quarta-feira, 4 de maio de 2016

RASCLAAT - ENTRE OS CEGOS, SURDOS E MUDOS DA IGNORÂNCIA



Eu nos últimos tempos tenho extremo receio em publicar certos textos, como os artigos do 'Rasclaat', que era periódico até meados de 2011, então já lhe aviso... Se só gosta de música ou textos relacionados a música, pule para outra matéria. Hoje, com tudo que anda acontecendo é difícil ficar inerte a tudo e a todos. O blog ou site (ou qualquer nome infeliz que dê a um canal como esse), deixou no decorrer do seu retorno um lado mais protestante, que devo dizer, infelizmente no Brasil ter postura é forma de desrespeito a ignorância alheia.

Acredito, piamente que o Brasileiro é condicionado a ser braçal. Ele é educado e condicionado culturalmente a ser braçal e laboral, de forma pragmática. Um dos maiores valores familiares é o acordar as 06h e chegar as 20h. Qualquer tipo de trabalho, que fuja a duas figuras preponderantes - autoridade e subordinado ou de forma simples; empregado e patrão, é ser dito ou achincalhado de vagabundo. Que na expressão popular, vagabundo deixou de ser alguém que não gosta de trabalhar, para ser alguém que não tem valor.


Falo isso de mente e coração muito abertos, e sem pudor algum de dizer que é uma forma genérica, e há exceções nesse pragmatismo cultural. E se você não se enquadra, nessa braçalidade e laboralidade... Parabéns, discuta, escreva, publique ou compartilhe algo relacionado que faça mais pessoas abrirem sua terceira visão, seus pensamentos e ideias, que façam entenderem o quão grave nossos problemas são, e o quão estão enraizados nos valores (ou falta deles) familiares e culturais do nosso país. 

A intelectualidade, por sua grande maioria, é menosprezada já por definição histórica na escola, principalmente por uma visão deturpada do que é boa ou má educação - bom aluno é o que decora, mal aluno é o que não se adapta ou não se condiciona a imposição. Essa condição é definida a pertencer aos mais abastados. Ou seja, patrão mandou, você age. O professor falou, você acata. A policia chegou, você obedece - até porque o único papel da polícia é resguardar os interesses do Estado (seja federal, estadual ou municipal). A graduação praticada aqui não é educação, jamais foi, e é o modelo de ensino mais falho que existe, porque se fosse bom, não precisava do FIES... Todos estudariam em faculdade pública ou teriam condições de pagar pelo ensino privado. E provavelmente não teriam eleito políticos através da democracia = voto, que desviassem dinheiro da educação para outras áreas de interesse próprio egocêntrico.

Mas, um dia em uma aula qualquer de história lhe disseram que vivemos em uma democracia, e isso basta. Mas nenhum professor (que eu conheça) jamais citou e ensinou o que o genocídio indígena e africano causou aqui, e não disse nada para ninguém na sala se sentir culpado ou em choque. E lhe disseram que você é livre para concordar com o que a cartilha do professor diz, e afirmar que o que está ali está certo, até ai você pode ter certeza que vive em uma democracia. Na discordância, sanções serão aplicadas a sua pessoa, ao passo de perder direitos, dinheiro, ou cargo.


Atualmente, a Presidente Dilma (ou presidenta como ela prefere), passa pelos crivos dos valores (ou a falta deles como disse) e cultura brasileira. Já na primeira candidatura dela, já dizia que ela mais me parecia uma criatura de laboratório com fins de substituição de seu mestre Lula. E me dê os parabéns, porque estou certo. Mas, no decorrer já de uma década e meia, o PMDB se tornou um algoz de Dilma, que aparentemente é uma obra inacabada do Dr. Frankestein, o duvidoso Lula. Uma observação, não usarei termos como PMDBostas, PSDBestas ou PTralhas nesse texto, e essa será a única vez.

"...e devemos sempre deixar bem claro que nenhum de nós, brasileiros, é contra o roubo. Somos apenas contra ser roubados." - Millor Fernandes (A Bíblia do Caos - Novo Evangelho)

Pois bem, chegamos ao fundo do tacho num governo - na crise existencial brasileira (dita econômica e política por alguns estudiosos) acho que ainda não é metade do abismo. E isso é mostra da face majoritária do povo brasileiro, já que os políticos eleitos são escolhidos pelo povo em sua maioria, e esse político o representa por no mínimo quatro anos, apesar de que alguns ali que estão há mais tempo na cadeira, do que muitos brasileiros tem de vida. E essa é a definição que eu aceito como democracia; um sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições periódicas. Poder concedido pelo povo por meio de representação pelo voto. E a partir desse ponto, o poder de certo e errado, bom e ruim, bonito e feio, é determinado por esses eleitos.

Um outro lado, é que existe um imenso resquício da ditadura no Brasil. Muitos vivem os preceitos básicos ditatoriais que eu vivi, e vejo muitos praticando essa ditadura do lar em coisas simples; por exemplo na educação dos filhos, onde responder, questionar, não concordar, expor, opinar, ou qualquer demonstração de insatisfação é visto como uma ofensa a quem quer que seja. Repito eu vivi isso, e boa parte dessa geração dos dias de hoje, aparentemente é tão ditadora quanto as que praticaram o golpe dos anos 60.


Dependendo do quão alto seja a obsessividade por uma ideia/conceito, independente de qualquer razão, fato ou qualquer coisa do tipo, alguém pode dizer que o céu e é azul, mas se a outra parte estiver com interesses em jogo, e para que não seja dado o tal 'golpe' a pessoa ter de afirmar que o céu é rosa, não adianta quão científico, quão forte seja a prova, essa pessoa por questões pragmáticas e culturais vai dizer que o céu é rosa e ponto, e você o enxerga azul é porque é oposição, e consequentemente vai dar o golpe.

Essa presidente, que considero ser medíocre e incompetente no cargo, foi traída pelos valores cancerígenos, onde na traição vale chute baixo, dedo no olho e puxar o cabelo. E como bons brasileiros, que mudam de ideia após os 14 meses do segundo tempo (quis dizer mandato), ela é vitima do descompromisso que não é ensinado na escola, mas é dispensado a reveria entre uma parcela de políticos e de cidadãos comuns, justamente pelos valores e cultura.
Minha única visão e concordância sobre essa mulher, é que ela não deveria ter sido eleita. Concordo quando ouço que um governo ruim, ou má gestão não é motivo para interromper um mandato eleito. Mas algo por trás, dessa democracia - que considero fajuta e nada me leva a crer que se relaciona com liberdade, e somente está atrelada ao voto, que somente é dado pelo mesmo motivo que conluio, ou base de governo, como políticos insistem em chamar.


A presidente, ameaçada de perder seu cargo, na singela opinião desse que escreve, acompanha e lê muito, sai pela falta dos mesmos (três) motivos que alguém é eleito, contratado ou promovido a um cargo; grau relativo de intimidade e amizade - ou a falta delas (pior câncer da gestão seja pública ou privada é o padrão fisiologico imposto - determinante do que é relativamente bonito ou feio) e pelo nepostismo; pelo interesse maligno - de tirar proveito de algo ou alguém por tempo indeterminado; e pelo dinheiro em espécie. Ou seja, continuamos na mesma, mesmo depois das "diretas já." É a maioria pagando pelo interesse da minoria. 

No quesito interesse, eu divido em dois; os interesses próprios egocêntricas e os interesses comuns. Um exemplo de interesse próprio egocêntrico é a máfia da cultura, com os editais, muitos querem, poucos tem acesso, e a massa com paga a fanfarra de pão e circo com qualidade duvidosa. Nenhum edital é aprovado por qualidade do trabalho proposto, mas pelo câncer já citado grau relativo de intimidade e amizade. O outro interesse é o comum, aquele que faz bem a todos as partes interessadas ganham; quem produz, o governo e quem consome.

Outro ponto é a competência duvidosa da presidente, que é de uma relatividade sem proporção (lembre do inicio do texto sobre intelectualidade desvalorizada), e essa competência é algo raso em muitos cargos de gestão. O fato do pedido de impeachment (palavra francesa para impedimento), são as tais pedaladas fiscais*. Se você sabe só um pouquinho sobre balanço de caixa, vai ser fácil entender que a maior lambança que pode ser feita em balanço fiscal, em qualquer caixa, é essa tal "pedalada."

* A "pedalada fiscal" foi o nome dado à prática do Tesouro Nacional de atrasar de forma proposital o repasse de dinheiro para bancos (públicos e também privados) e autarquias, como o INSS. O objetivo do Tesouro e do Ministério da Fazenda era melhorar artificialmente as contas federais.

Agora a causa. A causa é que acabou o dinheiro. Finito, findou-se, acabou-se, fodeu-se. Esse governo é um governo que confundiu a palavra "investir" com "gastar", e o PT gasta bem. E é impossível gastar com as ações sociais, as ações culturais - vide a deturpação da Lei Rouanete e todos os editais em governos e municípios, prejudiciais a diversos investimentos privados em cultura (seja ela qual for), além de torrar o dinheiro nas agências regulamentadoras para pagar todo o cabide de empregos que o conluio do PT e PMDB fizeram no governo - são muitas siglas para citar, e infelizmente não vai sobrar dinheiro para pagar as contas. Não existe matemático, nem mesmo do gabarito de Newton e Liebniz, que  poderiam explicar como se pagar as contas gastando mais do que se arrecada.

Ao que propor solução para essa lambança toda e ganhar meu voto, e mostre uma forma de realizar de fato, que penso ser um mínimo razoável para aquilo que um político que se propõe que e somente e simplesmente a representatividade pelo voto: Redução de impostos (em média 50% do preço de tudo são impostos), com essa redução aumentamos a produtividade e competitividade com o exterior; Redução dos juros (usura), que faz o governo se endividar e só quem lucra são os bancos; Controle do câmbio, que tudo que consumimos é cotado em dólar; farinha, combustível, eletrônicos, automóveis, etc.; Olhar para o norte do país, e ao menos minimizar o impacto da seca. Simples não é?... Utópico também.

Eu não voto há 20 anos, e somente vou votar em quem apresentar uma proposta que seja do meu interesse comum, não para privilegiar determinado grupo, ou etnia, ou religião, ou que faça conluio para vantagem própria, e por isso PSDB, PT e PMDB são frutos da mesma moeda, a diferença é que um está no poder há uma década e meia e o outro há 40 anos.  Veja as citações abaixo; ambos dizem a mesma coisa, e qual a diferença? Um é um intelectual o outro um boçal, mas ambos tiveram o mesmo interesse no poder. Álias, todos seguem a mesma cartilha de canalhice e mentira no poder.

"Se os amigos pode se tornar inimigos, os inimigos podem se tornar amigos." - Graduação Asiática - Ensinamentos dos 31 Mestres - Cap. 14

FHC, Dilma, Lula, Sarney, Collor e o Mosca
"Um pensamento ativo é aquele que, baseado em princípios fundamentais constantes, é capaz de reinterpretar a realidade face às mudanças cotidianas de um mundo em ação." - Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso

"Eu não mudei ideologicamente. A vida é que muda. A cabeça tem esse formato justamente para as ideias poderem circular." - Ex-Presidente Lula (2003)*


Bom, eu estou longe dos discursos dos  Lobões e do Ticos SantaCruzes, e da ideologia metamórfica de quem não pega trem nem ônibus, e aliás "nóis é pobre," - apelo para o discurso muito usado quando alguém me chama ainda hoje pra tocar e não quer pagar cachê ou ter desconto em discos. E nessa correlação, em determinado ponto, num almoço me perguntaram; "Mas você já saiu as ruas?"... Mas que c@#@&%, eu desafio você que foi a Paulista, contra ou a favor desse governo medíocre, utilizar o trem da CPTM que sai de Rio Grande da Serra, e pegar ele na estação Santo André (SP) até o Brás as 07h da manhã. São 40 minutos de espera para conseguir entrar em um vagão e ser espremido, ou seja, ainda quer falar de sair as ruas protesto. Trabalhar nessas condições é um protesto. Mulheres reclamarem do assédio é um protesto. E essas condições sub-humanas impostas, sejam pelo PMDB, PT ou PSDB, fazem o povo nas metrópoles e no norte do país sofrerem. Infelizmente não são todos que podem regar protestos entre uma Heiniken ou Stella Artrois na frente da FIESP. "Nóis é pobre" lembra?.. E trabalhamos amanhã (enquanto tivermos emprego).

E o engraçado, ou trágico, é que nós somos um dos países que mais consomem celular na face da terra, e não temos uma marca nacional de aparelho celular. Nós somos um dos países que mais abrigam fábricas automotivas no mundo, e não temos um carro nacional. O cúmulo da burocracia na abertura de uma empresa e tanto, que chega a ser uma missão impossível sustentar um negócio com tanta carga tributária, somada a tarefa inumana de se fechar um negócio nesse país, há não ser pela falência. Mas enquanto isso, somos o país onde todos os principais canais de comunicação pertencem (ainda hoje) a poucas famílias e subfiliadas, mesmo sendo contra a Constituição.


Antes, dizia que deveríamos nos livrar da mentalidade escrava, que deveríamos mudar as concepções de servidão alienada, e deixarmos de nos contentar com as migalhas que caem da mesa da babilônia. Hoje, mudei o raciocínio, e digo que precisamos mudar a mentalidade escravagista da grande massa; banir da nossa educação familiar a soberba imposta de quem come mal, vive mal, estuda mal e trata mal as pessoas - o típico Domingos Jorge Velho; abolir a mentalidade da superioridade europeia (nós não somos europeus), acabar com o melindre de quem se ofende ao se discordar ou ser apontado, das relações e conluio maléficos, e realmente aprimorar a relação de compromisso e responsabilidade - principalmente no "combinado não sai caro". Essas posturas impregnadas do subconsciente em nada melhoraram a nossa vida no decorrer dos últimos 50 anos.

Alguns ainda flutuam na espiritualidade nula, em fábulas com alusão a um céu e um inferno, outros estão tão desinteressados devido ao pingo de dinheiro que  a máquina do sistema faz na sua conta bancária, e ainda dizem #naovaitergolpe. Eu digo que não há golpe, o Supremo diz que é válida a posição, e você poderia ter pedido o impedimento da Presidente, assim como eu, é um direito garantido ao cidadão comum na Constituição de 1988 - Parte 1. Nesse descambo político e fiscal, só se deixa expoente crise de interessados em permanecer ou tomar de assalto o poder.


Nessa Constituição (que 99% das  pessoas que conheço nunca a leram) - até porque é de uma linguagem e complexidade sem precedentes. Além de considerar que essa Constituição dever ser a Parte 1 de uma trilogia; Parte 1 - Direito, Parte 2 - Deveres, e a Parte 3 - Capítulo Final. Não há como ter equilíbrio só com direitos, sem se ter noção de deveres. E o nosso nesse momento, é buscar alternativas a curto e médio prazo para limpar o lixo despejado no nosso futuro. Depende sempre mais de nós mesmos, porque não adianta um povo corruptível, ou suscetível a corrupção reclamar de um sistema corrupto. Porque acredito que todo mundo tem um preço, mas tem quem se vende por bem menos do que se imagina; um seguro desemprego, um bolsa família, um edital... quem sabe né!


Que Allah tenha misericórdia de todos nós. Paz a todos!


* “Nunca antes na história deste país”, de Marcelo Tas, Editora Panda Books.


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segunda-feira, 2 de maio de 2016

REMIXOLOGY: TRACING THE DUB DIASPORA (REVERB) - PAUL SULLIVAN



Em "Remixology: Tracing the Dub Diaspora (Reverb)", o autor Paul Sullivan explora a evolução do Dub; a linha de frente das versões reggae. O Dub é colocado como um conjunto de estratégias e técnicas do de estúdio, junto os primórdios dos formatos da música popular que transformou a ideia do lado de dentro de uma música ser externado, e (o dub) continua longe de ser completamente explorado. Com uma pegada única no (gênero) dance, eletrônica e música popular, o dub fez nascer as noções do remix e das reinterpretações. Preprando o palco para a música do século vinte e um. 


O livro explora as origens do dub nos anos 70 em Kingston, na Jamaica. E traça a evolução do gênero, junto com a atitude presente nos dias de hoje na música. Fazendo paradas em cidades onde (o dub) teve mais impacto; Londres, Berlim, Toronto, Kingston, Briston, Nova Iorque. Sullivan faz um estudo de diversos gêneros, do pos-punk ao dub-techno, do jungle ao onipresente dubstep. No decorrer do livro ele fala com diversos músicos internacionais convidados, como DJs e iluminados do mundo do dub incluindo Scientist, Adrian Sherwood, Channel One, U Roy, Clive Chin, Dennis Bovell, Shut Up And Dance, DJ Spooky, Francois Kevorkian, Mala e Roots Manuva.


O livro amplia e elúcida a respeito de diversos seguimentos paralelos, incluindo a evolução do MC, o nascimento da cultura dos sistemas  de som e a história recente da diáspora jamaicana pós-guerra (II Guerra Mundial). Um dos poucos livros a serem escritos especificamente sobre dub e sua influência global, Remixology é também um dos primeiros a olhar para a relação específica entre dub e o conceito que atravessa todas as disciplinas criativas pós-modernas de hoje: o Remix.


Sobre o Autor:

Paul Sullivan reside em Berlim, é escritor e fotógrafo. Tem trabalhos publicados no "The Guardian", no "The Telegraph", e no "National Geographic." Ele é autor de diversos livros incluindo "Waking Up in Iceland" e "Sullivan's Music Trivia."


REVIEW DO FYADUB:

Se pensa em adquirir o livro pelo título acreditando que vai ler a história do Dub na Jamaica e como ele migrou para a Europa, passou um pouco longe. O livro é ótimo, sem nenhuma dúvida, muito bem escrito e organizado. Ele não sofre com idas e vindas para explicar algo, a continuidade das informações, dos relatos com o número de participantes no livro são verdadeiras pérolas da cultura e da música.

Ele não se concentra em King Tubby, Jammy e Scientist, ele abre espaço para produtores renomados, e outros menos conhecidos mas com trabalhos de grande criatividade e devem ser respeitados. O Dub, como gênero musical é quase que uma pincelada no livro todo, aqui o Dub é considerado técnica de estúdio e ferramenta de criação. São transcritos diversos diálogos de diversos produtores, engenheiros de som de reggae, techno, dubstep, jungle, hip hop (de UK), e todos são apresentados de forma com o objetivo de dizer quais os elementos do Dub aparecem em suas produções, e o ponto de vista de cada sobre a evolução do Dub desde os anos 70 até agora. 

A linguagem é retilínea, mas não é um livro didático que vai dizer como você vai fazer Dub. Agora posso dizer que se seu inglês não estiver afiado, um bom dicionário ao lado faz diferença, mas se já tem um inglês mediano ou avançado, vai ter uma leitura muito tranquila. O livro é muito bem escrito, e a revisão de texto dele é ótima, e não vai precisar se preocupar com o patois. Livro extremamente valioso para quem gosta de música e não se reprimiu somente a um ou dois gêneros musicais.



Remixology: Tracing the Dub Diaspora (Reverb)
Formato: eBook Kindle
Tamanho do arquivo: 1478 KB
Número de páginas: 224 páginas
Editora: Reaktion Books (14 de maio de 2014)
Vendido por: Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda
Idioma: Inglês
ASIN: B00KD8YZX2
Leitura de texto: Habilitado
X-Ray: Não habilitado
Dicas de vocabulário: Não habilitado
Configuração de fonte: Não habilitado

Remixology: Tracing the Dub Diaspora (Reverb)
Capa comum: 263 páginas
Editora: Reaktion Books (15 de abril de 2014)
Idioma: Inglês
ISBN-10: 1780231997
ISBN-13: 978-1780231990
Dimensões do produto: 15,2 x 2,3 x 21 cm
Peso do produto: 381 g
Avaliação:




sexta-feira, 29 de abril de 2016

ABDIAS DO NASCIMENTO - TRECHOS DA INTRODUÇÃO AO LIVRO 'O QUILOMBISMO'



Abdias do Nascimento nasceu em Franca, SP, em 1914, o segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro. Abdias cresce numa família coesa, carinhosa e organizada, porém pobre, e vai se diplomar em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929.

 COMPRE O LIVRO: O quilombismo: Documentos de uma militância Pan-Africanista (Português) Capa comum – 12 março 2019 - por Abdias Nascimento



Com 15 anos, alista-se no exército e vai morar na capital São Paulo. Na década dos 1930, engaja-se na Frente Negra Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938. Funda em 1944 o Teatro Experimental do Negro, entidade que patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46.

A Convenção propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.


À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950.
Militante do antigo PTB, após o golpe de 1964 participa desde o exílio na formação do PDT. Já no Brasil, lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT.

Voltando ao Brasil, Abdias atua com entidades afro-brasileiras. Quando organizam o ato público de 1978 contra o racismo, ainda há um clima de repressão. Enfrentam o desafio e criam o MNU e o Memorial Zumbi, mobilizando os negros em várias regiões do país.

O 3º Congresso de Cultura Negra das Américas dá uma dimensão internacional a essa militância.

Como deputado, Abdias ajudou a levar as posições do movimento negro aos presidentes Tancredo Neves e José Sarney e aos seus ministros. Atua na desapropriação da Serra da Barriga e na questão das comunidades-quilombos. Leva à tribuna federal o questionamento do 13 de maio e a definição do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.

Em 1988, o centenário da abolição coincide com a Assembléia Constituinte, e a repressão policial à manifestação pública do dia 13 de maio, no Rio de Janeiro, contrasta com as vitórias alcançadas na nova Constituição.

O saldo é positivo: a proposta de políticas públicas anti-racistas ganha dimensão, legitimidade e apoio. Vários governos municipais e estaduais instituem assessorias e conselhos de direitos do negro.


Depois de 1988, o movimento negro continua crescendo e conquistando posições. O movimento sindical começa a incorporar essa causa e a representação parlamentar afro-brasileira amplia-se.

Marcos importantes são o Tricentenário da Imortalidade de Zumbi dos Palmares e a 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo.

A marcha a Brasília, em 1995, a criação de um grupo no governo para estudar políticas anti-racistas e o processo de mobilização para a 3ª Conferência Mundial conduzem à adoção de ações afirmativas no próprio governo e em algumas universidades públicas.

O movimento negro ganha força articulando-se com outros no Brasil e no mundo. O governo Lula cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR. O tema do racismo, antes silenciado, ganha outra dimensão de debate na sociedade brasileira.


Na qualidade de primeiro deputado federal afro-brasileiro dedicou seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresentando projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991, 1996-99), continua essa linha de atuação.

O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, é nomeado primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos (1999-2000).

No 2º Congresso de Cultura Negra das Américas (Panamá, 1980), Abdias apresenta sua tese do quilombismo.

Os quilombos são uma das primeiras experiências de liberdade nas Américas. Eles tinham uma estrutura comunitária baseada em valores culturais africanos. Sua organização política era democrática. Seu modelo econômico era o contrário do modelo colonial.

Em vez de produzir um item só para exportação e depender da matriz imperial, tinham uma produção agrícola diversificada que provia seu próprio sustento e mantinham relações de troca e intercâmbio com as populações circundantes.

O quilombismo propõe esse legado como referência básica de uma proposta de mobilização política da população afrodescendente nas Américas com base na sua própria experiência histórica e cultural. Vai mais longe ainda, e articula uma proposta afro-brasileira para o Estado nacional contemporâneo, um Brasil multiétnico e pluricultural.

As medidas e os princípios propostos estão no texto A B C do Quilombismo.



TRECHOS DA INTRODUÇÃO AO LIVRO 'O QUILOMBISMO'

Como os conjuntos de políticas públicas articulados e encaminhados ao Governo pelo movimento negro em dois momentos posteriores - a Marcha Zumbi dos Palmares de 1995 e o processo da 3ª Conferência - , o quilombismo é também herdeiro de um movimento social que, já em 1945, apresentava suas propostas à Assembléia Constituinte encarregada de redemocratizar o país (Nascimento, 1982[1968]).

A singularidade de O quilombismo está no fato de apresentar uma proposta sócio-política para o Brasil, elaborada desde o ponto de vista da população afrodescendente. Num momento em que não se falava ainda em ações afirmativas ou compensatórias, nem se cogitava de políticas públicas voltadas à população negra, o autor deste livro propunha a coletividade afro-brasileira como ator e autor de um elenco de ações e de uma proposta de organização nacional para o Brasil. Assim, sustentava e concretizava a afirmação de que a questão racial é eminentemente uma questão nacional.

O quilombismo antecipa conceitos atuais como multiculturalismo, cujo conteúdo está previsto nos princípios de "igualitarismo democrático (...) compreendido no tocante a sexo, sociedade, religião, política, justiça, educação, cultura, condição racial, situação econômica, enfim, todas as expressões da vida em sociedade;" "igual tratamento de respeito e garantias de culto" para todas as religiões; ensino da história da África, das culturas, civilizações e artes africanas nas escolas.


O ambientalismo também se faz presente, no princípio que "favorece todas as formas de melhoramento ambiental que possam assegurar uma vida saudável para as crianças, as mulheres, os homens, os animais, as criaturas do mar, as plantas, as selvas, as pedras e todas as manifestações da natureza".

A propriedade coletiva da terra, o direito ao trabalho digno e remunerado, a prioridade para a criança, e a possibilidade da "transformação das relações de produção e da sociedade de modo geral por meios não violentos e democráticos" estão entre os princípios humanistas do quilombismo.

O texto antecipa, também, a mais recente inovação na abordagem das relações raciais, que parte do aspecto relacional sugerido pela ótica de gênero. A categoria "gênero" implica relação entre homem e mulher, assim deslocando o foco da tradicional "questão da mulher".

Da mesma forma, para compreender a questão racial é preciso focalizar tanto o privilégio desfrutado pelo branco como as desvantagens sofridas por negros. Já na década dos 1940 e 1950, Abdias e outros intelectuais negros, entre eles o sociólogo Guerreiro Ramos e o advogado Aguinaldo Camargo, vinham criticando o enfoque tradicional brasileiro sobre "o problema do negro".


Atribuem ao escritor Fernando Góes a sugestão, feita numa atitude de fina ironia, de se realizar um Congresso dos negros para estudar o branco. Essa sugestão e suas implicações são retomadas, e dotadas de semelhante carga de ironia crítica, no texto de O quilombismo. Trata-se de mais uma afirmação do racismo como fenômeno relacional mais amplo, profundo e complexo que aquele denotado pela constatação das chamadas "desigualdades raciais".

Nesta obra, merecem um capítulo à parte, além de serem focalizadas em todos os textos, as peripécias específicas da mulher negra, que envolvem aspectos múltiplos e complementares. A questão racial e a de gênero se tecem juntos numa teia que hoje se denomina "interseccionalidade", conceito de certa maneira antecipado no conjunto das obras do autor ao integrar a mulher negra como prioridade temática de sua análise. Mais de uma década antes de instituir-se a reserva de vagas para mulheres nas listas de candidaturas a cargos políticos, constava entre os princípios do quilombismo o seguinte:
12. Em todos os órgãos do Poder do Estado Quilombista - Legislativo, Executivo e Judiciário - a metade dos cargos de confiança, dos cargos eletivos, ou dos cargos por nomeação, deverão, por imperativo constitucional, ser ocupados por mulheres. O mesmo se aplica a todo e qualquer setor ou instituição de serviço público.

O conjunto de textos deste volume vem contribuir para o registro histórico de aspectos pouco divulgados do pan-africanismo, um dos mais importantes fenômenos do século XX. Demonstra também uma continuidade e coerência com assuntos eminentemente contemporâneos, pois reconhecemos nestes ensaios, em particular no ABC e nos Princípios do Quilombismo, a formulação de idéias e polêmicas ainda hoje emergentes.


A atualidade de O quilombismo não se esgota nos temas que apontamos. Creio que cada leitor irá vislumbrar, para além dessas questões, outras talvez mais interessantes.



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