo Frederick Barth, para que exista a semelhança é necessário que exista a diferença e por isto a identidade é dada pelo contraste (BARTH apud MENEZES: 1993, 209). É importante também demarcar que a identidade não é algo estático, pelo contrário, é dinâmico. Está sempre em transformação, como nos lembra Stuart Hall: a identidade cultural deve ser pensada como uma “produção” que nunca se completa, que está sempre em construção(HALL: 1996, 68). E que se constrói a partir de referenciais coletivos, baseadas na história comum e nos padrões de cultura partilhados. Esta operação de busca do passado ou de o “redescobrir”, em geral tende a ter um quadro referencial pouco refratário a mudanças, desta forma sujeitos como Jorge Ben tendem a buscar o passado grandioso do Império Etíope. E também a louvar modelos idealizados do que seriam os africanos, como a construção que Jorge faz de Zumbi ou até mesmo do ligeiramente africanizado São Jorge, caracterizado como “Leão do Império/Príncipe de toda África”.


Ainda segundo Hall, as identidades não são uma simples operação de “recuperar o passado” a fim de garantir uma percepção do grupo acerca de si mesmo, mas, sobretudo, são os nomes que o indivíduo ou o grupo dão as posições que tomam frente às narrativas do passado (HALL: 1996, 68). Este passado vai sendo reconstruído atendendo as necessidades do presente, assim quando Jorge reverencia e valoriza a sua ascendência etíope, é uma posição política de afirmar a sua identidade com um sujeito negro orgulhoso de um passado nobre e valoroso.

Retomando a questão do quadro de referenciais fixos, proposto por Hall, grosso modo, se construiu uma visão de as culturas negras de origem africana, tem algumas características comuns. Por exemplo, o músico negro Paulinho da Viola em entrevista ao Pasquim em 1970, ressalta que a música negra teria como características o ritmo e o improviso. Por isso Jorge Ben aciona esta ideia quando tenta explicar o porquê foi convidado a se apresentar na Argélia. Porque seu violão é “rítmico”, “percussivo”, diz o artista. Sua caracterização de Zumbi é também informada pela visão idealizada do que seria o homem africano ou afrodescendente: guerreiro, bravo. A África cantada por este artista é também uma idealização. É a Etiópia de sua mãe e de Haile Selassie. Uma terra de nobreza. É importante notar que diferente de Tim Maia ou de Bob Marley, Ben não costumava articular imagens das guerras contra o colonialismo ou das guerras civis. Esta construção é eminentemente política como toda identidade o é. E seus objetivos são a valorização de uma estética e de uma autoestima negras.


Citações:

Alexandre Reis - Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Bolsista CAPES.
2 Até 1984, este músico usava o nome artístico Jorge Ben. E pretendo usar este nome por conta do recorte da dissertação. Eu quero ver quando Zumbi chegar: política, identidade e relações raciais na obra de Jorge Ben (1963-1976). O trabalho atual é uma versão adaptada do capítulo IV da referida dissertação.
3 África-Brasil. 1976. Philips.
4 Parte da letra da canção: Umbabarauma homem-gol (...) /Umbabarauma homem-gol/Joga bola, joga bola Corocondô/ (...) Essa é a história de Umbabarauma/ Um ponta de lance africano/ Um ponta de lance decidido/ Umbabarauma.
5 UMBABARAUMA: o documentário. Direção: Felipe Briso. NSW. 2010(15 min). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Ryz0FLoMXbo. Consulta em 02 de novembro de 2013.
6 “Tel us not just what people did, but what they wanted to do, what they believe they are doing, and they now they did”. Tradução livre minha. Preferi usar a expressão “deslocamento de memória” a “ucronia” que o autor usa especificamente para casos em que a memória muda o sentido original do fato ocorrido. No caso de Jorge só mudou a data e não o sentido. PORTELLI. 1991. Pg. 50.
7 O Globo. Segundo caderno. Pg. 06. 1985.
8 O Globo. 13/03/1974. Segundo Caderno. Pg.06.
9 Revista Veja nº 70. 07/01/1970. Pg. 65.
10 Revista do Rádio. Ed. 732. 1963.
11 Revista do Rádio. Ed. 732. 1963.
12 Revista Trip nº 183. 2009. Disponível em http://revistatrip.uol.com.br/revista/183/paginas-negras/o-homempatropi.
html. Consulta em 02 de maio de 2013.
13 Entrevista de Jorge Ben Jor no Programa Roda Viva (18/12/1995). TV Cultura.
14 Folha de S. Paulo. 24/05/1971. Pg. 02; O Globo. Caderno: “Em todo Globo”. Pg. 01.
15 Marcus Garvey pregava também o retorno da diáspora e, por conseguinte, voltar à África chegando a fundar uma companhia marítima para este fim. Até hoje alguns dos pilares do rastafarianismo são o culto a Selassie e volta à terra dos ancestrais. LOPES, Nei. 2006. Pg. 295.
16 Jornal do Brasil.30/081969. Primeiro caderno. Pg. 02.
17 Provavelmente este “mito“ se originou no fato de Jorge homenagear sua mãe dizendo que ela seria filha denobres africanos na canção Criola (1969). UMBABARAUMA – o documentário... Op. cit. 2010.
18 Não vou aprofundar essa análise porque esta canção é dos anos 1990.
19 “Até que a filosofia que sustenta uma raça/ Superior e outra inferior/ Seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada /Haverá guerra, eu digo guerra/”. Tradução livre minha.
20 Rodésia do álbum Tim Maia. Polydor Records. 1976.
21 Do álbum Racional. Vol. 2. Seroma. 1976.
22 Umbabarauma: o documentário. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=Ryz0FLoMXbo. Consulta em 24 de fevereiro de 2014.


Bibliografia:

BARTH, Frederick. Los grupos étnicos y sus fronteras México: Fondo de 1968. Cultura Econômica apud Ulpiano. A problemática da identidade cultural nos museus: de objetivo (de ação) a objeto (de conhecimento). Anais do Museu Paulista. SP, USP, n.1, 1993. p.p. 207-222

GILROY, Paul. O atlântico negro. Rio de Janeiro, Editora 34. 2001.

GUILLÉN, Izabel. Ancestralidade e oralidade nos movimentos negros de Pernambuco. Comunicação apresentada no XXVII Simpósio Nacional de História. Julho de 2013. Disponível em http://snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364666404_ARQUIVO_Ancestralidadeeoralidadeanpuh.pdf. Consulta em 06 de novembro de 2013.

HALL, Stuart. Identidade Cultural e Diáspora. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n.24, p.68-75, 1996.

LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo. Selo Negro. 2006.

MENESES, Ulpiano. A problemática da identidade cultural nos museus: de objetivo (de ação) a objeto (de conhecimento). Anais do Museu Paulista. SP, USP, n.1, 1993. p.p. 207-222

PORTELLI, Alessandro. “The best garbage man in town: life and times of Valtero Pepollono, worker” In: The death of Luigi Trastulli and others stories: form and meaning in oral history. 

Albany: State University of New York Press. 1991.

SANSONE, Lívio. Da África ao Afro: uso e abuso da África entre os intelectuais e na cultura popular brasileira durante o século XX. Revista Afro-Ásia n°27(2002).
Leia também: “EU QUERO VER QUANDO ZUMBI CHEGAR” - Negritude, política e relações raciais na obra de Jorge Ben (1963-1976).



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